O III Encontro Internacional de Escolas Taurinas, uma parceria entre Fundação João Alberto Faria , da Tertúlia "O Piriquita" da Arruda dos Vinhos e a empresa Sociedade do Campo Pequeno SA. Pode saldar-se como um sucesso organizativo, pela forma como tudo correu pelo melhor e artístico, pela forma como as diferentes escolas participantes se apresentaram, sobretudo pelo que foi dado a observar na aula prática de encerramento que decorreu na tarde de Domingo na arena do Campo Pequeno.
A antecede-la e numa interessante conferência, moderada pelo Dr. Paulo Pereira da SRUCP e presidida por Pedro Faria da Fundação J.A.Faria, tiveram os presentes a oportunidade, quase única, de aproveitar a partilha de experiencia de aficionado e critico taurino facilitada por D. José Carlos Arévalo, director da Revista 6Toros6. Se Francisco Morgado fez uma breve resenha cronológica da evolução da crítica taurina em Portugal, com maior incidência nos tempos presentes e no papel, segundo o mesmo, menos abonatório que quem escreve nos sites e blogues, confere á critica, também teve o cuidado de referir que nada o movia contra ninguém e muito respeitava a carolice, dos que hoje alimentam a necessidade de informação da aficcion, e que à distância de um clique a obtêm.
Permitam-nos que recorde que, se muitos deveriam saber mais também se deve à crítica a que tiveram acesso nas últimas duas décadas, exígua e concentrada nas mesmas duas ou três caras, cinco ou seis letras de imprensa e uma ou duas vozes, como poucos que eram mais importantes e responsáveis foram, no ensino dos que então queriam aprender e os seguiam com a maior acuidade e alguns hoje dão largas a essa paixão pela escrita, na auto-estrada da informação. É inegável que órgãos ditos tradicionais, também já foram buscar à internet, os responsáveis por grande parte das suas edições e numa realidade transversal à imprensa taurina, revistas, rádios locais, jornais (inclusive o que o Sr. Francisco Morgado dirige). Em todo o mundo toureiros vetaram críticos, aficionados fugiram da crítica, porque o outro era “Mourista”, aquele era “Caetanista”, este era só Telles, aquele só quer agradar á empresa tal…. O aficionado é que mede e se dá índices elevados de visitas á internet taurina, os agentes da festa, tratam os sites taurinos com a deferência que entendem, geralmente positiva e colaborante, por algo será… Até neste tema Arévalo foi senhor, tudo isto faz falta, é importante que se discuta e se tenha opinião que “ferva o sangue”, tal como na Praça, o aficionado tem a última palavra…ou pelo menos a mais importante…
Por outro lado, e em plano de experiencia de outro universo taurino, José Carlos Arévalo deixou a trave mestra de que bons e maus existem em todas as actividades e também no toureio e em tudo que em seu torno gira. Guardamos como resumo três ilações que são a base a que todos devemos obedecer, escribas, encarteirados ou não, aficionados e publico em geral quando assistimos a uma lide e a analisamos. “ A ruralidade da festa” , hoje vê-se mais a festa no prisma urbano da estandardização e menos no rural do improviso, tendo por base que cada toiro é um toiro, desde que entra é um “aport” de informação inesgotável de informação, que deverá condicionar a lide e só levando tal em linha de conta. se poderá ter uma observação correcta do que se passa na praça. Outro item é a dicotomia público/aficionado, uns vem o que lhes transmite regozijo, alegria, festa, esteja ou não conforme os cânones o que se passa na arena, o segundo procura as mesmas experiencias mas pela via do toureio sério, sem martingalas, sem chegar feito de casa ou condicionado por factores extra-toiro, que podem acontecer durante a lide. A terceira agrega as duas anteriores e que é “o ideal”, que o espectáculo resulte para ambos tipos de espectadores e que quem o relata o faça na “pele” de ambos, se assim não for, que o faça na pele do segundo (aficionado), mas sabendo porque o faz.
Toda uma cátedra em apenas pouco mais de uma hora. Não foi por isso de estranhar o facto de, ter sido o único visado pelas questões, no lotadíssimo salão nobre do Campo Pequeno e onde decanos e novatos, marcaram presença e decerto saíram a pedir mais….Que tal pensarmos nisso….Obrigado Sr. Arévalo. Obrigado à organização.
A Aula Prática de Toureio aberta ao público, que seguiu, não trouxe mais de um quarto de lotação, menos mal que tínhamos muitos miúdos (nota para o silencio registado, sinal de que a atenção a tudo o que passava na arena era superior à irrequietude infantil). Mas de facto é muito particular a aficion que temos neste Portugal das Toiradas, é mais o público que o aficionado, se duvidas haviam…. E sabe que mais caro amigo, que não pode lá estar, perdeu um grande espectáculo, assistiram-se a lides muito interessantes, por diversos momentos quase a lembrar a solidão de um tentadero onde a arte brota na naturalidade do toureio sério, os “cachopos”, como alguém dizia na bancada, encheram-se de brio e quiseram mostrar o melhor das diferente e notórias fazes de evolução, de certo que em todos mandava a ilusão de tourear na primeira Praça Portuguesa, talvez maior que a ilusão que levam outros que lá vão mais amiúde e são mais velhos. Não vamos aqui escalpelizar em pormenor as actuações, dado que cada novilho foi lidado pelos alunos de cada escola presentes, dizer apenas que gostamos da maior evolução (também os mais velhos), dos alunos das escolas de Madrid e Arles, sentiu-se muita escola e apronto até, em alguns para debutar com picadores. A entrega das restantes, da Fundação El Juli, de Sevilha e o misto das Portuguesas e a graciosidade e valentia a fechar com chave de oiro dos mais jovens, da escola de Aguascalientes (México) e de João Marujo Silva que não poderiam ter fechado melhor um evento para o futuro. De propósito deixamos para o final o elogio maior, para o jogo dado pelos erales de S. Torcato, jorraram classe na arena lisboeta, alguns como primeiro e terceiro de uma nobreza enorme e outros que apontaram a falta de um “varita”, com a qual teriam confiado e dado mais luz ao trasteio, dos ainda pouco experientes diestros. Justíssima a chamada do Sr. Joaquim Alves á arena no final.
Apenas uma nota para futuras aulas e tendo por base o facto de o público ser em boa parte curioso e havido de conhecimentos, o comentário durante as lides, no sentido formativo e por quem sabe faze-lo, pode acrescentar muito a este tipo de iniciativas e conferir mais entorno ao mesmo…. e aos aficionados….
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