quinta-feira, 7 de julho de 2011

Muita Festa, Pouca Festa…

- Praça de Toiros: “Palha Blanco”, Vila Franca de Xira
- Data: 1/07/2010 – Corrida das Tertúlias (Televisionada - RTP)
- Empresa: Tauroleve
- Ganadaria: Vale do Sorraia
- Cavaleiros: António Ribeito Teles, Rui Fernandes e Pedro Salvador
- Forcados: Amadores de Vila Franca de Xira
- Assistência: ¾ casa fracos
- Banda de Música: Ateneu Artístico Vilafranquense

Por ocasião do grande “Colete Encarnado” organizou-se na velhinha e castiça “Palha Blanco” uma corrida de toiros logo na primeira Sexta-Feira de festa, que no papel, como tem sido timbre dos últimos espectáculos organizados pela empresa Tauroleve, tinha tudo para resultar. Toiros sérios e excelentemente apresentados, de uma ganadaria que muito tem triunfado na praça ribeirinha, para três cavaleiros, com diferentes estilos e diferentes posições no “escalafon” e na carreira e dois Grupos de Forcados mais que consagrados. A isto, juntava-se ainda a novidade de esta ser a primeira Corrida das Tertúlias e ter honras de transmissão televisiva, por parte da RTP. A primeira nota que julgamos ser de destaque começa por ser novamente a fraca adesão do público vila-franquense à corrida, tendo em conta especialmente a presença da televisão que deveria ter levado os aficcionados a procurar lotar por completo o tauródromo e transmitir verdadeiramente a imagem de terra de aficción e paixão pelo toiro de que tanto se orgulham. Tal não aconteceu e os ¾ de casa, embora não sendo uma entrada frouxa, estiveram longe do desejado. Nota positiva para a participação das tertúlias de Vila Franca e para a sua excelente resposta em termos de elementos presentes, que, embora no ambiente de festa que as caracteriza, patente especialmente nas voltas de forcados e cavaleiros, souberam respeitar as lides e as pegas, emprestando o seu colorido e alegria aos restantes momentos da corrida. Houve portanto, festa e boa disposição nas bancadas, já na arena a festa foi bem menor…

Abria cartel o maestro António Ribeiro Teles, que andou exactamente nesse plano, em especial no seu primeiro oponente. Este era um manso encastado, com arrancadas extemporâneas e desconcertantes, frente ao qual andou exímio na brega com o “Santarém”, sendo sempre o cavaleiro a levar o toiro para os terrenos por si elegidos e não o contrário. Teria sido particularmente brilhante a primeira tentativa do seu terceiro ferro curto, com uma entrada frontal em terrenos de muito compromisso e o toiro a derrotar forte e alto no momento da reunião cingida, mas infelizmente a bandarilha não ficou, provavelmente devido a embater numa outra já colocada. Ainda assim nota muito positiva para um labor de vontade e entrega, em que “pôde” completamente com o “génio” do Vale do Sorraia. No seu segundo a lide decorreu num tom mais morno, fruto da falta de transmissão do oponente. Recebeu à porta gaiola sem excessivo brilho e os maiores destaques vão para a preparação de um comprido em que o toiro se arrancou de praça a praça, mas em que a reunião foi deficiente, à garupa e com o ferro a não partir e para a brega do terceiro curto, cravado no centro da arena com a verdade e a classe habituais no cavaleiro da Torrinha. Pouco mais pôde fazer ante um adversário que se apagou num sopro.

Rui Fernandes não teve a sua noite e as culpas podem ser repartidas pela metade, entre a falta de entendimento, paciência e “acople” do cavaleiro ao seu primeiro toiro e a total ausência de raça e transmissão do seu segundo. Na actuação inicial andou sem nenhuma alma e cuidado nos compridos, arrancando para os dois primeiros sem o toiro “estar” minimamente com ele e o melhor da sua actuação viveu-se no segundo curto, a “quiebro” e junto às tábuas, que apesar de ligeiramente desajustado, teve emoção e transmitiu ao festivo público. Apercebeu-se disso o cavaleiro e a partir daí acabou-se a história da lide, numa sucessão de quiebros sem nenhum ajuste e transmissão, já que toiro não se prestava minimamente a esse tipo de toureio. Pareceu sair contente Rui Fernandes (acompanhando inclusivamente os forcados do Grupo de Coruche em duas voltas à arena que só eles as mereciam) mas não devia ter razões para isso, pois teve toiro e tem toureio para mais do que demonstrou. Quanto ao seu segundo, nada a apontar, uma vez que o Vale do Sorraia, tinha tanto de magnífico trapio como de absoluto vazio de bravura e codicia. Ainda assim não se absteve novamente de dar uma volta absolutamente imerecida.

Também não andou particularmente feliz Pedro Salvador, que tinha aqui uma oportunidade doirada numa carreira que se tem pautado pela irregularidade. No seu primeiro andou correcto e com vontade de fazer bem, excepção feita a algumas piruetas completamente fora de tom, pois que nem a lide estava para euforias nem foram executadas com o mínimo risco e emoção, mas antes completamente fora dos toiros. Destaca-se pela positiva o terceiro curto, com o ferro a ser cravado como mandam as regras, numa reunião ao estribo em que o toiro derrotou alto, não atemorizando o cavaleiro, que deixou um ferro de muita verdade e consentimento. No último da noite, que à semelhança dos restantes, saiu manso, sem casta ou transmissão, cometeu o mesmo erro do seu companheiro de cartel, usando e abusando de quiebros sem sentido, face às condições do toiro e sem qualquer verdade ou emoção em função da distância a que eram executados. Tal como Rui Fernandes, sem ter dois toiros verdadeiramente bons, esperava-se mais de um cavaleiro do qual sabemos o seu real valor e qualidade.

Os toiros que, tirando o primeiro, revelaram uma total falta de bravura e casta nos cavalos, assumiram o seu habitual comportamento, mais bruto e áspero frente aos forcados e acabaram por colocar dificuldades de distinto grau, resolvidas com maior ou menor brilho pelos valentes das jaquetas às ramagens. Abriu praça por Vila Franca, o cabo Ricardo Castelo, que usou da sua experiência, saber e querer para tornar fácil uma pega em que o toiro entrou muito forte, com o forcado a aguentar a violência da investida inicial, para logo contar com a preciosa ajuda nos companheiros, que não permitiram ao “bruto” a veleidade de fugir e derrotar, como já se preparava para fazer. Destaque para o primeiro-ajuda Bruno Tavares e para o segundo, André Matos. Para o terceiro da função, saltou o igualmente experiente e “rijo” Diogo Pereira “Ruço”, que pareceu não se entender com a investida a choto do descastado “Sorraia”, bem diferente das mais ásperas e duras a que está habituado. Nunca conseguiu verdadeiramente alegrar o toiro e acabou por consumar sem brilho praticamente junto às tábuas até onde tinha recuado, chegando a embater no primeiro-ajuda, ainda antes do contacto com o oponente. Um momento menos feliz de um forcado que já nos proporcionou muitos outros de grande arte e emoção. Encerrou pelos locais o inevitável Márcio Francisco, que se voltou a agarrar à “bomba” com a habitual garra e valentia, sendo secundado por um grupo que não lhe deve nada no que a esses atributos diz respeito: impecável ajuda de lado de Emanuel Matos, com o restante grupo a fechar com o habitual bloco.

Ao Grupo de Coruche, em especial ao forcado da cara Ricardo Dias, pertenceu o momento mais emocionante da noite quando, à segunda tentativa (após uma primeira em que não contou com a colaboração do primeiro-ajuda e saiu combalido), aguentou uma longa viagem do manso junto às tábuas, até o grupo desfeiteado conseguir voltar a fechar. Pega de muito querer e abnegação, que mereceu o entusiasmo de todo o público, exigindo duas voltas à praça a “cara” e “primeiras” (que “pôs a carne no assador” ao segundo intento), que acabaram em duas chamadas aos médios graças à já referida desfaçatez de Rui Fernandes, prejudicando um momento de triunfo que nunca foi seu. Para o quarto da noite saltou Pedro Crispim que não teve tarefa complicada frente á falta de força e casta do oponente que se acobardou assim que se sentiu “podido”. Fechou praça o cabo Amorim Ribeiro, também uns furos abaixo do que já lhe vimos fazer. Pouco vistoso no cite, aguentou estoicamente duas primeiras tentativas com o toiro a derrotar áspero e lateralmente, o que traz sempre complicações acrescidas. A partir daí parece ter-se desorientado, com uma monumental “pianada” ao terceiro intento, com o grupo já completamente de mochila e terminando a sesgo, sem brilho. Deu depois uma demonstração de “verguenza torera” que vai sendo rara pelas nossas praças, tirando no caso dos Grupos de Forcados, recusando-se muito bem a dar volta à arena. Se o exemplo pegasse entre a cavalaria…

Resume-se assim uma noite em que as expectativas estavam bem mais elevadas, nomeadamente mercê do regresso dos imponentes “Sorraias” que na época anterior e na última corrida de Maio tanto espectáculo haviam dado em Vila Franca. Desta vez, as “prendas” estavam muito bonitas, mas só na parte do embrulho, irrepreensível de beleza e apresentação. Lá dentro eram apenas as peúgas e o pijama que a tia costuma dar, deslavados e sem graça como só eles… Sendo quem são, fica-nos a certeza de rapidamente voltarmos a vê-los em todo o seu esplendor, de casta, génio e seriedade! Houve festa nas bancadas e pela noite dentro, mas infelizmente a corrida não será considerada como uma das suas partes essenciais.

O Mais:
A magnífica apresentação do curro
A participação das Tertúlias que ocorreram ao chamamento

O Menos:
A falta de casta e bravura da corrida
O facto de nem para ver a sua praça bem composta na televisão, os “entendidos” de Vila Franca surjam nas bancadas

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