Tauromania (T) - Diogo, queres contar-nos o que se passou?
Diogo Palha (DP) - sexta-feira, perto das 20h50 recebi um telefonema de um número que desconhecia. Do outro lado do telefone estava o meu primo Francisco Palha que me perguntou se eu conhecia o tal Miguel Soares que tinha escrito a crónica da corrida do Campo Pequeno na Tauromania. Respondi-lhe que sim. Disse-me então o Francisco que eu dissesse ao Miguel Soares que ele não o conhecia de lado nenhum e que por isso considerava uma falta de respeito que ele o tivesse tratado por "Margaça" na dita crónica. Depois acrescentou que também estava muito chateado comigo porque eu lhe tinha faltado ao respeito. Perguntei-lhe porquê, ao que ele respondeu que lhe tinha faltado ao respeito porque tinha assobiado o Ventura na corrida. Eu respondi-lhe que ele estava enganado, que eu paguei o meu bilhete, como sempre fiz, e que por isso não abdico da minha condição de público e do meu direito de aplaudir o que gosto e assobiar o que não gosto. Nessa altura aparece ao telefone a voz do pai do Diego Ventura ameaçando-me fisicamente e ofendendo-me. Nesse momento desliguei o telefone. Não atendi mais as várias chamadas feitas pelo mesmo número, mas o mesmo individuo fez questão de deixar uma mensagem de voz ameaçando-me, ofendendo-me e ofendendo a minha familia. Uma mensagem bastante elucidativa aliás.
T - O que te parece toda esta situação?
DP - Isto tem dois lados. Por um lado, tal como considero que o maior elogio feito ao João Salgueiro nos últimos anos foi o facto do Diego Ventura não querer competir com ele, também considero um elogio para a Tauromania, e para todos os ajudam a fazê-la enquanto espaço aficionado livre e independente, que o pai de uma suposta máxima figura sinta necessidade de ameaçar e ofender um dos sócios da empresa que é dona desse site.
O outro lado é que ao que parece o pai do Diego Ventura acha-se o rei duma selva, como episódios bem recentes em Santarém com o apoderado de João Moura o demonstram. Mas isto não é nenhuma selva e aqui não há nenhum rei. Eu vivo em Portugal, que é um Estado de Direito, e sou aficionado às corridas de toiros, às quais vou pagando a minha entrada, fazendo parte de um público que é soberano, como sempre foi, e que tem o direito a exprimir a sua apreciação. Sempre respeitei o público quando pisei uma arena e enquanto público não prescindo do meu direito de exprimir a minha apreciação: aplaudir o que gosto, assobiar o que não gosto, silenciar o que me é indiferente. Ainda ontem fui aos toiros a Vila Franca e aplaudi o que gostei e assobiei o que não gostei e sempre o irei fazer. Se há individuos que não compreendem isto é porque certamente lhes falta educação taurina ou então é porque estão a mais na Festa.
T - Já uma vez sentiste necessidade de escrever um artigo sobre o direito do público a manifestar-se. Sentes outra vez essa necessidade?
DP - Olha, eu compreendo e aceito que as pessoas não me considerem um aficionado vulgar porque peguei toiros em dois grandes Grupos, fui Cabo durante 3 anos em Vila Franca, sou um dos donos deste site, tenho 5 primos cavaleiros tauromáquicos, 4 familiares ganaderos, uma familia que há mais de 150 anos faz parte da Festa. Mas eu sempre tive uma postura de aficionado vulgar. Se tivesse optado por outro caminho ser-me-ia fácil ter acesso a bilhetes de borla e senhas de trincheira para andar a pressumir. Nunca pedi a ninguém um bilhete ou uma senha. Se alguma vez fui para uma trincheira desfardado foi convidado pelo Cabo do Grupo de Santarém, que convida sempre um ou dois elementos que já não se fardam. Quando vou aos toiros compro o meu bilhete e sento-me no meu lugar. E como pago os meus bilhetes com o suor do meu trabalho, sinto-me no direito de ser publico e de manifestar o que os toureiros me fazem sentir. Se gosto aplaudo de pé, se não gosto assobio. Infelizmente só consigo assobiar com quatro dedos na boca e por isso toda a gente vê quando assobio, mas isso é uma coisa que não posso mudar. Não aplaudo às escondidas, nem assobio às escondidas.
T - Sentes-te pressionado por este acontecimento?
DP - Não, de maneira nenhuma. Aliás, isto é revelador de uma determinada forma de estar na Festa que até fico satisfeito por desmascarar e dar a conhecer ao aficionado comum. Nunca andei metido em brigas, nem andarei, mas não sou um tipo medroso e toda a gente sabe isso. Se fosse não escrevia artigos de opinião como às vezes escrevo. Ser-me-ia muito mais cómodo não o fazer.
Mas logicamente irei na segunda-feira fazer queixa na Policia Judiciária e deixar a gravação da mensagem que o pai do Diego Ventura deixou no meu telefone pois sempre andei por todo o lado e não estou para ser sovado por uns capangas quaisquer sem que as pessoas saibam que há quem me ameace disso, nem estou para que um individuo que não conheço de lado nenhum, e que se não fosse o filho era mais um que aí andava, me ofenda e ofenda a minha familia.
Como disse anteriormente eu vivo num Estado de Direito e num Estado de Direito quando nos ameaçam e ofendem o que fazemos é ir às autoridades competentes e dar conta disso. É o que farei.
T - E achas que isto pressiona a Tauromania?
DP - A Tauromania tem cada vez menos crónicas porque muitos dos amigos desta casa que aqui foram escrevendo, se foram fartando dos "recados" que ouviam e não estão para isso. A escrever crónicas com liberdade e independência é dificil ganhar amigos e se calhar até se perdem alguns. Mas tenho a certeza que se ganha o respeito dos bons aficionados e é para esses que a Tauromania foi feita e existe. Por isso, estou certo que aqueles que escrevem na Tauromania, a quem nunca nenhum de nós sócios pediu para mudarem uma virgula do que haviam escrito, irão continuar a sentir a mesma liberdade para escrever o que quiserem, quando quiserem.
O que se escreve na Tauromania não se vende e há pessoas, como parece ser o caso do pai do Diego Ventura, que têm de perceber que só têm poder sobre aquilo que se pode comprar e vender.
T - És primo do Francisco Palha. Tens pena que isto esteja a acontecer?
DP - Ao contrário do Francisco eu não misturo alhos com bogalhos. Tenho uma familia grande. Mais de 40 primos direitos. O Francisco é só um deles. Tal como ele não se mete na minha vida, eu não me meto na dele. Continuo a desejar-lhe a mesma sorte que desejei num texto que escrevi ontem antes do telefonema que ele me fez. Mas ele escolheu ser toureiro e eu escolhi ser público. E tal como escrevi, como público que paga bilhete, desejo que ele não dê voltas forçadas, mas sim voltas merecidas. Desejo o mesmo de todos, do João Moura, do António Telles, do João Salgueiro, do Pablo, do Ventura ou do Filipe Vinhais, sejam ou não meus primos.
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