domingo, 17 de julho de 2011

Crónica Campo Pequeno - 14 de Julho


FECHADA PARA MANUTENÇÃO

Há muito que ela dava sinais de si. A chave andava perdida, as dobradiças soltas não lhe sustinham o trinco e bastava um suspiro mais profundo para que abrisse as suas ‘asas’ a quem a quisesse cruzar.

Desde o dia em que ‘nasceu’ que a sua sina a confinava a ser problemática. Mas isso…mudou! Por incrível que pareça, a Porta Grande esta semana não abriu. Apareceu finalmente alguém que a meteu no seu lugar – manutenção. Até quando lá vai ficar? Isso depende da cabeça de cada um… ou de uma alteração do regulamento que a ‘comanda’.

Obviamente que a existência desta Porta no Campo Pequeno, pretende distinguir as actuações dos artistas, já que em Portugal, a ausência da corrida integral, impede o corte de troféus como por exemplo na Espanha, sendo por cá a palminha e as banais, exageradas e por vezes aborrecidas voltas à arena, o ‘troféu’ da praxe. Dirá alguém “ah mas lá fora, em muita praça, algumas das actuações vistas no Campo Pequeno seriam dignas de duas orelhas e saída em ombros”. Pois muito certo, mas a grande diferença entre a ‘nossa’ Porta Grande e as orelhas e rabo e saídas em ombros lá fora, é que o Campo Pequeno é a primeira praça do país! Daí, deveria ser mais exigente na concessão de tal feito. Mas como a maioria do público que vai à Praça desconhece o regulamento interno que dita “4 voltas – Porta Grande” e por tudo e por nada há palmas, então é ver a Porta tornar-se pequena de mérito…mas grande de largura, pois tem cabido lá tudo.

Da Corrida de Toiros da passada quinta-feira, no Campo Pequeno, o mais óbvio foi que toiros, não houve! Mansos, desencastados, a grande maioria sem cara (salvo o primeiro e o quinto), pouca ou nenhuma transmissão, os Vinhas condicionaram muito o espectáculo. E podem-se fazer omeletas sem ovos? Se calhar pode, mas não saberá de todo a omeleta.

No fundo, ‘omeletas sensaboronas’ é o que não tem faltado por aí. Sem toiros bravos no verdadeiro conceito da palavra, mas sim um gado bovino ‘telecomandado’, temos assistido nas nossas praças a muitos números que não toureio. Pior, é quando até há quem queira tourear, mas que sem toiros não o possa fazer.

João Moura abriu funções numa corrida que do princípio ao fim ficou pautada pela falta de encaste do curro. Perante um primeiro toiro, com 550 kg, o cavaleiro de Monforte, que na minha opinião este ano tem pautado por um toureio de menos exageros e mais frontalidade, pôs em evidência o que os seus 33 anos de alternativa lhe sustentam. Andou bem desde a preparação à cravagem dos ferros, valendo-se dos ladeios com que rematou as sortes para fixar o toiro na montada. Mas não foi fácil, com a rês cedo a procurar as tábuas Moura não teve provavelmente a actuação desejada. Mas só para terem noção do quão mal andamos nas nossas praças, depois do melhor ferro de João Moura nesta sua actuação, a ovação do público soou mais vibrante e eufórica…quando o animal, devido ao estado do piso, caiu na arena. No segundo toiro do seu lote, com 588 kg, Moura voltou a não ver brilho na sua actuação com mais um animal que nada transmitiu. Sofreu alguns toques iniciais na montada, com a rês a adiantar-se. Depois começou por citar de tábuas, aguentando mas ao consentir demais na abertura do quarteio, a ferragem resultava pescada. Terminou com dois palmitos que não acrescentaram nada à lide.

Rui Fernandes foi a Lisboa moralizado e deu lição de moral a muitos. O seu primeiro toiro, sem cara, com 540 kg, saiu com pata e foi recebido com boa brega. Andou desacertado nos compridos, com um segundo ferro traseiro. Nos curtos a actuação foi assente em quiebros, que pos vezes por serem muito acentuados e expor tanto para fora o toiro, resultavam desajustados, mas a intensidade com que marcava o quiebro e os ladeios e recortes com que rematava, colmatavam a falta de som do animal, levantando as bancadas em euforia. No seu segundo toiro, com 546 kg, bonito, esperou-o à porta gaiola. Rematou o primeiro curto com piruetas na cara da rês que deliciaram as bancadas, mas deixou-se apanhar e ainda sofreu forte toque contra as tábuas. Cedo o toiro se desligou do que fazia o cavaleiro, fechando-se em tábuas. E tudo se passou a basear em quiebros, remates ‘floridos’ e um animal parado. Já no final da actuação, Rui Fernandes teve então o mérito de partindo de tábuas, aguentar, entrar pelos terrenos do animal, realizar um quiebro com batida pronunciada e cravar certeiro para delírio dos ¾ de casa presentes. Não foram duas lides perfeitas, que não foram. Mas foram duas actuações válidas para um cavaleiro que precisa de romper e se afirmar de vez como Figura em Portugal. Mas principalmente, Rui Fernandes foi a Lisboa triunfar para aficionados e não para uma Porta cujo valor há muito que já lá vai, quando tantas passagens pela mesma, a tornaram demasiado vulgar. O cavaleiro, ainda que muito ‘requisitado’ pelas ovações para as segundas voltas, não o fez. É preciso ter-se muita humildade para não se deixar ‘comprar’ por uma Porta Aberta só porque as palminhas pedem. Ter real noção do que se fez na arena, é o 1º passo para se ser Figura…

Tiago Carreiras tinha o peso de partilhar cartel com duas figuras. E isso notou-se um bocado. No seu primeiro toiro, com 560 kg, avacado, não convenceu. Se na brega parecia que levava o toiro por um cordelinho atrás do cavalo, as passagens em falso, o facto de cravar mesmo sem ter o toiro enquadrado na sorte, a precipitação que levou a ferro falhado, o desajuste na cravagem dos ferros, fez com que pouco sobressaísse nesta actuação. No seu segundo, com 590 kg, tentou valer-se do Quirino para convencer. Mas a verdade é que até o Quirino já não é que era. A prova foi quando no momento de ir à cara do toiro para o primeiro curto, o cavalo foge para o piton contrário. Depois lá se recompôs, aliviando-se na ferragem, o terceiro curto ‘traseiríssimo’, fazendo-se luzir nos recortes e ladeios com o Quirino, mas como também não havia toiro para isso, a ‘emoção’ transmitida foi pouca.

Para as pegas veio o distrito de Portalegre a Lisboa, encher as bancadas e dar ambiente de festa a uma noite insonsa. Pelo Grupo de Portalegre foram caras o novo cabo, Ricardo Almeida que quase viu a pega ser desfeita, mas aguentou e consumou ao primeiro intento; Nelson Nabiça que se ‘atirou’ ao toiro e de lá não saiu, aguentando-se muito bem também à primeira. Pelos de Alter, pegou Diogo Bilé à primeira sem problemas; e Elias Santos ao primeiro intento a consumar com o grupo coeso nas ajudas. Pelo grupo de Monforte foram à cara do toiro Fábio Derreado, que numa primeira tentativa o toiro colocou alta a cara e o forcado saiu, tendo consumado ao segundo intento com o primeiro ajuda muito em cima do forcado da cara no momento da reunião; e Rui Espiguinha à primeira, com o toiro a arrancar pronto ao cite, também metendo a cara alta mas com o forcado a aguentar.

Dirigiu sem problemas o sr. Lourenço Luziu, assessorado pelo veterinário Moreira da Silva, numa corrida onde faltou toiro e houve inteligência. Ainda contam anedotas de loiras…

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