Para esta grande entrevista feita ao empresário Paulo Pessoa de Carvalho lançámos aos nossos visitantes o desafio de colocarem eles próprios algumas questões. Aqui seguem essas perguntas e respostas:
PERGUNTA DE PEDRO FIGUEIREDO (GRACIOSA)
Como empresário sente-se com força para decidir quais os toiros a incluir numa corrida e conseguir que as figuras os aceitem tourear, nomeadamente as consideradas por muita gente as maiores figuras da actualidade ou tem que se sujeitar aos toiros que estas querem tourear?
PPC – Sinto-me com força para decidir na generalidade das vezes no entanto se eu só pensar na componente “toiro” sujeito-me a não contar com todos os toureiros. Por norma eu não faço “braço de ferro”, se me interessa um cartel tento, com uma conversa bipartida, que se chegue a uma solução para que esse cartel aconteça.
Dou um exemplo concreto: Na corrida do passado dia 1 de Novembro no Cartaxo eu tive dificuldades porque o rejoneador Leonardo Hernandez não quis tourear uma série de toiros. Neste caso eu queria muito apresentar aquele cartel (ndr: mano-a-mano Salgueiro-Hernandez) e aceitei acertar os toiros depois de ter acertado os cavaleiros e aqui tive complicações. Embora soubesse que iria ter limitações, não imaginei que iria encontrar tantas limitações. Em certa fase quase tive vontade de deixar cair o cartel e decidir então em função dos toiros. Não o fiz porque achei que tinha conseguido encontrar um patamar em que o interesse do toureiro ainda permitia que o interesse do aficionado continuasse defendido. É um exemplo de um caso em que eu não tive “força” para fazer exactamente o que queria mas eu não vejo uma negociação como uma luta a ver quem tem mais força e nas minhas organizações sou eu que tenho a última palavra. Se a determinada altura o interesse de um toureiro não é conciliável com o meu interesse, esse toureiro cai do cartel. Mas isto não me acontece muito. Há toureiros que levantam mais problemas que outros, mas esses eu na maior parte das vezes não os contrato.
Tauromania – Mas ser figura do toureio dá certamente esse estatuto de poder negociar?
PPC – Naturalmente que sim. Eu até valorizo uma Figura do toureio que pergunta o que vai tourear e está preocupada com os toiros no sentido de que proporcionem um bom espectáculo. Mas também há pseudo-figuras que até abusam de um estatuto que nem sequer têm. Sobretudo jovens que andam aqui há pouco tempo.
Tauromania – É um bom exemplo esse do Cartaxo e que se pode aplicar bastantes vezes, de se ter uma figura do toureiro com mais de vinte anos de alternativa que toureia o que sair pela porta e ter um jovem que tem de idade esses mesmos vinte anos e coloca muitas exigências.
PPC – Claro que é um bom exemplo. O João Salgueiro toureia tudo. O máximo que me diz, se puder optar é “Paulo se puderes escolhe a A em vez da B” mas se tiver ser a B ele toureia na mesma. Isto para mim é um toureiro com mais valor que outros que colocam muito mais restricções. E como o João Salgueiro há mais toureiros assim. Depois há outros que não só querem escolher a ganadaria como até querem escolher os toiros.
PERGUNTA DE VITOR TEIXEIRA SANTOS
Recomendaria a actividade de empresário taurino a um amigo?
PPC – Isto de ser empresário taurino tem muitas coisas em que é um privilégio. Repare alguém para quem ir ver toiros ao campo é estar a trabalhar, não é uma maravilha?
Mas por outro lado é uma actividade de um enorme risco e cada vez há menos condições suficientes para se ser empresário. Olhando apenas os euros, eu nos últimos dois anos não recomendo a um amigo meu que seja empresário. Olhando para a função, é uma actividade que tem imensas coisas gratificantes. Mas em termos de negocio até eu próprio me interrogo muitas vezes se irei continuar a ser empresário.
PERGUNTA DE NUNO VINHAIS
Quais são os seus principais critérios para escolher um Grupo de Forcados para incluir num cartel?
PPC – O principal critério é a amizade. No entanto há que explicar que eu só sou amigo de Grupos com qualidade por isso eu posso colocar como primeiro critério a amizade pois não colide com a qualidade do espectáculo, antes pelo contrário, é um garante de qualidade.
Tauromania – Num tempo em que se ouve tanto falar de Grupos que compram bilhetes e angariam publicidade, esse é um critério pouco comercial.
PPC – Eu nunca tive nenhum Grupo que me viesse oferecer euros para pegar. Já tive de escolher grupos por influências, porque um a Autarquia gostava muito que fosse este ou aquele, ou porque o Director da empresa que patrocina até pegou em tal Grupo. Isto não me parece mal. Até já pedi a Grupos que na sua terra pusessem bilhetes à venda, nalguns sítios até se vendeu bem, noutros não se vendeu nada. Agora como antigo forcado eu até acho degradante, e não estou disponível para isso, que a razão da escolha de um Grupo seja o seu compromisso de vender bilhetes ou arranjar publicidade. Até aconselho os Cabos desses Grupos a abrirem agências de bilhetes e que sejam comissionistas de publicidade pois se eles são contratados não porque são bons a pegar toiros mas sim porque são bons a vender bilhetes, para que é que têm um Grupo de Forcados em vez duma Agência?
PERGUNTA DE NUNO VINHAIS
Quando o seu filho Pedro crescer, se quiser ser Forcado, gostava mais que ele pegasse no Grupo de Montemor ou das Caldas da Rainha?
PPC – Nunca pensei nisso… não vou fazer pressão nenhuma para que o meu filho Pedro seja Forcado. Ele actualmente gosta é de jogar à bola e nisso é que ele podia ser um craque. Mas respondendo à pergunta: gostava que ele pegasse onde tivesse os seus amigos. Naturalmente que o meu coração pende para o Grupo de Montemor mas também desejo que o Grupo das Caldas possa crescer e afirmar-se e que venha a ser um Grupo grande. Mas a resposta é que ele pegue onde gostar mais, onde tiver os amigos dele.
PERGUNTA DE ANTÓNIO MARQUES
Acha que a PRÓ-TOIRO, da qual faz parte via Associação de Empresários, nasceu pelo telhado?
PPC – É uma boa pergunta e compreensível. Acho que a PRÓ-TOIRO podia ter nascido de forma mais estruturada. A verdade é que na Festa somos quase todos um pouco desorganizados, em especial as Associações. Faço a minha parte de “mea culpa” em relação à APET. É curioso mas a Associação que está mais atenta e mais desperta para o fenomeno da Defesa da Festa é a Associação de Forcados, a única constituida por amadores, mas que é a que está melhor estruturada e melhor funciona. Todos os outros temos de nos consciencializar da importância de Defender e Promover a Festa com profissionalismo pois os nossos inimigos, sendo muito menos do que nós, conseguem ter muito mais visibilidade e impacto que nós. Um bom exemplo é o que aconteceu em Santarém na jornada da Defesa da Festa. Conseguiu-se algo quase inalcansável, 50.000 pessoas em dois dias, mas depois isso não foi noticia em lado nenhum... nenhuma televisão, nenhum jornal nacional...
A PRÓ-TOIRO tem de ser o motivo para deixarmos de olhar para o nosso umbigo e olharmos mais à nossa volta e percebermos que se não nos unimos e não nos organizamos então qualquer dia, quando baterem ainda com mais força à nossa porta, nós não vamos estar aptos para nos defendermos. Por isso a PRÓ-TOIRO é urgente e por isso ainda bem que nasceu, mesmo que pudesse ter nascido melhor.
Temos de conseguir fazer um bloco, ver mais além do que vemos no nosso pequeno mundo, temos de estar despertos.
A PRÓ-TOIRO tem de existir para cumprir um papel de Promoção e de Garantia da continuidade da Festa. E obviamente que nisto têm de participar todos: os toureiros, os ganadeiros, os forcados, os aficionados através das tertúlias e, obviamente, as empresas.
Peço que os aficionados dêem um voto de confiança à PRÓ-TOIRO pois a sua existência é fundamental mesmo que neste primeiro ano as coisas não tenham aparecido estruturadas da forma que é necessário que venham a estar no futuro.
A TAUROMANIA agradece aos visitantes que participaram com estas perguntas e agradece também a Paulo Pessoa de Carvalho por nos ter recebido, desejando que a temporada de 2011 seja de sucesso empresarial, começando já no próximo dia 12 de Fevereiro em Vinhais.
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