segunda-feira, 3 de maio de 2010

Vila Franca: Um curro de Vale do Sorraia que valeu a pena ver!


- Praça de Toiros Palha Blanco em Vila Franca de Xira
- Data: Domingo, 2 de Maio de 2010
- Empresa: Tauroleve
- Cavaleiros: Paulo Jorge Santos, João Telles Jr e o praticante João Salgueiro da Costa
- Grupo de Forcados Amadores: Vila Franca de Xira e Alcochete
- Assistência: Meia casa
- Direcção da Corrida: Sr. Delegado Técnico Manuel Jacinto assessorado pelo Médico Veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva
- Banda: Ateneu Artístico Vilafranquense

Num dos fins-de-semana com mais espectáculos da Temporada (Beja, Montemor, Cartaxo, Bencatel) e tendo como aperitivo uma envergonhada e pobre Festa da Leziria e do Cavalo, a castiça praça Palha Blanco “meteu” meia casa para ver a tradicional corrida de Maio, uma entrada até melhor do que tem sido habitual nesta data. Para isso muito contribui o trabalho sério e persistente que a empresa Tauroleve tem levado a cabo e a expectativa sobre o curro de toiros da Ganadaria de encaste português de Vale do Sorraia que se anunciava com peso e trapio e cujo comportamento gera sempre curiosidade.

Não defraudaram os toiros enviados pelo Mestre David Ribeiro Telles para Vila Franca, tendo sido mesmo o maior destaque da tarde. De apresentação irrepreensível, rematados e em tipo, acusaram na balança respectivamente e por ordem de saída 540, 575, 500, 540, 510 e 575 Kilos, tendo sido aplaudidos na entrada em praça o primeiro, segundo e sexto.

Em termos de comportamento foram desiguais, revelando por vezes alguns comportamentos que nos toiros actuais, 99,9% de encaste espanhol, são considerados negativos mas que no encaste português são até típicos como investir com a cara alta ou “resmungar” após a colocação do ferro. No entanto todos se deixaram lidar, mesmo os que mais procuraram as tábuas, pois delas facilmente saíam, e vários vieram a mais durante as suas lides, com destaque para o segundo, que terminou a investir com raça e gana, e o último, que sem ter sido um toiro bravo, foi um toiro importante e que poderia ter sido de triunfo grande. O segundo toiro foi muito aplaudido ao ser recolhido e também o último o merecia ter sido mas grande parte do público abandonou a praça logo a seguir à pega.

No capítulo dos cavaleiros anunciavam-se 3 jovens em fases muito distintas das suas carreiras.

Abriu praça o vila-franquense Paulo Jorge Santos que não ficará com especiais memórias desta tarde. O seu conceito de toureio, fruto do que tem sido a sua carreira, tem influências do actual rejoneo, tão praticado também por cavaleiros nacionais. Não lhe saiu nenhum toiro que permitisse andar a ladear com os toiros ou passar arredondando-se. No primeiro, um toiro que se desligava com facilidade, a lide não teve história. No seu segundo, esteve esforçado e correcto, numa actuação digna mas também ela insonsa.

Em segundo lugar anunciava-se João Telles Jr., um dos jovens com mais capacidades da cavalaria actual e por isso um dos mais promissores. Se houve um triunfador na tarde foi ele, mas na verdade teve duas actuações muito distintas. No seu primeiro, um toiro que veio a mais e terminou em grande plano, pôs três compridos de correcta preparação mas deficiente colocação. Para os curtos veio com maior concentração e, tal como o toiro, a sua lide veio a mais, tendo terminado em grande com destaque para o extraordinário quarto curto, no qual deu vantagens ao toiro deixando-o partir primeiro para depois colocar um emocionante ferro, dos que vale a pena pagar para ver. Seguiu-se um palmo, citando no mesmo terreno, que também foi muito bom mas desta vez partindo o cavaleiro para o toiro.
No quinto toiro da tarde a actuação teve muitas palmas e música mas andou muito longe da primeira… nos compridos voltou a estar desacertado na colocação e depois nos curtos optou por um toureiro muito mais populista e menos sério. Colocou três curtos velozes em que nunca se perfilou com o toiro de frente e depois de trocar novamente de cavalo fechou com um violino e um palmo que o público do Sol aplaudiu muito mas que souberam a pouco. João Telles Jr. tem uma enorme gama de recursos e tem o dom de perceber o público e saber dar-lhe espectáculo mas quando se vê tourear como ele fez ao primeiro não apetece nada vê-lo a tourear como ele fez ao segundo.

Fechou o cartel o praticante João Salgueiro da Costa. Escrevo propositadamente o “praticante” pois embora nos últimos anos haja praticantes que por vezes parecem ter mais destaque que os profissionais (vide os percursos de Moura Jr, João Telles Jr e Tiago Carreiras por exemplo) a verdade é que de um praticante se deve esperar menos, e por isso exigir menos, que a um profissional. No entanto quando são anunciados em igual patamar e os bilhetes custam o mesmo que numa corrida só de profissionais é natural que a exigência seja a mesma.
Salgueiro da Costa mostrou duas coisas boas: humildade (não quis dar volta no seu primeiro e esperou pelo público no seu segundo) e vontade (mostrou determinação mesmo quando as coisas não lhe correram bem), mas alternou isso com coisas menos boas como desacerto na colocação da ferragem, em especial no seu primeiro, muita necessidade da ajuda dos peões de brega, em especial no último, e natural falta de experiência que certamente lhe teria permitido ter um triunfo grande no último da tarde, um toiro sério, que tornava importante tudo o que se lhe fazia, que investia com tudo para os ferros e respondia com “mau feito” após a colocação dos mesmos, causando emoção, esse sentimento que é o mais importante da Festa e que anda tão arredado da maioria das corridas em Portugal. João Salgueiro da Costa não teve esse triunfo importante mas citou de frente e mostrou vontade, méritos que o Delegado Técnico Tauromáquico Manuel Jacinto julgou apenas merecerem música já no quarto curto, o que deixou o pai João Salgueiro visivelmente irritado.

Quanto aos Forcados pegaram em Vila Franca os Amadores da terra e os de Alcochete.

Abriu praça pelos da casa o forcado Márcio Francisco numa pega correcta aproveitando a investida do toiro que partiu sem se deixar colocar. Os ajudas fecharam a pega sem dificuldades de maior.
A terceira pega da tarde, segunda do Grupo de Vila Franca, foi um dos momentos da corrida e foi concretizada à primeira tentativa por Ricardo Patusco, que aguentou uma viagem longa e com muitos derrotes, na qual o toiro foi fugindo ao Grupo. Boa ajuda do veterano Luís Santos.
O quinto da tarde foi pegado pelo jovem forcado Flávio Henriques que também soube aproveitar a investida pronta e sem maldade do Vale do Sorraia que lhe tocou em sorte.
Foi bastante aplaudido, nas três pegas, o rabejador Carlos Silva.

Quanto ao Grupo de Alcochete a tarde foi de extremos. O segundo toiro da tarde foi pegado pelo cabo Vasco Pinto que brindou emocionado ao céu, em memória do forcado do seu Grupo recentemente falecido num acidente de viação. Foi uma exemplar e emocionante. Citou com toreria, mandou vir o toiro, aguentou e recuou com mestria tendo-se fechado com ganas. O toiro embora sem derrotar com maldade tinha força e fugiu ao Grupo que demorou a conseguir fechar aquela que foi uma pega completa e de grande mérito.
Para o quarto da tarde foi o forcado João Pedro. Na primeira tentativa o toiro deu-lhe um derrote violento após a reunião, derrote este que o forcado quase aguentou mas do qual saiu tocado e com pouca vontade de voltar ao toiro. Após um período a “ganhar ar” e perante a persuasão do primeiro ajuda João Rei (não é habitual no Grupo de Alcochete ver um forcado a necessitar de ser persuadido para ir a um toiro), João Pedro voltou à cara do toiro mas fê-lo aparentemente com pouca vontade tendo-se defendido muito no momento da reunião o que inviabilizou a pega. Foi então dobrado com calma, vontade e aparente facilidade pelo cara Nuno Santana.
Para o último toiro da corrida foi o veterano José Miguel Vinagre que pegou à segunda tentativa, bem ajudado, após uma dura primeira tentativa em que não se conseguiu fechar bem tendo sido despachado pelo toiro já dentro do Grupo.

De destacar ainda a actuação dos Campinos “Café” (da casa Ribeiro Telles) e “Janica” (da casa António Silva) que honraram essa figura única do Ribatejo que é o Campino, recolhendo os toiros com rapidez, classe e mestria.

O MAIS E O MENOS DA CORRIDA:

+ A apresentação do curro do Vale do Sorraia
+ O extraordinário quarto curto de João Telles Jr. ao segundo toiro da tarde
+ As grandes pegas de Vasco Pinto e de Ricardo Patusco

- Não podendo ser considerado um ponto negativo fica um único senão para a forma demasiado insistente e demorada como Ricardo Patusco forçou a ida à Praça de João Salgueiro da Costa. A simpatia fica sempre bem mas “obrigar” um toureiro a vir à arena para ouvir “pitos” inverte a boa intenção que com certeza movia o forcado.

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