quarta-feira, 30 de setembro de 2009

AFICIÓN DE OURO | 50 ANOS DE MESTRIA


Decorria o ano de 1959, quando a 11 de Outubro, a praça de toiros de Saragoça testemunhava a alternativa de José Júlio, apadrinhado por Chicuelo II.

Soaram os clarins...

Nascia o oitavo Matador de Toiros Português!

Foi a confirmação de uma vocação inata, obtida pelo reconhecimento por parte dos críticos e jornalistas taurinos que, desde logo afirmaram que José Júlio nascera para ser toureiro de eleição, com qualidades excepcionais e o que é raro entre aqueles, que se propõem a serem toureiros e que só alguns atingem, aperfeiçoando um estilo, uma personalidade, um cunho próprio.

Reunia no conjunto das suas qualidades artísticas todos os méritos profissionais exigidos para um matador de toiros, méritos que ele foi conquistando desde tenra idade, quando se colocava à frente dos bezerros num estilo que surpreendia pela emoção e por uma arte mágica, típica de quem nasce com o destino traçado, pois a Arte de Montes não se aprende, ela vem já enraizada ainda antes de se saber que se nasceu para ser toureiro.

Vila Franca de Xira foi o berço do seu nascimento, terra que viria a ser apelidada de “terra de toureiros”, graças também ao Maestro José Júlio.

Com uma infância dura, exerceu várias profissões mas foi no toureio que revelou a sua verdadeira missão.

Iniciou o seu toureio com o apoio do vilafranquense, Dr. José Guerra e do espanhol Andrés Gago.

O seu percurso foi de ascensão rápida.

Seguro de si próprio, trilhou um caminho que o colocou na primeira linha do toureio mundial, muito antes da alternativa que havia de receber na cidade de Saragoça em 1959.

Em 1955, veste pela primeira vez, o traje de luzes...Tinha então, dezoito anos de idade.

A história da tauromaquia portuguesa começava a germinar vigorosa e desinibida com a agitação novilheiril da época. O toureio a pé em Portugal fugia à subalternidade.

O sentido de responsabilidade de envergar o traje de luzes estava sempre presente e era com grande dignidade que encarava os espectáculos onde participava.

A sua carreira começa jovem e sempre soube situar-se entre os maiores toureiros portugueses de todos os tempos.

Ao Maestro José Júlio, escreveram-se maravilhosos textos de momentos históricos e de glória, não só em Portugal mas também além fronteiras.

O cronista D. Manuel Vurga, o conhecido De La Veja, escreveu no Correio de Andaluzia, após o debute de novilheiro em Sevilha: Na Maestranza, Sensação de Toureiro

“Tourear bem com o capote um novilho é coisa que muitos toureiros fazem. Fazer uma faena de muleta muito boa, raro é o toureiro que não o faz e até matar bem de vez em quando; Vê-se isto nas praças. Estar em plano de toureiro, desde que faz o passeillo até que o levem em ombros da praça, isso já é outra coisa muito mais difícil que raramente se vê,... e ao toureiro que esteve na praça lhe tributaram grandes ovações, muitas delas de pé e em várias ocasiões a música soou em sua honra. Fez um quite prodigioso com o capote à Verónica e teve de saudar com a montera na mão.

José Júlio encenou uma faena “cumbre”, à base de poder e arte em que os passos a pés juntos com a mão esquerda saem com autêntico sabor sevilhano, pondo a Maestranza ao rubro.

Há petição unânime das duas orelhas e de novo D. Tomaz León se nega a concedê-las, ordenando apenas uma e assim, pela sua teimosia, impede que se abra a Porta do Príncipe.

Adoptivo da terra de Maria Santíssima é uma honra apenas atribuível a quem sabe dar aos passes que executa a graça e o sabor do toureio sevilhano.”

Feira de Sevilha, 1964. Os Miuras ensanguentaram o ruedo da Maestranza

“Uma tarde que era de glória ficou envolta de tragédia. Para ele que só se abriu a porta da Maestranza nesta única corrida houve no primeiro um triunfo grande; Logo uma cornada seca e grande que atravessaria o seu músculo.

Tinha triunfado como disse, dando uma lição de valentia de arte e de pundonor… Que pouco que se fala de pundonor toureiro!

Havia toureado de capote e muleta de maneira excelente, com uma arte extraordinária e tinha consumado a sorte de matar de uma maneira que deixou de assombro a milhares de admiradores. Era a sua tarde, que ao cortar duas orelhas tinha dado duas voltas à praça que aclamava sem parar.

Logo viria o final trágico, que o levou à enfermaria. Abriu este ano a porta da sala de operações quando na realidade havia de ter aberto a do Príncipe para sair em ombros e aclamado. A sua grande tarde ficaria gravada na história.”

António Bellon, Diário Pueblo de Madrid

“O grande silêncio da Feira de Sevilha foi quebrado com a actuação de José Júlio frente aos Miuras, na Maestranza, onde se mostrou a verdade do seu toureio.

O director do Diário Sevilha, numa cerimónia, fez a entrega da Orelha de Ouro que aquele jornal, por consulta ao público, concedeu ao diestro português José Júlio, ao considerá-lo como a figura mais destacada na série de corridas da feira de Sevilha.”

O distinto crítico Sr. Dr. Saraiva Lima, que assistiu à corrida, escreveu na revista Rádio Televisão:

“José Júlio praticou na última corrida de toiros de Sevilha a maior façanha vivida até hoje por um toureiro português em Espanha – a Pátria do toureio e onde ele se executa a sério. E mais! José Júlio alcançou nessa tarde de 28 de Abril o maior triunfo até hoje obtido por qualquer toureiro lusitano. Cortar as duas orelhas a um toiro de Miura em plena feira de Abril, mês em que todos os toiros têm mais força e na Real Maestranza de Sevilha, é a proeza que nenhum toureiro se podia orgulhar, seja ele de que nacionalidade for. Estou mesmo convencido de que jamais se repetiria tal facto. O toiro não era difícil mas tinha o sentido próprio da famosa divisa, que tem no seu activo quase uma dezena de vítimas, entre eles o grande Manolete. Com o seu êxito estrondoso logrado a pulso, numa entrega total da sua arte, da sua decisão, e do seu saber, José Júlio consagrou-se em Sevilha como uma primeira figura do toureio mundial. Eu que sempre o considerei o mais completo toureiro de Portugal congratulo-me por José Júlio ter cumprido os meus vaticínios.”

Praça México, domingo 10 de Janeiro de 1964 – o catedrático em Tauromaquia Pepe Alameda analisou assim o português (in Sol y Sombra).

“Jesus Córdova, Diego Puerta e José Júlio que se apresentaram com uma corrida de LAS HUERTAS. Ciudad do México “

D. Luís Uriarte da Hoja del Lunes de Madrid

Recordo Joselito, El Gallo

“Não é que o tenhamos como termo de comparação mas o novilheiro português José Júlio recordou-nos quinta-feira passada em Las Ventas aquela azana dos quatro pares de bandarilhas al quiebro que Joselito pôs ao toiro Jimenito, de Saltillo no centro do ruedo da praça madrilena de la carretera de Aragon.”

O director do Semanário El Ruedo, D. Manuel Casanova

Uma Orelha que Passará à História

“José Júlio é o único toureiro português que consegue este galardão na Praça Monumental de Madrid.

Na história da tauromaquia de Portugal acaba de se fazer uma inscrição com todo o luxo tipográfico. Pela primeira vez um toureiro português corta uma orelha na mais importante praça de toiros do mundo, a Monumental de Madrid. O toureiro chama-se José Júlio. Portugal lançou-nos aos ruedos do mundo muitos toureiros e alguns chegaram a conquistar a fama e o dinheiro.

Todos passaram pelo ruedo de Las Ventas no entanto nenhum chegou a conquistar este galardão que supõe uma efeméride no toureio português. E foi este rapaz de Vila Franca de Xira, de vinte anos de idade, que na tarde da sua apresentação em Madrid alcançou o troféu.”

Feira de Sevilha, 27 de Abril de 1960

Manuel Murga, do Correio de Andaluzia escreve:

Na Maestranza colhida de José Júlio

“Com superior entrada e muitas mulheres bonitas nas bancadas e barreiras, celebrou-se a segunda corrida oficial da feira sevilhana. O Cartel era composto por António Ordoñez, celeste e ouro, Manolo Vasquez, cinzento e ouro e o português José Júlio, celeste e ouro.

A corrida foi um pouco aborrecida por culpa dos toiros e o valente toureiro português pagou com o seu sangue e valentia a um animal que não merecia outra coisa que morrer no matadouro.

José Júlio, o português deu ontem uma prova do seu pondunor ao permanecer na praça até matar o terceiro toiro, depois de ter sofrido uma cornada no joelho.

Seguiu toureando, dando alguns passes com bastante tranquilidade e depois de uma estocada o matou. Ovacionaram ao toureiro da nação irmã e pelos seus próprios pés foi para a enfermaria.”

23 de Abril de 1961, Feira de Sevilha

D. Luís Boliain, escritor, tratadista de toiros e defensor acérrimo de Juan Belmonte, no diário ABC, de Sevilha

“Na presença do Chefe do Estado da nação o Generalíssimo Franco, a quem brindou a morte de um toiro de Miura, corta-lhe as duas orelhas alcançando um dos maiores triunfos da sua carreira artística.

Poesia, sentimento, arte, beleza, personalidade e valor pôs um toureiro na última corrida da nossa feira de Abril na praça do dourado albero com um toiro de Miura.

Eu proponho, a partir destas colunas, que desde hoje sejas o toureiro adoptivo desta terra, chamada de Maria Santíssima....”

Bom Debute do compatriota de Camões… José Júlio e triunfou

“O lusitano recorda-nos em várias ocasiões Carlos Arruza, especialmente no segundo tércio fazendo uso das suas extraordinárias faculdades.

José Júlio, o diestro português triunfou na Monumental do México.

Com o capote, muito fino, com as bandarilhas, formidável e, com a muleta valoroso e artista. É sem dúvida um toureio para multidões. Que bom toureiro é o lusitano.”



Nas imensas linhas de tinta escritas pelos biógrafos, José Júlio é ímpar, diferente de todos os outros, porque é detentor inato do conhecimento perfeito e secreto, das regras da difícil Arte de Montes. Por isso, em 1960, aquando da confirmação da sua alternativa em Madrid, foi considerado como o toureiro talhado para ser a grande figura dos anos 60.

Chegava o momento de redimir o espírito servo do ambiente do toureio apeado em Portugal; Uma nova constelação estrelada renascia e José Júlio surge nas arenas de tal forma que faz brilhar a esperança taurina.

Grandes multidões o acompanharam, rejubilaram de pé aos seus êxitos estrondosos, que nem duende e a sua magia, gritando...TORERO! Todos se renderam à presença deste toureiro Português.

A sua capacidade de domínio, transparecia de forma delicada no capote feito seda, nas bandarilhas e na muleta, o purismo das regras da tauromaquia, impregnava as suas faenas.

José Júlio toureou Quando e Onde queria; Coloriu praças, sem um único lugar vazio; Cativou e despertou paixões, transbordando e contagiando com a sua arte dentro e fora das arenas.

No dia 5 de Outubro, na feira taurina de Vila Franca de Xira, pelas 17 horas, lidará um toiro da ganadaria Oliveira Irmãos, na corrida de matadores, integrada nas bodas de ouro da sua alternativa.

Sairá em praça com António J. Ferrera, Sanchez Vara e o novilheiro, João Augusto Moura.

Será uma tarde histórica, homenageando um homem que nunca negou a sua forte personalidade, com um poderio artístico ilimitado e uma afición inesgotável; Uma corrida onde se recordará todas aquelas tardes de êxito que o maestro José Júlio fazia vibrar e que deixava os corações mais sensíveis completamente entregues à sua arte.

A festa de toiros em Portugal lembrará sempre esta figura inolvidável que construiu o seu êxito superando obstáculos com mestria, lidando mais de 2.000 toiros, sempre com raça, poder e intuição toureira.







Símbolo taurino, destino traçado

Figura de Portugal, orgulho acalentado.

Um passado reconhecido,

Um presente assíduo,

Um futuro desejado!



Olé Maestro...Enhorabuena!



Dulce Madalena Guarda

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