segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crónica do Montijo


Tarde solarenga e a convidar ir aos toiros este de Domingo 10 de Abril; o Montijo foi o destino escolhido. Uma assistência de público considerável, com meia casa forte em tempos de crise e com um cartel visto e revisto, composto por João Moura, outrora desígnio de casa cheia (outros tempos em que o Maestro de Monforte não toureava tanto pelas desmontáveis de pueblo e triunfava além fronteiras), Luís Rouxinol e Sónia Matias. Pelos grupos de forcados, pegavam os Amadores de Alcochete e o Aposento da Moita, que disputavam entre si um troféu para a melhor pega. Foram lidados 6 toiros de Herdeiros de Cunhal Patrício.

Queria deixar uma nota de alerta aos senhores bandarilheiros: colocar e tourear um toiro não é dar lances de capote mal dados que, em vez de ajudarem os cavaleiros, só prejudicam os toiros que ficam com menos recorrido; ou será esse o fim, ter toiros com menos andamento e recorrido? A modo de exemplo, o primeiro toiro da corrida levou 10, digo 10, lances de capote do bandarilheiro da quadrilha de João Moura na mudança de montada; no fim da lide, antes da pega, esse toiro tinha levado 23 lances!!!! No terceiro, a receita foi a mesma, por tudo e por nada bandarilheiro dentro da praça para colocar o toiro, com a agravante de Sónia Matias ter mudado duas vezes de montada – assim não há toiros que resistam! Há que se pensar os modos como se manejam os capotes e toureiam os toiros; afinal o toureio é ou não uma arte?

O primeiro toiro da corrida foi um bonito negro zaino de 500kg, bem rematado e composto de cara, nobre, alegre ao cite e que mostrou bravura; como disse em cima esse toiro foi muito mal lidado pelos senhores bandarilheiros de serviço. Calhou em sorte a João Moura, que cravou dois compridos vulgares, falhou o primeiro ferro da série dos curtos e andou mais interessado nos ladeios que cravar os ferros com verdade; destaco o quarto ferro, com mais verdade e a deixar vir o toiro pelo seu caminho! No meu ponto de vista, houve mais toiro que cavaleiro.

O quarto foi o toiro mais rematado do conjunto, pesou 530kg, tinha cara e estava muito em tipo da ganadaria, foi mansote, nobre e teve som nas suas investidas suaves e templadas! Um toiro mesmo a jeito do toureio moderno. Moura andou novamente mais interessado na brega do que na cravagem dos ferros, com bonitos ladeios e recortes a aproveitar no corredor das tábuas as suaves investidas do oponente. Quanto aos ferros, a maior parte a cilhas passadas e alguns pescados! Destaco o último ferro de palmo, colocado a toiro parado mas com mais verdade.

Luís Rouxinol lidou em segundo lugar o pior toiro da corrida: um toiro que descaiu para as tábuas e tinha tendência para a porta de curros, também bem apresentado com bom tipo, que acusou na balança 520kg. O cavaleiro de Pegões andou bem nos compridos, colocou um grande ferro curto – o terceiro – a aguentar a investida do toiro para a sua querença, e rematou a lide com um par de bandarilhas.

O quinto, também com 520kg, um bem apresentado exemplar de Cunhal Patrício, foi encastado e teve recorrido, acudindo sempre aos ferros com alegria e nobreza. Rouxinol andou alegre e comunicativo com o público, cravando alguns ferros de boa nota; rematou a sua lide já com o habitual violino, palmo e par a duas mãos, que fazem as delícias do público presente nas nossas praças de toiros!

Sónia Matias é outro fenómeno de popularidade, que comunica muito com o público mas que depois, durante a lide em si, faz poucas coisas dignas de registo. Lidou em terceiro lugar outro bem apresentado toiro de 505kg, que teve pouca força das mãos mas que, mesmo assim, os bandarilheiros da quadrilha da cavaleira não se cansaram de lhe dar lances com o capote, diminuindo ainda mais a sua condição. Nos compridos andou vulgar e nos curtos irregular, cravando algumas vezes ferros pescados e fora da sortes, mas o público quando vê o ferro cravado no morrilho do toiro bate palmas, é a nossa afición!

O sexto da corrida foi o mais pesado – 540kg –, gordo, com menos cara que os irmãos de camada, teve menos recorrido, foi muito nobre e deixou-se lidar sem complicar a vida a ninguém. Sónia Matias falhou o primeiro comprido, o segundo ficou descaído, voltando a falhar o primeiro curto, isto tudo ao som das palmas do público presente! Lide irregular remata ao gosto dos presentes dois violinos, um deles de palmo!

No capítulo das pegas, havia um troféu em disputa, ganho pelo forcado Pedro Brito de Sousa do Aposento da Moita que realizou uma grande pega ao segundo toiro da corrida.

Pelos Amadores de Alcochete foram caras Pedro Viegas à 3ª tentativa, Joaquim Quintela e Fernando Quintela ambos à 1ª tentativa, com destaque para a pega do último.

Pelo Aposento da Moita Pedro Brito Sousa, Tiago Ribeiro (tecnicamente perfeito) e José Courega, todos ao primeiro intento.

O ganadeiro deu volta no sexto toiro da corrida pelo conjunto dos seis exemplares enviados, que se deixaram lidar, apesar de alguns não terem sido aproveitados ao máximo, caso do primeiro.

Depois desta corrida, dei a pensar para comigo que se calhar tourear a cavalo já não é cravar ferros com os toiros a virem de longe, aguentar as suas investidas, com verdade de frente ao estribo como mandam as regras; é ladeios e mais ladeios, recortes, corridas direito ao público a pedirem mais um ferro, pares a duas mãos, violinos e ferros de palmo – Moura quatro palmos, Rouxinol dois pares de bandarilhas, dois palmos e um violino, Sónia Matias um palmo e três violinos. Foi obra!! Dos outros, daqueles que nos fizeram grandes na arte do toureio a cavalo, poucos, muito poucos, ou mesmo só um!

Dirigiu a corrida o Sr. Manuel Jacinto.

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