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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Porque será?


Nos últimos anos tenho lido e ouvido as maiores asneiras que alguns, que se julgam donos do conhecimento, tem dito sobre a ANGF e sobre ao que aos Grupos de Forcados diz respeito.

Tenho retido o ruído que se faz sobre a ANGF, percebido o que estes pretendem fazer, que não é mais que, acabarem com a associação para, como faziam anteriormente a esta ter nascido, não cumprirem e não respeitarem a Figurado do Forcado. Não será necessário ser muito inteligente para perceber o que pretendem fazer.

Em todos este anos poucas vezes vim a público escrever ou dizer o que quer que seja, limitei-me a ler e a ouvir, impávido e sereno, as atordoadas de certas pessoas, por lhes darem ou terem meios para opinar, fazem sobre o assunto Forcados/ANGF.

Recentemente, dois empresários tauromáquicos não liquidaram os valores que acordaram e assinaram com os Grupos de Forcados que contrataram para as corridas que realizaram.

Esta situação, e de acordo com os estatutos e regulamento interno da ANGF faz com que os Grupos de Forcados deixem de aceitar pegar para quem não cumpriu com os seus compromissos. A mesma foi dada a conhecer em comunicado que a ANGF emitiu e enviou para os seus associados e, também, que publicou no seu site.

Desde que tal se tornou público verifiquei que, quando se trata de falta de pagamento do acordado e assinado para com os Grupos de Forcados, ninguém quer saber, nada se diz, tudo se omite, tudo se branqueia, todos se calam. Os que não cumpriram com os Forcados tem toda a razão, os Forcados por terem cumprido (pegado os toiros) e não terem recebido os valores para as suas despesas é que não têm razão. É isto realmente que se quer fazer passar.

O mesmo não acontece quando os empresários não cumprem com outros agentes da festa, quer seja com os profissionais, ganaderos, entre outros, e até com o pagamento das publicidades. Muito se diz, muito se escreve principalmente quando os próprios têm interesse em alguns dos valores em causa. Fazem-se ameaças, diz-se e escreve-se tudo e mais alguma coisa, que este deve, que aquele não paga, etc, etc.

O Forcado é amador e, como tal, os valores que os Grupos de Forcados recebem pelas suas actuações, servem para pagar as despesas num dia de corrida, tais como, as despesas de deslocações, as despesas com o hotel/pensão para se fardarem e a despesa do jantar. Se não se cumprir com o pagamento de actuação, como pagam os Grupos de Forcados estas despesas? Ficam a dever???

Na grande maioria, os Grupos de Forcados contam com cerca de 30 a 35 elementos, dos quais se fardam num dia de corrida, 16, 18 ou 20 Forcados, conforme o número de toiros que vão pegar. O valor das despesas serve para garantir a todos estes o que anteriormente foi mencionado.

Além das despesas que um Grupo de Forcados tem num dia de corrida, há outras mais, tais como o custo das jaquetas e o seguro, entre outras. Pouco ou nada que se consegue juntar como poupança e têm de ser os próprios Grupos a criar forma de arranjar verbas para suportar todos os custos.

A verdade é que todos os Forcados de um Grupo suportam, por sua conta e risco, os restantes custos pessoais, tais como, muitas vezes as despesas de deslocação, os calções, meias, sapatos, camisa, gravata, barrete e cinta, etc, etc.

Alguns Grupos de Forcados têm, em nome do Grupo, contratado um seguro de Acidentes Pessoais para os seus elementos. Infelizmente nem todos o podem fazer. Mas será que são os próprios Grupos de Forcados obrigados a ter que fazer o seguro de Acidentes Pessoais para a sua actuação numa corrida de toiros?

Não, a verdade é que, como é obrigatório pelo nº1 do Art.º 5 do DL 306/91, são as empresas tauromáquicas devem fazer os seguros.

Quando acontecem lesões, algumas que até obrigam a Internamento Hospitalar e a recuperação em termos de fisioterapia, quando se verificam Invalidezes dos Forcados e até mesmo a Morte em praça, que infelizmente já se verificou logo no primeiro ano da ANGF, são os Forcados e a família destes que suportam todos os custos respeitantes a estes acontecimentos. Onde andam as empresas? Qual a sua responsabilidade nestes casos? O DL 306/91 é bem explícito, basta saber ler, perceber o que se lê e tirar as devidas ilações.

Recordo-me de dois casos bastante graves que se passaram, em praça, desde que a ANGF começou.
- Na Arruda dos Vinhos faleceu a pegar um toiro o Forcado Pitó.
Havia seguro da empresa? Alguém pagou alguma indemnização à sua família? Quem era a empresa/empresário?

- Em Beja, Simão da Veiga quando ajudava a pegar um toiro é projectado para trás e bate violentamente com a cabeça no estribo de cimento e fica com a Invalidez que todos conhecemos.
Havia seguro da empresa? Alguém pagou alguma indemnização ao Forcado? Quem era a empresa/empresário?
Pelo que sei, foi o seguro do Grupo de Forcados de Montemor que suportou, até ao capital seguro, os custos do Internamento Hospitalar do Simão da Veiga, ficando muito mais valor a cargo da sua família.

Durante estes últimos anos muitos outros Forcados ficaram com Invalidezes para o resto da vida. Alguém pagou alguma coisa? E quem é que deveria pagar as Invalidezes dos Forcados?

Apenas a ANGF suportou os custos com os funerais dos dois Forcados que infelizmente morreram e também, suporta os valores que os Grupos não receberam quando os empresários não pagam.

Para terem uma pequena ideia, um Grupo de Forcados pode receber, como despesas, numa corrida o montante que varia entre os € 400,00 respeitante a um Grupo de 2ª (a) a pegar numa praça de terceira (b) e os € 1.750,00 relativos um grupo de 1ª (a) a pegar numa praça de 1ª (b).

O custo que os Grupos de Forcados têm num orçamento de uma corrida é dos mais baixos, considerando que abaixo deste está o custo com o Cornetim, a Taxa que se paga ao SNTP, os Porteiros, o Embolador e o Bilheteiro, logo a seguir vêm os Forcados.

Não nos podemos esquecer que os Grupos de Forcados são Cabeças de Cartaz.

Quando se fala da ferragem e do teste que a ANGF promoveu em Novembro de 2009, quer aos protótipos dos ferros compridos, quer das bandarilhas curtas de segurança, situação em que todos os envolvidos na tauromaquia acharam por bem serem utilizadas e até mesmo com a respectiva autorização da IGAC para que tal acontecesse, qual a razão das mesmas não serem utilizadas por todos os cavaleiros?

Também muito se fala das Enfermarias das praças de toiros e pouco se acerta.
O Decreto Regulamentar 62/91, trata no seu Art.º 23.º - Posto de Socorros e assistência Médica – identifica tudo o que é obrigatório existir.
Porém há que perguntar, as enfermarias são só para servirem os Forcados? E para os restantes intervenientes nos espectáculo? E para o público?

Sabemos todos que na tauromaquia à portuguesa, os Forcados são aqueles que só não se aleijam por sorte enquanto que todos os outros só se aleijam por azar. Mas terão de ser só os Forcados a preocuparem-se com as enfermarias?

Muito mais havia para dizer, mas ficará certamente para outra oportunidade, resta-me porém colocar as questões a todos os que se interessam pelo o que aos Forcados diz respeito:

A quem é que interessa acabar com a ANGF, aos empresários que cumprem ou aos que não cumprem com os Forcados?

Qual o motivo de não se falar da obrigação de existência de seguros para os Forcados em dia de corrida? E quem é que os tem que subscrever?

Quem eram os empresários das corridas onde aconteceram os mais recentes e trágicos acidentes com Forcados? Algum foi chamada à responsabilidade?

Porque é que não se utilizam já os ferros de segurança (compridos e curtos)?

Será que as enfermarias são só para serem utilizadas pelo Forcados?

Porque é que ninguém fala destes assuntos? Porque será?

Notas:
(a) - Os Grupos de Forcados foram divididos em duas categorias:
Grupo de 1ª – É um Grupo de Forcados que, em média, nos últimos três anos de actividade pegaram mais que 15 corridas.
Grupos de 2ª – É um Grupo de Forcados que, em média, nos últimos três anos de actividade pegaram menos que 15 corridas.

(b) - Praça de 1ª – Praças que levem mais que 5.000 espectadores;
Praça de 2ª – Praça que levem entre os 2.500 e os 5.000 espectadores:
Praça de 3ª – Praças Desmontáveis e as em Alvenaria que levem menos que 2.500 espectadores.

*José Fernando Potier é licenciado em Economia e trabalha no ramo dos seguros como Director-geral da Disegur, uma mediadora de seguros. Foi forcado do Grupo de Coruche e do Grupo de Montemor e é o actual Presidente da Direcção da Associação Nacional de Grupos de Forcados.
jpotier@tauromania.pt

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