segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Muito público numa entretida corrida mista em Santarém

- Praça de Toiros: Monumental Celestino Graça em Santarém

- Data: 18 de Setembro de 2010, pelas 22 Horas
- Empresa: Aplaudir
- Ganadarias: António Silva, Casa Prudêncio, Manuel Veiga e Núncio
- Cavaleiros: Manuel Telles Bastos e Duarte Pinto
- Matador: Luis Vital "Procuna"
- Grupo de Forcados: Amadores de Santarém e Vila Franca capitaneados por Diogo Sepúlveda e Ricardo Castelo
- Assistência: perto de meia casa
- Delegado da IGAC: Delegado Técnico Tauromáquico Sr. César Marinho

Foto de: Gabinete de Imprensa de Luis Vital Procuna

Corrida mista, fora de data, dois jovens cavaleiros que toureiam bem mas que são pouco mediáticos, um matador português honrado mas que pouco toureia, toiros de várias ganadarias em final de temporada... pareciam muitos condimentos juntos para que este cartel não metesse gente, no entanto a dimensão da Celestino Graça e o esforço da empresa Aplaudir têm permitido praticar preços baixos que são muito atractivos. Afinal que entretenimento com a duração de 3 horas custa menos de 5 ou 10 euros? Nem mesmo ficar numa esplanada sem fazer nada custa tão pouco e por isso as pessoas movidas pela afición que com certeza também mora no seu coração vão aos toiros e este cartel que numa qualquer outra praça estaria condenado a meter 1/4 de casa em Santarém levou cerca de 5.000 pessoas, gente que chegaria para esgotar 90% das Praças portuguesas.

Abriu a corrida Manuel Telles Bastos diante de um toiro de António Silva que pesou 490 Kilos e estava muito bem apresentado, rematado e com trapio embora não tivesse muita cara. O jovem cavaleiro da Torrinha pratica um toureio no qual o toiro tem de colocar a sua parte para que haja emoção nos encontros. Tal não sucedeu e diante de um toiro apenas colaborante a lide de Manuel Bastos ficou por apontamentos reveladores de classe, sim senhor, mas muito longe de arrebatar alguém.

Seguiu-se Duarte Pinto que tem em Santarém uma praça talismã pois aqui tem tido saborosos triunfos. O seu primeiro toiro, da Casa Prudêncio, era um toiro fora de tipo, alto, cariavacado, escorrido. Revelou muitos sinais de mansidão desligando-se das sortes mas permitiu alguns bons momentos ao cavaleiro de Paço d'Arcos pois curiosamente havia muito toiro no momento do ferro. Depois de estar bem nos compridos Duarte Pinto apresentou uma lide pausada mas demasiado desligada do público.

Na parte apeada apresentava-se Luis Vital "Procuna" e o que aconteceu em Santarém no terceiro da tarde foi bom. Hoje com os fáceis acessos a Espanha e com a TV por Cabo a transmitir corridas das melhores feiras do país vizinho nós portugueses tendemos a desvalorizar, ainda mais, o toureio apeado que por cá se realiza. É verdade que com cornos arranjados, sem varas e sem morte o toureio apeado em Portugal é uma caricatura mas também é verdade que ainda assim pode divertir, até entusiasmar, e ser do agrado do público. Não veremos o melhor de Morante, Ponce ou Juli, não teremos a seriedade de Madrid, Sevilha ou Bilbau, mas podemos ter os melhores momentos de uma noite de toiros como sucedeu em Santarém.

O primeiro toiro de pé de Manuel Veiga, excelentemente apresentado para lidar a pé, foi um toiro bravo e que permitiu bons momentos a Procuna. Recebeu com uma série de Verónicas de fino recorte rematadas com uma excelente média, seguida de outra mais vulgar. Num segundo quite gostou-se por Navarras, rematadas com uma gaonera e um farol que foram premiadas com muitas palmas. Seguiu-se o tercio de bandarilhas onde Procuna pode ombrear com qualquer um tal a capacidade fisica e o sitio que revela. Depois de um primeiro par pela esquerda, mais discreto, colocou um a quiebro, com muito valor e um terceiro no qual rematou a sorte recortando-se diante do toiro até este parar e poder realizar-se um desplante. Levantou a praça.
Na muleta Luis Vital "Procuna" não é tão bom mas ainda assim o toiro Veiga proporcionou-lhe uma faena cheia de bons momentos, sobretudo com a mão direita. As primeiras séries foram de toureio verdadeiro para depois, mais em cima do toiro, lhe aplicar um toureio mais "tremendista" e popular. A faena prolongou-se um pouco demais mas divertiu bastante o público.

Na segunda parte a Manuel Bastos tocou-lhe um toiro de Manuel Veiga muito manso e totalmente desinteressado dos cavalos e do cavaleiro. Também Manuel Bastos se revelou desinteressado do toiro e por isso assistimos a uma lide sem pena nem glória no qual o melhor ferro acabou por ser um excelente palmo com que fechou a actuação.

A Duarte Pinto tocou-lhe então um toiro Nuncio, alto, bem apresentado, que foi um toiro de triunfo pois acometia ao cite com alegria e prontidão. Duarte Pinto aplicou-lhe um toureio do seu agrado pois a cada ferro via-se que o cavaleiro estava satisfeito com a sua prestação. Há que dizer que a mesma foi boa mas faltou qualquer coisa para que o público se ligasse ao toureiro pois a lide teve pouca emoção e foi desligada embora, sobretudo nos curtos, tenham existido vários bons momentos. Havia toiro para triunfo grande mas ninguém saiu da praça a falar de um triunfo grande... foi pena.

Fechou a corrida novamente Luis Procuna. Este seu toiro, também de Manuel Veiga, nada tinha a ver com o primeiro. Ainda assim Procuna andou variado com o capote revelando a sua grande facilidade e voltou a maravilhar nas bandarilhas pondo a praça de pé quando fechou este tércio com um violino, sorte que embora seja muito "impostora" é do agrado do grande público. Seguiu-se um momento de apuro... quando ia brindar ao público no centro da arena o toiro investiu com Procuna sem que os bandarilheiros o conseguissem fixar. Depois de um primeiro cambio que resultou o toiro voltou novamente a investir e aí o matador escorregou tendo sofrido uma aparatosa colhida que o diminuiu fisicamente. Depois de alguns momentos a recuperar iniciou a sua lide de muleta na qual revelou muito oficio e serenidade, sobretudo para um toureiro que poucas oportunidades tem. Toureou com ambas as mãos mas o toiro cedo começou a ficar curto com pouco recorrido. Ainda assim Procuna conquistou o público sobretudo quando aplicou um toureio encimista, de mais valor que arte.

O publico valorizou muito as actuações de Procuna tanto que foi passeado em ombros debaixo de muitos aplausos.

No capitulo das pegas a noite foi de triunfo para os Amadores de Vila Franca e de menos sorte para os de Santarém.

Abriu praça António Imaginário que esteve muito bem a citar e a alegrar a investida do toiro. Reuniu mal, apenas ficando agarrado com um braço mas durante a viagem, revelando capacidade e querer, conseguiu emendar-se. Pena que os ajudas tenham chegado tarde e a pega não se tenha consumado. Na segunda tentativa voltou estar bem diante do toiro, desta vez conseguindo uma boa reunião, e foi bem ajudado, sobretudo pelo primeiro ajuda Manuel Lopo de Carvalho, concretizando uma boa pega.
Fechou a actuação dos escalabitanos o forcado Joaquim Pedro Torres que diante de um toiro que não queria investir para o forcado com este a menos de meio metro dele, revelou uma enorme valentia e presença de espirito para pisar terrenos onde o compromisso é total. Logicamente o toiro investia completamente apoiado e protestava com violência quando metia a cara pelo que desfeiteou o forcado nas duas primeiras tentativas. Na terceira, já com Manuel Quintela como primeiro ajuda, a substituir o lesionado Pedro Soares, os de Santarém fecharam a pega.

O Grupo de Vila Franca por seu lado aproveitou da melhor maneira as boas condições dos seus dois toiros e realizou duas bonitas pegas, sendo a segunda uma pega de muita classe.
Pegou primeiro Rui Graça que aproveitou muito bem a pronta investida do Prudêncio. Aguentou o suficiente, recuou bem e agarrou-se com vontade numa viagem que foi bonita e bem ajudada. Realce para uma boa segunda de Luis Santos.
Fechou a corrida Rui Godinho que fez uma pega de grande qualidade, não pela dureza que não existiu, mas pela categoria com que fez tudo diante do toiro. Mostrou-se com calma, carregou bem e quando quis, proporcionando uma arrancada vibrante do toiro, aguentou e recuou para reunir de forma impecável e fazer uma viagem bonita na cara do toiro que foi bem parado pelos ajudas.

O MAIS E O MENOS DA CORRIDA:
+ A presença de público na Celestino Graça
+ A prestação de Luis Vital Procuna e o primeiro toiro de pé de Manuel Veiga

- A duração da corrida (4 horas) com um intervalo demasiado longo e muito tempo para alisamento da arena e colocação dos burladeros para a parte apeada

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