segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Carlos Pegado faz para a Tauromania o balanço da temporada 2009


A Terra Brava tem levado a cabo um trabalho bastante valorizado pelos aficionados que assim têm correspondido com elevadas taxas de adesão aos espectáculos realizados em Évora, Alcácer e Alter, praças geridas por esta empresa.
Fomos falar com o empresário Carlos Pegado para nos fizesse o balanço da temporada que agora acabou.


Tauromania (T) - Este ano a Terra Brava voltou a apostar forte realizando algumas das corridas de maior relevo na temporada. Qual o balanço que faz? Fale-nos um pouco do percurso de cada uma das praças que leva ao longo das últimas temporadas.

Carlos Pegado (CP) - Começo por agradecer o vosso reconhecimento pelo facto de sentirem que a Terra Brava aposta forte.
Com efeito o nosso trabalho vai sempre no sentido de valorizar a qualidade dos espectáculos que apresentamos e tudo é muito cuidado, desde a apresentação da corrida - o cartaz - passando pelo enquadramento do espectáculo, a escolha dos artistas e finalmente dos toiros. Tentando sempre criar aliciantes para o público.
Nas últimas temporadas gerimos as praças de Évora, Alcácer do Sal, Alter do Chão e em Elvas, nos últimos 3 anos, temos levado a efeito uma corrida.
A Praça de Évora tem para mim um relevo especial e sinto-a duma forma diferente. Foi onde organizei a minha primeira corrida, no ano de 1996 - Tourada Real - nessa altura alugando a data à empresa Toiros & Tauromaquia, na pessoa do seu sócio Rogério Amaro (um bom amigo e excelente empresário). Posteriormente no ano 2000 ficámos com a gestão desta importante praça e desde o primeiro dia que percebi que tudo tinha que mudar pois a praça caminhava lentamente para a ruína em termos de edifício. Aí nasceu um longo processo que veio a dar os seus frutos quando tomou posse o Presidente da Câmara Dr. José Ernesto de Oliveira. É uma longa história que teve um feliz desfecho no dia 24 de Junho de 2007, quando reinaugurámos a requalificada Arena d'Évora.
A partir daí tentei transformar uma praça que abria as suas portas apenas duas vezes por ano numa praça de temporada onde se realizam oito espectáculos taurinos actualmente.
Não tem sido fácil, é um trabalho com base na continuidade. O balanço é positivo, mas há sempre muito para fazer e melhorar. Mas uma coisa é certa, hoje os aficionados locais podem orgulhar-se de ter uma praça moderna, confortável e também da seriedade que se vive dentro daquele espaço, que a torna numa praça exigente e entendida e que é uma referência para toureiros, forcados e ganaderos.
Em Alter do Chão estou há dez anos, primeiro com a empresa Aficionar e depois com o meu amigo Jorge de Carvalho, que há quinze anos está ligado a esta praça. É uma praça muito bonita e bem arranjada onde os aficionados aparecem com "sede" de toiros no dia 25 de Abril, Feira de S. Marcos. Apostamos sempre naqueles que mais se destacaram na temporada anterior a par com um bom curro de toiros e o público responde em força.
Desde o ano de 2004 que estamos à frente da Praça de Alcácer do Sal. É uma praça que teve grandes momentos de glória e que ultimamente se encontrava um pouco esquecida do roteiro das corridas importantes. Julgo que conseguimos reconquistar o público e o prestigio desta praça que carrega "só" o nome da maior figura de sempre do toureio a cavalo - Mestre João Branco Núncio. E foi precisamente instituindo um troféu com o nome de João Branco Núncio, que todos os toureiros actuais admiram e respeitam, e utilizando alguns métodos do marketing moderno que recuperámos uma data - a Feira de Outubro - que estava completamente esquecida no calendário taurino.
No renovado Coliseu de Elvas temos levado a efeito, nos últimos 3 anos, uma corrida de toiros.
Aqui é uma situação diferente, pois a gestão pertence à Câmara Municipal. No primeiro ano, a convite do Dr. Mata Cáceres, presidente da câmara de Portalegre, organizámos uma Corrida de Beneficência a favor da Cerci de Portalegre e, pela primeira vez, a lotação deste espaço esgotou completamente. No ano seguinte, a convite do cavaleiro Joaquim Bastinhas, fizemos a corrida comemorativa dos seus 25 Anos de Alternativa, que foi um êxito e que voltou a esgotar. E neste ano voltámos a organizar uma corrida na Feira de S. Mateus, desta vez a convite da Câmara e a praça encheu de novo.
Devo acrescentar que a maior preocupação da nossa parte, enquanto produtores de um espectáculo, é que o público que a ele assistiu saia satisfeito no final. Esse é o nosso objectivo principal. E, graças a Deus, isso já aconteceu muitas vezes.


T - A aposta na seriedade dos toiros tem sido sua imagem de marca desde os tempos da Aficionar. É uma aposta feita porque é assim que entende as Corridas ou isso também se deve ao facto de não termos toureiros taquilleros no nosso país?

CP - O elemento fulcral da tauromaquia é o toiro, sem dúvida nenhuma. Eu sou, antes de tudo um aficionado, depois manifesto e vivo a minha afición de várias formas. Vivo esta paixão pegando toiros, toureando num tentadero, assistindo a uma corrida, tirando umas fotografias de toiros, vivendo dias de campo, até mesmo cantando um fado que fale de toiros. E também dou largas à minha afición organizando espectáculos, que às vezes são mais do que uma corrida de toiros.
Na minha postura enquanto empresário, sinto que a base da Festa é precisamente o toiro. Sem a presença do toiro que imponha seriedade (pode ser manso ou bravo, mas tem que ser sério) o cavaleiro ou o forcado podem estar melhor ou pior, mas com o toiro sério em praça, temos quase sempre uma garantia de que a emoção estará presente. A Festa é feita de risco e emoção que nos é trazida pelo toiro. Os toureiros e forcados deverão provocar no público essa emoção... mas, com arte.
Assim todos têm a sua quota de importância no espectáculo, porém a emoção e o perigo só pode vir do toiro, daí a aposta que fazemos nas ganadarias que em princípio nos dão essas garantias. Algumas vezes não resulta e até nos enganamos nos toiros, ou mesmo nas ganadarias, mas isso já tem mais a ver com o mistério da bravura.
Concluindo: para nós o toiro é o elemento base da corrida de toiros.


T - Como vê a evolução dos jovens cavaleiros que tiraram a alternativa nos últimos 2, 3 anos? Estão no caminho de serem verdadeiras figuras?

CP - Eu desejo e acredito que sim, pois eles são o futuro. Claro que vai acontecer, julgo eu, o que aconteceu noutras épocas, ou seja, haverá só um ou dois que irão ocupar os lugares que todos ambicionam - os primeiros.
O importante é que haja competição forte entre eles. Que se queiram superar em todas as tardes. É isso que alimenta a paixão dos aficionados.
Penso que isso pode vir a acontecer. O que é um facto é que há muitos anos que não apareciam, num reduzido espaço de tempo, tantos jovens a tirar a alternativa e a quererem ser figuras do toureio.
Já isso é muito positivo, é um forte sinal de renovação e de vitalidade da festa.


T - É-lhe feita um pouco a critica de que aposta quase sempre nos mesmos Grupos de Forcados. Este ano deu mesmo um lugar destacado ao Grupo de Montemor, onde pegou, convidando-os a pegar duas corridas de 6 toiros em duas das suas principais praças. Considera esta uma critica justa? Com que critério faz as suas escolhas neste campo?

CP - Aceito todas as criticas, são elas que me ajudam a melhorar e dou-lhes sempre a máxima atenção e importância. Só não aceito a intriga, que nos prejudica a todos.
O critério que utilizo na escolha dos grupos de forcados tem a ver com a zona onde vou dar a corrida e com o momento de forma dos grupos.
O facto de dar alguma primazia na escolha do Grupo de Montemor tem a ver com dois factores que são inegáveis: primeiro é o meu grupo de coração, onde fui forcado muitos anos, e segundo, é um grande Grupo de Forcados em termos de qualidade e de garantias de proporcionar um bom espectáculo.
Mas se olharmos para o meu percurso concluímos que o factor mais importante na escolha é a região. Só para deixar alguns exemplos: em Coruche pegaram os Amadores de Coruche, Vila Franca, etc.; em Santarém pegaram os Amadores de Santarém, Vila Franca, Évora, etc.; em Elvas pegaram os Académicos de Elvas, Évora, etc.; em Alter pegaram os Amadores de Alter, Montemor, etc.; em Reguengos pegaram os Amadores de Montemor, Évora, São Manços, em Évora pegaram Évora, Santarém, Montemor, Vila Franca, Coruche, etc., etc.....
E como gostava de poder dar corridas a todos os Grupos e isso é completamente impossível, criámos um dia que se tornou no dia mais importante e mais bonito para todos aqueles que foram, que são ou querem ser forcados - A Festa do Forcado.


T - Em termos de apoderamentos o Carlos leva o João Moura Caetano. Fale-nos da sua temporada e do balanço que faz da mesma.

CP - O João, muito sinceramente, por circunstâncias várias fez uma temporada muita aquém das suas reais possibilidades.
Depois de tirar a alternativa em 2006, a sua trajectória foi sempre no sentido ascendente. Chegou até a surpreender nalgumas ocasiões pela sua precoce maturidade toureira e por momentos de rara beleza que algumas vezes proporcionou aos aficionados.
No entanto ainda encontro alguma irregularidade, nas suas actuações. Por vezes, coloca o melhor ferro da corrida, mas depois não termina de redondear a faena.
Enfim, o João apenas está no seu início, tem um longo caminho pela sua frente com muito trabalho e dedicação, tem um nome com dois importantes apelidos toureiros, tem o apoio de muita gente e uma estrutura muito boa.
Tem todas as condições para chegar a figura do toureio, assim Deus lhe dê sorte.


T - Quais os principais projectos para 2010? A Terra Brava pensa concorrer a mais Praças?

CP - O principal projecto da Terra Brava para a próxima temporada é unicamente continuar com as mesmas praças mantendo e, se possível, aumentando o seu prestígio. Não pensamos concorrer a mais praças, no entanto se nos aparecer algum projecto viável, estamos sempre prontos para o aceitar, sempre com o máximo profissionalismo.


T - O Carlos é um empresário activo e jovem e é um dos principais dinamizadores da APET. Como está esta Associação empresarial e como vê o papel das Associações na Defesa e Promoção da Festa?

CP - A tauromaquia, ao contrário daquilo que muita gente possa pensar, é um negócio que não é auto-suficiente. Como tal existe um clima de pouca saúde financeira, o que consequentemente vai criar uma vontade quase nula da maioria dos agentes profissionais da festa se preocuparem com os "problemas dos outros".
Na minha opinião, que defendo já há muitos anos e tive oportunidade de apresentar publicamente, no Congresso de Tauromaquia, que teve lugar há alguns anos em Salvaterra, numa tese sobre o associativismo e a criação de uma Federação Portuguesa de Tauromaquia, o "problema dos outros" deverá ser encarado como um problema de todos, porquanto está em causa a sobrevivência da Festa.
Numa altura em que assistimos a uma revitalização da tauromaquia em Portugal - excepto no toureio a pé, o que é pena - em que o público tem aderido com uma força como há uns anos não se via, é da máxima importância que todos reconheçam que a sua quota de responsabilidade tem de ser assumida.


T - No mundo actual a internet tem ganho cada vez maior importância sendo hoje uma ferramenta e um espaço decisivo na vida das empresas e das pessoas. Como analisa a importância da internet na Festa de Toiros e como a utiliza no seu dia-a-dia enquanto empresário e apoderado?

CP - É a uma das minhas principais ferramentas e penso que, a muito curto prazo, será a principal. Ainda está muito sub-aproveitada por todos, mas no futuro será o nosso principal meio de comunicação e divulgação. Consulto diariamente os sites taurinos, sendo da máxima importância para nos mantermos informados. Apenas poderiam, no geral, ter um design mais atractivo.
Aproveitando esta oportunidade queria deixar uma palavra de admiração e imenso respeito pelo vosso trabalho aqui na Tauromania, extensível a todos os sites que fazem a festa mais viva.
É também um trabalho de continuidade...

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