sábado, 10 de abril de 2010

Lisboa: Mestre António e Mestre José!


Está iniciada a temporada 2010 no Campo Pequeno. Quanto a nós em grande, pela qualidade de espectáculo vivenciado em que a arte, emoção e história se juntaram na mesma noite. Aquela em que Portugal disse claramente que quer toiros, quer corridas, ainda não perdeu e está longe de perder a sua identidade. Pois enchente em Lisboa, com corrida televisionada em directo e a iniciar 15 minutos depois de um decisivo jogo do S.L. Benfica, também ele televisionado em canal aberto. Julgamos que dirá tudo. Foi a grande surpresa da noite para nós. E ainda bem!!!

Outra surpresa o facto de o Presidente da C. M. Lisboa acompanhado do Sec. Estado da Cultura, terem dado a cara numa corrida televisionada, a agraciar com a Medalha ao Mérito Municipal Grau Ouro, um interveniente no espectáculo, José Luis Gomes. Sejam bem-vindos senhores políticos, se por bem vierem, não tenham medo de dizer presente e associar imagem á identidade dos cidadãos que vos elegem e do País, a que todos pertencemos. Voltem mais vezes e tragam outros amigos também!!

José Luis Gomes foi o homem da noite, depois da condecoração Municipal e da homenagem prestada pelo Dr. João Borges em nome da SRUCP, saiu á praça o primeiro exemplar da Herdade de Pégoras, cómodo, codicioso, sem comprometer e a mostrar muita bondade, foi o parceiro ideal para a festa, foi pelo seu caminho em direcção a um forcado mandão a recuar e a receber com simplicidade e saber, na sua última pega enquanto forcado no activo. Bonita despedida, seguida do ritual de transmissão de comando, com a passagem de jaqueta a seu sucessor, o filho Pedro e a volta junto das dezenas que se quiseram vestir de forcado e partilhar a noite com o companheiro e cabo. Pela nossa parte rendemos daqui a nossa homenagem e desejamos sorte ao Pedro M. Gomes e a todos os seus comandados, nesta nova fase do Grupo de Forcados Amadores Lisboa.

Que diga-se, começou bem, pois os Pégoras foram de tudo para os forcados, desde matreiros a querer fazer mal e a bater com dureza, como o de Francisco Mira (1ª). Codiciosos, a meio gás e sem complicar demasiado, mas em que os forcados de cara dificultaram a sua missão, casos de Pedro Maria Gomes e João Lucas (ambos à 3ª). E dois Pegões, tal a tenacidade, saber e domínio evidenciados, tirando bem partido dos toiros que tinham por diante, mandaram em tudo o que lhe fizeram, fecharam-se com garra, muita decisão e poder nos derrotes de entrada, para duas viagens de êxito, falamos das pegas à primeira de Gonçalo M. Gomes e Pedro Miranda. Boa noite de festa dos Amadores de Lisboa!

De festa foi a noite de Antonio Ribeiro Telles. Toureou uma barbaridade na arena lisboeta, entendeu os seus dois toiros na perfeição, utilizou critérios distintos em função do que tinha de tourear (e não o toureio ensaiado de casa, se o toiro serve tudo bem se não serve o toiro fica por tourear). Deu a volta aos dois oponentes com sabedoria, respeito pelas regras e pelo público. Destacamos a segunda lide, ante um complicado toiro que procurava a pouco e pouco ganhar terrenos nas reuniões, percebeu cedo por onde o cavalo queria passar, media a mangada e investia brusco e com pata. António, experimentou-o em vários terrenos e formas de lhe provocar a saída, até que lhe encontrou o timing e sítio certos para deixar ao estribo e de alto a baixo, sem um toque na montada e cites e adornos graciosos pela simplicidade e sem exuberância bacoca. Quando o “sorriso de menino traquina que acabou de fazer uma mariolice” lhe rompeu no rosto, foi sinal de que o Pégoras já não tinha segredos para ele, mais dois curtos de antologia e saiu debaixo de ovação, no momento certo e com a noite na mão. Olé Mestre!!

João Salgueiro esteve soberbo a receber e a parar os seus dois toiros, em particular o primeiro, a que propiciou a sua melhor lide. Preocupou-se em dar vantagens, deixar que o toiro crescesse e o ajudasse, conseguiu-o em particular na boa série de curtos com que entusiasmou a bancada, rematados com vistosos ladeios, depois de boas colocações. Nem para números nem adornos a sua segunda lide, não se entendeu com um bravo Pégoras que estava sempre pronto para a luta, que se empregava com raça e nobreza e carregava depois dos ferros com fiereza e picante. Mas faltou a garra de Salgueiro e talvez montadas para aguentar os andamentos do toiro. Foi pena.

Penosa também a passagem do miúdo Hernandez por Lisboa (louvasse o facto de aceitar tourear outros toiros, que não apenas os da “estupidificante soseria murubenha” da moda), o seu primeiro passou-lhe ao lado e o segundo passou ele ao lado do toiro. Faltaram montadas para conseguir ganhar o piton de forma limpa nas reuniões “compridas”, que os toiros tinham, definitivamente “nuestros hermanos” não se entendem com os toiros raçudos e sem rojões. Só quando não quis ir de frente e ganhar o piton chegou ao público, quiebros, palmos em violino e assim deixou a ferragem. O pior (e disso ele não tem culpa), é que foi chamado para duas voltas à arena no final.

Para finalizar deixamos nota de apreço aos critérios correctos de atribuição de música utilizados, pelo Sr. Manuel Jacinto. Apenas e só em função do que realmente merecia, por estar conforme os cânones!! Aí está um exemplo pedagógico para público e não só, assim se valorizam actuações, toureiros, toiros, praças! Foi coadjuvado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva, com embolação a cargo da “dupla” Simões e Alcachão.

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