sábado, 24 de julho de 2010
Também em Lisboa: Montemor é praça cheia!!
O ícone da critica taurina, Américo Saraiva Mendes, foi lembrado pelos ¾ de casa fortes que disseram presente na primeira Praça do País. Uma ganadaria Portuguesa, vinha apagar 60 velas (podia ter sido melhor assinalada, cerimonialmente a efeméride), um Grupo de Forcados propunha-se em repetir a noite de 2009 mais emotiva do Campo Pequeno. Com cavaleiros Portugueses, do naipe dos que não viram a cara às dificuldades e não exigem o “nhoc-nhoc”. Era uma noite da galhardia e raça de Portucalidade.
Diz-se que “nada se repete”, na exactidão talvez não, na essência sim. Vem a propósito da lição do que é um GRUPO DE FORCADOS, a quem não conhecia terá ficado a conhecer, para definitivamente assumir que é muito diferente da “tauromaquia de curral”, com que muitos pseudo-aficionados teimam em classificar, um dos últimos símbolos de um País e de um Povo… o Lusitano!!
Importanta tirar ilações do que viveu o GFA Montemor-o-Novo na noite:
-Entre elementos na Arena: A forma como os forcados se motivavam entre si, constantemente.
-Entre elementos na Arena e elementos não-activos : Nos brindes, nas trocas de olhares a servirem de correio a uma dica, um apoio, uma ajuda, um prémio pelo desempenho, uma dedicatória.
-Entre forcados activos e inactivos e famílias e amigos: Um sector em permanente convívio e a pegar por fora, a sofrer e a festejar como se envergasse, fisicamente, uma única e enorme jaqueta onde cabe uma história, uma trajectória, muitas gerações de forcados, de famílias, de amigos, incluindo a actual que na noite apenas teve a diferença de estar fardada, para repetir o feito de pegar seis Graves, com peso médio de 658 kilos, num intervalo de 602 a 693 na primeira Praça do País e sem dúvida também para os forcados, Campo Pequeno é Campo Pequeno.
Tecnicamente, nem sempre a noite foi perfeita no que toca a forcados de cara, mas a coesão, vontade e raça das ajudas, superaram essas reuniões defeituosas e permitiram cinco pegas à primeira e uma à segunda, com vantagens claras dadas aos toiros e mandar vir de largo na sua maioria. Na prova de que um Grupo funciona com todos e precisa de todos. Em especial com toiros sérios, a empurrar com força, após mangadas de entrada com raça e poder e quase todos tiveram energia e pulmão, apesar do peso, para levar o “bloco” Montemorense a tábuas e depois do esforço dispendido no cavalo.
Os solistas João Tavares, João Cabral (para nós a melhor pega da noite, senão a melhor da temporada lisboeta até agora, sem exagero), Pedro Santos (outra grande pega, à segunda, a um toiro rebrincado de investida, e o menos claro para o forcado), João Caldeira à primeira, João Romão Tavares (outra belíssima pega) e fechou á antiga o cabo, de cadeirinha, José Maria Cortes. Num emotivo e sentido brinde ao seu antecessor, Rodrigo C. Sá, resumiu o que se calhar é a essência do forcado e deve ser a dos Grupos. Disse de forma simples : “Pelo Amigo que és, pelo Cabo que foste, pelo Homem que és”….Dizemos nós: Será que não há duas sem três? Parabéns ao GFA Montemor-o-Novo.
Os Graves saíram a impor respeito, irrepreensivelmente apresentados, foram várias as estampas saídas na noite, dá gosto ver a forma como estavam bem apresentados sem estarem gordos. Talvez por isso, vários chegaram à pega sem abrir boca, com força para empurrar com “muitos pés” e brigar com os forcados. Denotaram nobreza e casta, sentido próprio da ganadaria, sobretudo a defenderem-se nas reuniões para ferro, mas sem querenças óbvias. Ficamos com dúvidas quanto à bravura de um ou outro. Toiros houve que ficaram com muito para dar porque não os deixaram, não lhes deram vantagens e distancia para virem para cima. Houve muito atacar a cavalo e pouco receber. A forma como investiram nos capotes e para as pegas, deixam-nos vontade de os ver a pé. 12 de Agosto neste mesmo cenário. Parabéns ao fundador e seus sucessores e obrigado a este ícone da camada brava nacional, de 60 anos para cá. O País deveria agradecer.
Vitor Ribeiro reencontrou-se finalmente com o Campo Pequeno. Foi o triunfador entre os cavaleiros. Esta noite pode mudar-lhe a temporada de 2010. Duas actuações de acordo com o sítio. Entendeu na perfeição os dois oponentes, esteve por cima dos acontecimentos nas diferentes fases das suas lides. Teve argumentos para contrariar a tendência para se adiantar do seu primeiro, conseguiu vencer-lhe o piton no inicio da lide e cravar de alto baixo quando este queria apoderar-se da situação, “disse-lhe” que ali mandava ele e o toiro entregou-se, a partir daí tivemos o melhor Ribeiro. No seu segundo mais cómodo mas sem emprestar grande brilho e som, esteve “cumbre” a iniciar os sites de largo e depois a cravar de frente e a rodar. Merceu bem as chamadas aos médios. Triunfou em ambos com força, pela via do menos popular e mais toureiro.
Luis Rouxinol, depois de uma primeira lide regular, brinde ao Grupo de Montemor, em que com asseio deixou a ferragem da ordem. Foi no segundo que o vimos a seu ritmo habitual, depois de receber em sorte de gaiola frontal poderosa e emotiva, completa lide a partir do 3º curto excelente, deu a volta ao Grave e levou um êxito consigo, bem guardado para Pegões, incrementado pelo Mustang, na fase em que deixou um violino, palmo e par a duas mãos, provocando o gáudio popular.
Salgueiro da Costa, acusou a corrida com estas figuras e no sítio em que estava. Não se atemorizou com o que o sorteio lhe ditou, o maior lote. Mas a forma de conduzir as lides e algum desacerto a cravar, a par de alguns violentos encontrões, por querer chegar-se a toiros que mediam muito, sem que os cavalos se quarteassem, fizeram com que a noite não fosse a desejada. Gostámos de alguns pormenores de muita importância, em especial no seu primeiro, com os 3º e 4º curtos de nota alta, a vontade de fazer bem feito e pela execução de alguns ferros isolados, sinal de que a intuição, raça e trabalho estão. Venha com tempo a maturidade a este praticante.
Corrida bem dirigida, num hino ao Forcado e ao Toiro-Toiro. Traduzido na apoteose final na arena, com a totalidade dos intervenientes. Pareceu-nos que ali estaria gente a mais, para uma apoteose, conforme o que se passara. Mas o Cabo Cortes quis partilhar com todos a felicidade que seu rosto mostrava…Sempre os forcados a puxar pela festa.
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