segunda-feira, 9 de maio de 2011

Vulgar, polémica e acidentada Corrida na Ovibeja

- Praça de Toiros: Varela Crujo, em Beja
- Data: 7 de Maio de 2011, pelas 17 horas
- Empresa: Aplaudir Unipessoal, Lda
- Ganadaria: António Silva
- Cavaleiros: Tito Semedo, Sónia Matias e João Moura Caetano
- Grupos de Forcados: Real G. F. Amadores de Moura, Cascais e Beja capitaneados por Pedro Acabado, Pedro Marques e Manuel Almodôvar, respectivamente.
- Assistência: ½ casa
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico sr. Agostinho Borges, assessorado pelo médico veterinário Dr. Matias Guilherme.

Muitas vezes torna-se difícil escrever o que quer que seja sobre determinadas corridas de toiros, principalmente quando não há muito para dizer sobre o que se passou no que ao toureio diz respeito e muito a contar sobre as “peripécias” que rodearam as actuações de cavaleiros e forcados. Infelizmente é o que vem sucedendo cada vez com mais frequência nas praças de toiros deste nosso Portugal. Nesta tarde, em Beja, numa data tradicional e por ocasião de uma das mais importantes feiras agrícolas nacionais, assistiu-se a pouco toureio, muita polémica e alguns acidentes…

Os toiros, um dos maiores atractivos desta corrida (senão o maior) pertenciam à Ganadaria de António Silva, estavam ferrados com o 8 na espádua e acusaram na balança pesos que oscilaram entre os 500 e os 540 kg. De excelente apresentação e trapio, o seu comportamento foi gravemente afectado pelos intensos e constantes capotazos que logo de início lhes foram ministrados pelos bandarilheiros de serviço, de modo a perderem toda a sua capacidade de investida. Se nuns casos são os ganaderos que seleccionam os toiros de modo a saírem à praça de investida suave, sem apertarem em demasia os cavaleiros e forcados, nesta tarde foram os bandarilheiros de serviço, com a conivência dos cavaleiros, que se encarregaram de o fazer.

Tito Semedo teve duas lides muito irregulares, cravando, quase sempre, em sortes aliviadas, e a cilhas passadas e consentindo toques na montada. Insistiu em terminar com ferros de violino e de palmo, que cravou com alguma dificuldade e de forma ortodoxa, que nada vieram adiantar ao que já havia feito. No último toiro do lote de Sónia Matias só à terceira tentativa conseguiu deixar um ferro de palmo, terminando com outro em que sofreu forte toque na montada. Na primeira lide, após a colocação do primeiro comprido foi colhido, felizmente sem consequências.

Sónia Matias saiu com vontade de fazer as coisas bem, mas a sorte não esteve do seu lado e, após a cravagem do segundo ferro comprido, sofreu uma aparatosa colhida que a levou a ter que ser assistida no hospital, não mais regressando à corrida. E foi aqui que se instalou a polémica… Nos termos do Regulamento, deveria continuar a lide o cavaleiro com alternativa mais antiga, neste caso Tito Semedo. Contudo, alegando que o piso da praça não se encontrava em condições, recusou-se a terminar a lide. Gerou-se enorme confusão, com o director de corrida a mandar recolher o toiro com os forcados do grupo de Cascais a não o permitirem e, contrariando as suas ordens, a saltarem à praça para efectuarem a pega. Após isso os cavaleiros presentes, juntamente com apoderados e subalternos dirigiram-se ao director de corrida invocando o mau estado do piso e pretendendo que o mesmo fosse regularizado, so pena de não continuarem a corrida. Perante estas cenas lamentáveis, que em nada dignificam a tauromaquia nacional, devem deixar-se algumas interrogações: Não terão os cavaleiros e/ou seus apoderados e subalternos o dever de verificar previamente o estado do piso da praça? E a empresa organizadora não tem esse mesmo dever? E o director de corrida?

João Moura Caetano assinou, nesta tarde os melhores momentos na lide do segundo do seu lote. Embora não tendo começado da melhor forma, teve uma lide em crescendo que terminou com um grande ferro, a sesgo, em reunião apertada e com o toiro a sair por cima da garupa do cavalo. Foi, sem sombra de dúvidas, o melhor ferro da tarde. Já nos dois anteriores o cavaleiro tinha estado em bom nível. No seu primeiro andou algo aliviado nas sortes, conduzindo a montada sempre com as duas mãos e consentindo alguns toques.

Os forcados, apesar de terem pela frente os “terroríficos silvas” tiveram uma tarde fácil. Abriu praça o Real Grupo de Forcados Amadores de Moura por intermédio de João Cabrita, que, perante uma viagem ensarilhada do toiro, não reuniu da melhor forma e consumou uma pega sem grandes dificuldades. Para a cara do quarto da ordem saiu Cláudio Pereira que citou de largo, fixando o toiro e embora não reunindo da melhor forma, conseguiu fechar-se, mas as ajudas a tardarem e o forcado a sair com forte derrote. Consumou à segunda tentativa, com o grupo a rectificar e a fechar bem.

O Grupo de Forcados Amadores de Cascais apenas pegou um dos toiros já que no primeiro, em clara desobediência às ordens do director de corrida, cuja autoridade vem sendo posta em causa cada vez mais com mais frequência, efectuou uma pega apressada, sem citar e com o grupo todo em cima. Para pegar o último da corrida e 5º da ordem saltou o forcado Luís Camões que, perante a arrancada pronta do toiro, conseguiu reunir bem, aguentando fortes derrotes, com o grupo a ajudar bem e a consumar uma rija pega, que, no final, viria a ganhar o troféu para a melhor pega. Também aqui, perante os acontecimentos menos dignos que se verificaram e que se vão vendo cada vez com mais frequência nas nossas praças, deixamos algumas perguntas a que urge dar resposta, de modo a que possam ver-se reduzidas ou até completamente eliminadas cenas como as que hoje presenciámos: Não deveria ser seriamente punido quem desobedece às ordens ou instruções do director de corrida? Não deveriam ver-se divulgadas as sanções que são aplicadas nestes casos? Não deveriam a ANGF e a Associação Nacional de Toureiros, perante a passividade de um Regulamento já completamente ultrapassado e que tarda em ser revisto, aplicar sanções acessórias? É que, se não forem tomadas medidas, a anarquia tornar-se-á uma constante nas praças portuguesas (se é que não o é já…).

Pelo Grupo de Forcados Amadores de Beja foram caras o forcado João Fialho, que, com o toiro a sair solto de tábuas, reuniu bem e consumou uma pega sem dificuldades de maior e José Miguel Falcão, que, apesar de não ter mandado na investida e não ter reunido da melhor forma, consumou uma rija pega, com o grupo a ajudar bem.

O Mais e o Menos
+ Nada a registar
- O mau estado do piso e a polémica que se instalou devido a esse facto
- A clara desobediência às ordens do director de corrida por parte do Grupo de Forcados Amadores de Cascais, com cenas que em nada dignificam a Festa.
- As constantes intervenções dos bandarilheiros no decorrer das lides, com a clara intenção de diminuir as faculdades físicas dos toiros

1 comentário:

  1. Os meus parabéns pelo relato exacto, correcto e desapaixonado.

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