Os toiros de Guiomar Moura serviram para tudo. Até para isto, meus senhores... |
51 anos? Quem diria? Parece que o Maestro Moura tem outra vez 16! E o resto são cantigas! |
Ventura encheu a praça, divertiu, empolgou as bancadas - o que se quer mais? E toureou bem, ainda por cima! |
Caetano prometeu e cumpriu: saíu triunfador também, não se limitando a "assistir" do "duelo" dos gigantes! |
Tiago Ribeiro, cabo do Aposento da Moita, um forcado completíssimo! |
A pega de Vasco Pinto, cabo dos Amadores de Alcochete |
Miguel Alvarenga - Praça cheia é pouco. Praça à cunha, foi o que foi, ontem na Monumental do Montijo. Assim dá gosto. A força de Ventura - quer queiram, quer não, é ele quem enche as praças em Portugal. Ainda. A força de Moura, também, claro. O público estava ali para assistir ao 2º "round" do "duelo" que o Maestro de Monforte clara e destacadamente vencera em Junho em Santarém.
Podia - e devia" ter sido a Corrida do Ano. Mas foi apenas "a corrida da semana", mercê da quase nula presença do elemento-base da Festa, o toiro...
Os exemplares de Dª Maria Guiomar Moura defraudaram todas as expectativas. Toiros sem casta, sem presença aceitável para um cartel desta força, demasiado sonsos, demasiado "babosas", demasiado "facilitões". Bem sei que este tipo de "toiro amestrado" permite outro tipo de espectáculo e facilita a arte e os "números" de que o público "actual" tanto gosta. Não me venham dizer que os milhares de espectadores que eu vi de pé, em euforia, a aplaudir os toureiros, eram todos doidos ou não entendem nada disto. Há que perceber que os tempos mudaram. Os "puristas" não gostam. Os "velhos do Restelo" vão protestar e escrever mal. Mas a praça encheu e o público que lá estava vibrou, gostou. Nós, os mais "antigos", podemos alegar que faltou emoção - claro que faltou. Tudo parecia fácil e sem risco com toirinhos daqueles. Mas a verdade, amigos meus, é que nas "outras corridas" só temos cimento à vista e o Montijo ontem foi praça cheia (íssima!). Dá para entender? Talvez dê. Quem quiser que analise de outra forma. Eu analiso assim: dá-se ao povo o que o povo quer e do que o povo gosta. À saída, vi alguns aficionados da velha guarda descontentes. Mas vi o povo satisfeito e sem protestar. Há razões que a razão desconhece e a evolução actual da nossa Festa é uma delas. Que seja o que Deus quiser...
Agora a corrida:
Moura chegou ao Montijo com a garra e a vontade que o caracterizam há mais de trinta anos. Disposto a dizer, entrevistas e cartas abertas àparte, que vinha disposto a pagar o jantar a Ventura. Por mim tinha-o pago, mas no final, com a simplicidade que também é sua característica, disse-me: "Cada um paga o seu, ficou ela por ela...".
No primeiro toiro, sofreu uma queda, por escorregadela do cavalo "Castella", mas isso fez-lhe subir a adrenalina e a casta. Veio por aí acima, como é seu timbre. Deixou bem alta a parada para Ventura.
Mas foi no segundo toiro, quarto da ordem, que João Moura abriu o livro e deu lição. Magistral com o "Merlín", parecia ele que tinha outra vez dezasseis anos. E no final até trouxe um cavalinho que também dá dentadas nos toiros. Como forma de dizer: não sou contra, não senhor (já o dissera na famosa carta aberta), mas também: se querem, eu também faço! Como Solange hoje escreveu no seu site, Moura foi e será sempre o "Special One" do toureio. E o resto hão-de continuar sempre a ser cantiguinhas de embalar.
Eu não sou dos anti-Ventura. O rejoneador luso-espanhol (como lhe costumam chamar, embora tenha nascido em Lisboa) tem um percurso de glória e é um caso no rejoneio. Veio do nada, subiu a corda a pulso, se está onde está é pelo seu valor. Tem a sua Tauromaquia própria. Goste-se ou não, há que a respeitar. Há que respeitar quem, toureando como toureia - e não me digam que é "circo"... - saíu este ano em ombros pela "porta grande" de Madrid duas vezes. Para já não falar de outras "portas grandes".
Ao seu estilo, Diego Ventura empolgou nos dois toiros (o primeiro saíu lesionado e por isso lidou em segundo lugar o sobrero). Pôs a praça em alvoroço. Toureou. Toureou, sim senhor, e bem. Bregou, recriou-se. E fez das suas: ao primeiro toiro, deixou-o na arena com o seu sombrero na cabeça... no segundo, lá trouxe o "Morante" para as inevitáveis - e desejadas pelo público - mordidelas.
Valeu? Valeu, pois. Encheu a praça, "alvoraçou" as gentes, trouxe uma vez mais a diferença. Não gostam? Não vão vê-lo. Há quem goste. E isso viu-se pela praça cheia. Mais comentários? Para quê? Volta dia 2 de Setembro a Portalegre. E a praça enche outra vez. Vai uma aposta? Que melhor podem querer os empresários que um toureiro que, em tempo de crise e apesar da crise, enche as praças? Estamos conversados. Ventura, sempre! Estou contigo, Diego!
João Moura Caetano prometeu e cumpriu: não foi, não senhor, um mero espectador do "duelo" Moura/Ventura. Pelo contrário. Saíu com o seu toureio altamente dignificado desta corrida. Sem alardes, sem euforias, pelo caminho certo, o jovem toureiro, "entalado" num despique de "leões" e numa "guerra" que não era sua, desempenhou o seu papel e triunfou. Moura Caetano está um senhor toureiro, maduro, idóneo, sólido e profundamente artista.
O que fez nos dois toiros, fez bem. Toureou com verdade, procurou pôr emoção com toiros onde isso era praticamente impossível. E conseguiu. Cites frontais, entradas arrojadas, remates artísticos, brega notável, esteve senhor das situações, defendeu com unhas e dentes a honra do seu convento e aproveitou com toda a garra e toda a força esta oportunidade única. Não é todos os dias que um jovem actua numa praça cheia ao lado dos "números-um".
Resumindo e concluindo, meus amigos: foi tudo muito bonito, o público vibrou e divertiu-se, o empresário Bolota arriscou (como é seu timbre) e o pessoal correspondeu, enchendo as bancadas - mas faltou o toiro. Se calhar, também ninguém deu por isso...
Os forcados (Alcochete e Aposento da Moita) brilharam com seis pegas à primeira, sem dificuldades de maior. Foram caras, pelo Grupo de Alcochete, João Pedro Sousa, Nuno Santana (que brindou a Rafael Vilhais) e o valente cabo Vasco Pinto, sem dúvida um dos maiores forcados, senão o maior, da actualidade. Pela Moita (Aposento), pegaram Nuno Inácio, Pedro Brito de Sousa (que brindou ao antigo presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, presente na trincheira) e o não menos valente cabo Tiago Ribeiro (pega brindada a João Pedro Bolota), forcado completíssimo, brilhante a rabejar e a pegar de caras. No geral, os dois grupos estiveram muito bem a ajudar, dignificando, ainda que, insisto, sem "adversários" difíceis, a arte de pegar toiros. Tão nossa.
Um olé aos bandarilheiros, quase sempre esquecidos pelos nossos cronistas. Bem estiveram José Ganhão e Nuno Oliveira (de Moura), Paco Cartagena e Diogo Vicente (de Ventura), Pedro Paulino, Filipe Fernandes e João Fera (de Caetano).
Bem dirigida a corrida pelo antigo bandarilheiro António José Martins, um director competente e aficionado.
E é tudo da nocturna de ontem no Montijo - que muitos comentários vai ainda motivar...
Fotos João Dinis/www.touroeouro.com
Podia - e devia" ter sido a Corrida do Ano. Mas foi apenas "a corrida da semana", mercê da quase nula presença do elemento-base da Festa, o toiro...
Os exemplares de Dª Maria Guiomar Moura defraudaram todas as expectativas. Toiros sem casta, sem presença aceitável para um cartel desta força, demasiado sonsos, demasiado "babosas", demasiado "facilitões". Bem sei que este tipo de "toiro amestrado" permite outro tipo de espectáculo e facilita a arte e os "números" de que o público "actual" tanto gosta. Não me venham dizer que os milhares de espectadores que eu vi de pé, em euforia, a aplaudir os toureiros, eram todos doidos ou não entendem nada disto. Há que perceber que os tempos mudaram. Os "puristas" não gostam. Os "velhos do Restelo" vão protestar e escrever mal. Mas a praça encheu e o público que lá estava vibrou, gostou. Nós, os mais "antigos", podemos alegar que faltou emoção - claro que faltou. Tudo parecia fácil e sem risco com toirinhos daqueles. Mas a verdade, amigos meus, é que nas "outras corridas" só temos cimento à vista e o Montijo ontem foi praça cheia (íssima!). Dá para entender? Talvez dê. Quem quiser que analise de outra forma. Eu analiso assim: dá-se ao povo o que o povo quer e do que o povo gosta. À saída, vi alguns aficionados da velha guarda descontentes. Mas vi o povo satisfeito e sem protestar. Há razões que a razão desconhece e a evolução actual da nossa Festa é uma delas. Que seja o que Deus quiser...
Agora a corrida:
Moura chegou ao Montijo com a garra e a vontade que o caracterizam há mais de trinta anos. Disposto a dizer, entrevistas e cartas abertas àparte, que vinha disposto a pagar o jantar a Ventura. Por mim tinha-o pago, mas no final, com a simplicidade que também é sua característica, disse-me: "Cada um paga o seu, ficou ela por ela...".
No primeiro toiro, sofreu uma queda, por escorregadela do cavalo "Castella", mas isso fez-lhe subir a adrenalina e a casta. Veio por aí acima, como é seu timbre. Deixou bem alta a parada para Ventura.
Mas foi no segundo toiro, quarto da ordem, que João Moura abriu o livro e deu lição. Magistral com o "Merlín", parecia ele que tinha outra vez dezasseis anos. E no final até trouxe um cavalinho que também dá dentadas nos toiros. Como forma de dizer: não sou contra, não senhor (já o dissera na famosa carta aberta), mas também: se querem, eu também faço! Como Solange hoje escreveu no seu site, Moura foi e será sempre o "Special One" do toureio. E o resto hão-de continuar sempre a ser cantiguinhas de embalar.
Eu não sou dos anti-Ventura. O rejoneador luso-espanhol (como lhe costumam chamar, embora tenha nascido em Lisboa) tem um percurso de glória e é um caso no rejoneio. Veio do nada, subiu a corda a pulso, se está onde está é pelo seu valor. Tem a sua Tauromaquia própria. Goste-se ou não, há que a respeitar. Há que respeitar quem, toureando como toureia - e não me digam que é "circo"... - saíu este ano em ombros pela "porta grande" de Madrid duas vezes. Para já não falar de outras "portas grandes".
Ao seu estilo, Diego Ventura empolgou nos dois toiros (o primeiro saíu lesionado e por isso lidou em segundo lugar o sobrero). Pôs a praça em alvoroço. Toureou. Toureou, sim senhor, e bem. Bregou, recriou-se. E fez das suas: ao primeiro toiro, deixou-o na arena com o seu sombrero na cabeça... no segundo, lá trouxe o "Morante" para as inevitáveis - e desejadas pelo público - mordidelas.
Valeu? Valeu, pois. Encheu a praça, "alvoraçou" as gentes, trouxe uma vez mais a diferença. Não gostam? Não vão vê-lo. Há quem goste. E isso viu-se pela praça cheia. Mais comentários? Para quê? Volta dia 2 de Setembro a Portalegre. E a praça enche outra vez. Vai uma aposta? Que melhor podem querer os empresários que um toureiro que, em tempo de crise e apesar da crise, enche as praças? Estamos conversados. Ventura, sempre! Estou contigo, Diego!
João Moura Caetano prometeu e cumpriu: não foi, não senhor, um mero espectador do "duelo" Moura/Ventura. Pelo contrário. Saíu com o seu toureio altamente dignificado desta corrida. Sem alardes, sem euforias, pelo caminho certo, o jovem toureiro, "entalado" num despique de "leões" e numa "guerra" que não era sua, desempenhou o seu papel e triunfou. Moura Caetano está um senhor toureiro, maduro, idóneo, sólido e profundamente artista.
O que fez nos dois toiros, fez bem. Toureou com verdade, procurou pôr emoção com toiros onde isso era praticamente impossível. E conseguiu. Cites frontais, entradas arrojadas, remates artísticos, brega notável, esteve senhor das situações, defendeu com unhas e dentes a honra do seu convento e aproveitou com toda a garra e toda a força esta oportunidade única. Não é todos os dias que um jovem actua numa praça cheia ao lado dos "números-um".
Resumindo e concluindo, meus amigos: foi tudo muito bonito, o público vibrou e divertiu-se, o empresário Bolota arriscou (como é seu timbre) e o pessoal correspondeu, enchendo as bancadas - mas faltou o toiro. Se calhar, também ninguém deu por isso...
Os forcados (Alcochete e Aposento da Moita) brilharam com seis pegas à primeira, sem dificuldades de maior. Foram caras, pelo Grupo de Alcochete, João Pedro Sousa, Nuno Santana (que brindou a Rafael Vilhais) e o valente cabo Vasco Pinto, sem dúvida um dos maiores forcados, senão o maior, da actualidade. Pela Moita (Aposento), pegaram Nuno Inácio, Pedro Brito de Sousa (que brindou ao antigo presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, presente na trincheira) e o não menos valente cabo Tiago Ribeiro (pega brindada a João Pedro Bolota), forcado completíssimo, brilhante a rabejar e a pegar de caras. No geral, os dois grupos estiveram muito bem a ajudar, dignificando, ainda que, insisto, sem "adversários" difíceis, a arte de pegar toiros. Tão nossa.
Um olé aos bandarilheiros, quase sempre esquecidos pelos nossos cronistas. Bem estiveram José Ganhão e Nuno Oliveira (de Moura), Paco Cartagena e Diogo Vicente (de Ventura), Pedro Paulino, Filipe Fernandes e João Fera (de Caetano).
Bem dirigida a corrida pelo antigo bandarilheiro António José Martins, um director competente e aficionado.
E é tudo da nocturna de ontem no Montijo - que muitos comentários vai ainda motivar...
Fotos João Dinis/www.touroeouro.com
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