Tauromania (T) – Pedro, qual o balanço que fazes a esta tua primeira temporada como Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa?
Pedro Maria Gomes (PMG) – Em termos das actuações do Grupo foi uma temporada boa com um sinal negativo que foi o número de corridas – o objectivo era fazermos 20 e fizemos 16 – e o número de lesões que não foram graves mas foram muitas. Em relação a mim como Cabo, acho que correu bem. Naturalmente apareceram algumas situações difíceis e outras inesperadas mas no cômputo geral acho que correu bem.
T – Depois do José Luis Gomes ter sido Cabo tantos anos e de ainda por cima ser teu Pai, tem-te sido fácil marcar o teu próprio espaço?
PMG – Tem, penso que sim. Sempre tentei marcar a minha personalidade, ser eu próprio, mesmo antes de ser Cabo. Todos já me conheciam, sabiam qual a minha maneira de lidar com eles… claro que como Cabo é sempre diferente mas acho que tenho conseguido marcar a minha personalidade.
T – Os aficionados, sobretudo os mais velhos, guardam um certo saudosismo do Grupo de Lisboa dos tempos áureos do Nuno Salvação Barreto. Achas que esta tem sido uma herança pesada de mais?
PMG – Não sei se será… talvez… é claro que é uma herança. Creio que na altura em que o meu Pai agarrou no Grupo o Grupo passava um momento mau e o trabalho dele foi reergue-lo coisa que conseguiu. Penso que o Grupo de Lisboa ainda não voltou a atingir o esplendor que teve nessa época áurea do Nuno Salvação Barreto. Não sei explicar porquê mas uma das razões está certamente no facto do Grupo nessa altura, até porque o próprio Nuno era empresário e chegou a dirigir 17 Praças de Toiros, fazer muitas corridas. Tinha muitas corridas e correspondia, não era só ter as corridas… mas é claro que eram muitas mais oportunidades para se mostrar e para estar rodado.
T – Achas que esse ponto menos positivo de que me falavas do Grupo ter tido apenas 16 corridas faz diferença no aspecto da qualidade?
PMG – O objectivo das 20 corridas não era só por fazer as 20 ou por alcançar um determinado número. O objectivo de ter as 20 corridas é porque o Grupo actual é muito grande e com mais de 30 elementos e apenas 16 corridas é difícil rodar toda a gente e fazer novos forcados. Por isso eu gostava de ter atingido esse objectivo de fazer mais corridas.
T – Com a quantidade de Grupos que hoje existe isso torna-se ainda mais difícil. Achas que há Grupos a mais?
PMG – É, é muito difícil. Para mim é um exagero o número de Grupos que existe tendo em conta as corridas que há. Cada terra tem um Grupo e por poucas corridas que façam acabam por tirar corridas aos Grupos que já existiam.
T – Mas então se o Grupo de Lisboa com 16 corridas sente que isso pode ser um handicap em termos de qualidade para ter a qualidade desejada em todos os elementos, se um Grupo fizer só 4 ou 5 a qualidade é quase impossível, não?
PMG – Sim, é impossível, impossível.
T – É voz corrente que há Grupos de Forcados que para arranjarem corridas angariam publicidade ou ajudam a vender bilhetes para as corridas em que actuam. O que achas disto?
PMG – Acho mal e acho desonesto, sobretudo se isso for a razão pela qual esse grupo faz essa corrida. Uma coisa é num determinado dia, como nos aconteceu este ano no dia da mudança de cabo, o Grupo mediante o interesse dos seus amigos e antigos elementos, reservar um conjunto de bilhetes para essa corrida, bilhetes esses que são pagos com o dinheiro dessas pessoas. Mas se o que se passa é o Grupo ter de comprar bilhetes para depois os vender e andar a vender à porta das praças como já vimos acontecer, isso acho muito mal. E acho igualmente mal e desonesto andar a arranjar patrocínios.
T – O facto da Praça da terra do Grupo de Lisboa ser uma Praça nacional e ser a primeira Praça do país é benéfico ou prejudicial para o Grupo de Lisboa? Pergunto-te isto sobretudo em comparação com outros Grupos que têm na Praça da sua terra um verdadeiro feudo.
PMG – É prejudicial. Para nós é prejudicial. Felizmente ou infelizmente somos de Lisboa mas a praça de Toiros do Campo Pequeno é como o Estádio Nacional, é de todos mas não é de ninguém. Nós é claro que gostávamos de ter a nossa corrida, à imagem do que quase todos os Grupos têm, a sua corrida na sua terra, em que o Grupo pega os 6 toiros e tem naquele dia um dia especial. Nós não temos.
T – Achas que este ano que passou, com a despedida do José Luis Gomes e o Grupo a pegar 6 Toiros em Lisboa, não pode ser o inicio dessa dita “corrida especial em que o Grupo da terra pega os 6 toiros”?
PMG – Acho que sim. Acho que não era nenhum favor que se fazia ao Grupo de Lisboa e acho que toda a gente compreenderia que existisse essa corrida porque isso seria igualar o Grupo ao que acontece aos outros Grupos nas suas terras.
T – Actualmente há um conjunto de Grupos comandados por Cabos novos que além de Cabos são excelentes Forcados e actuam muito. Achas que é importante para o Grupo ter um Cabo que actua?
PMG – Acho que é bom que o Cabo possa dar o exemplo. No entanto nem sempre o Cabo é o melhor forcado do Grupo e por isso penso que o Cabo deve dar sobretudo o exemplo tomando as melhores decisões. Se em determinado momento o Cabo entende que há forcados com mais e melhores condições que ele para fazerem determinada função a melhor decisão é colocar esses elementos a fazê-lo. Há exemplos de óptimos Cabos que não eram Forcados muito activos.
T – Quais é que são os maiores desafios que achas que se deparam aos Grupos hoje em dia no que à pega diz respeito?
PMG - Acho que a preparação física conta muito. Mas é claro que a capacidade psicológica também conta muito. Hoje em dia, e já vem de há uns tempos, há esta mania dos toiros ao Kilo e embora nós saibamos que tanto pode fazer mal um toiro com 450 Kilos como pode fazer um toiro com 650 Kilos, a verdade é que a parte emocional ganha muita importância e pode até contar mais que a capacidade física.
T – Vi, através do vosso Blog que o Grupo tem organizado actividades no defeso como o passeio a cavalo e uma caçada às lebres. É importante para o Grupo manter actividade mesmo no defeso?
PMG – Sim. É uma forma de nos juntarmos e de juntar os antigos elementos e as famílias. São oportunidades de convívio, tal como é o Jantar de Natal e os mais antigos têm correspondido.
T – Quais é que são as tuas expectativas para esta nova temporada?
PMG – Não sei se com esta “crise” haverá ou não redução do número de espectáculos. Espero que não. Mas de qualquer forma, mesmo tendo em conta a crise, eu vou tentar que o Grupo de Lisboa faça mais corridas que em 2010.
T – Quando começam a treinar?
PMG – Em principio é já no próximo dia 22, se o tempo deixar.
T – Os ganaderos continuam a ter abertura para receber os Grupos de Forcados, mesmo sendo tantos?
PMG – Sim, sim, felizmente. O anterior Cabo não era muito apologista de fazer muitos treinos, mas eu pretendo fazer mais treinos do que era costume. Já no ano passado fizemos mais e quero continuar assim.
T – E corridas? Já há algumas marcadas?
PMG – Já, algumas que ficaram apalavradas do ano passado. Neste momento são umas 5 mas ainda é cedo para saber como vai ser a temporada.
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