sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Concurso de pegas com poucas pegas no Campo Pequeno
- Praça de Toiros: Campo Pequeno, em Lisboa
- Data: 19 de Agosto de 2010, pelas 22.00 horas
- Empresa: Sociedade do Campo Pequeno, SA
- Ganadarias: Manuel Coimbra
- Cavaleiros: Sónia Matias, António Maria Brito Paes, Paulo Jorge Santos, Manuel Ribeiro Telles Bastos, Duarte Pinto e José Luís Rodriguez, que tomava a alternativa
- Grupo de Forcados: Forcados Amadores de Mazatlán (México), Alter do Chão e Beja, capitaneados por J. Rene Tirado, João José Saramago e Manuel Almodôvar, respectivamente.
- Assistência: ¾ de casa
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico sr. Lourenço Luzio, assessorado pelo médico veterinário Dr. Matias Guilherme.
Quando há cada vez mais cavaleiros portugueses a tirar a alternativa (pela primeiras vez uns e outros depois de a tirarem em Portugal) em Espanha, eis que da Venezuela vem o exemplo de um cavaleiro que sente a importância de se vir doutorar na pátria e na catedral do toureio a cavalo. Um olé para esta atitude!
Para além da alternativa de Jose Luis Rodriguez, outro atractivo existia em mais uma corrida de verão no Campo Pequeno: o concurso de pegas, com a participação de um grupo de forcados do México, que na época passada veio a Portugal fazer inveja a muitos dos grupos que por cá andam. Nota de interesse para a presença, também pela primeira vez no Campo Pequeno, do refundado Grupo de Forcados Amadores de Beja.
Os toiros vieram da Ganadaria de Manuel Coimbra, estavam bem apresentados e com trapio, com excepção do primeiro, com pouca cara e do terceiro, algo escorrido e não rematado. Ferrados com o 6 na espádua, apresentaram pesos que oscilaram entre os 510 e os 598 Kg. Em termos de comportamento foram reservados, mas cumpriram na generalidade.
José Luís Rodriguez, a quem a sua madrinha de alternativa cedeu o primeiro exemplar, não nos pareceu preparado para prova a que se submetia. A cravar ferros sem citar correctamente, em sortes muito aliviadas, com a montada atravessada nas reuniões, com ferros “pescados” e de colocação defeituosa, não esteve em noite inspirada o Nobel cavaleiro venezuelano, muito por baixo do astado que lhe tocou em sorte.
Sónia Matias teve uma lide de mais a menos. Iniciou com dois ferros compridos de nota positiva e continuou com dois curtos de igual nota, lidando com intencionalidade, colocando o oponente em sorte com critério e cravando de frente, mesmo que as reuniões pudessem ser mais ajustadas. Após o segundo ferros curto, falhou a colocação do seguinte e depois perdeu-se nos “números” das piruetas e dos violinos e palmos que nenhuma mais-valia trazem às suas lides. Nota negativa para as demasiadas intervenções dos bandarilheiros, que o público consente sem protestos de maior.
António Maria Brito Paes perdeu-se na preocupação do acessório em detrimento do principal. Lidou com vistosidade, levando o toiro embebido no cavalo, em ladeios apertados, com o cavalo a tirar-se bem ao toiro, mas esqueceu-se um pouco do momento principal, com os ferros a serem colocados à garupa ou em quarteios pouco ajustados. Salvaram-se os dois ferros compridos com que iniciou a lide e o ferro de palmo com que a encerrou, este em reunião um pouco mais cingida. Também nesta lide houve intervenções a mais do bandarilheiro de serviço.
Paulo Jorge Santos apresentou uma lide discreta, sem grandes alardes, mas também sem ponta de emoção nas sortes. A mexer pouco no toiro e deixando a ferragem em reuniões cada vez mais aliviadas, destacou-se, pela positiva, o quinto e último ferro curto, colocado a sesgo e com reunião mais apertada.
Manuel Telles Bastos assinou bons momentos de toureio, talvez os melhores desta noite, mas não conseguiu romper para uma grande lide. Iniciou com três tiras de correcta execução, pese embora um pouco dispersas. Mudou de montada e, com a elegância que se lhe conhece, colocou três ferros curtos de nota positiva, com destaque para o terceiro, um muito bom ferro, em sorte frontal e ajustada. A partir daí o toiro começou a apresentar mais dificuldades, defendendo-se no momento de cravar e o cavaleiro não lhe conseguiu dar a volta por cima, saindo em plano regular.
Duarte Pinto não começou da melhor forma a sua actuação, falhando o primeiro comprido, mas corrigiu com duas tiras correctas na sua execução. Nos curtos não teve tarefa fácil a partir do primeiro ferro, um bom ferro, e os dois seguintes resultaram “pescados”, dianteiros e muito aliviados. A partir daí voltou a entender os terrenos do toiro e deixou mais dois ferros de muito boa nota, embora com os bandarilheiros da sua quadrilha a competirem entre si para ver quem primeiro dava capotazos no toiro.
Em noite de concurso de pegas, o júri quase não teve opções para escolher a melhor pega, já que apenas uma foi conseguida ao primeiro intento e quase todas elas se consumaram sem grande brilho. Pelo Grupo de Forcados Amadores de Mazatlán iniciou a noite de pegas Alejandro Sequeira, que citou correctamente, mandou e reuniu bem, aguentando o toiro e consumando uma boa pega, bem ajudado pelo grupo. Carlos Tirado foi à cara do quarto da noite, citou de largo, o toiro arranca com prontidão e com pata, aguenta bem, recuando-lhe na cara, mas não consegue agarrar-se. À segunda tentativa, a fazer as coisas depressa demais e a não reunir. Consumou a pega ao terceiro intento, com o grupo todo em cima e sem brilho. Mesmo assim, na primeira praça do país, deu volta à arena.
Pelo Grupo de Forcados Amadores de Alter do Chão, foi à cara do segundo toiro da ordem o forcado João Lopes. Com o oponente colocado muito fora de tábuas, o forcado cita, o toiro arranca mal o vê e não consegue ficar. À segunda entrada o forcado sai despedido por cima do toiro com um primeiro derrote forte. Consuma ao terceiro intento, com as ajudas carregadas e sem brilho, o que também não o impediu de, espontaneamente, sair para a volta. Para pegar o quinto da noite foi escolhido Elias Santos, que citou bem, mandou vir, fechou-se bem à córnea, aguentou fortes derrotes, as ajudas tardaram e saiu no seio do grupo. À segunda tentativa, com o toiro mais reservado, o forcado pisou-lhe os terrenos, mas não se sacou bem e não conseguiu reunir. Consumou à terceira entrada, uma rija pega, com o grupo a ajudar bem.
O Grupo de Forcados Amadores de Beja iniciou a sua prestação através do forcado Miguel Soares, que consumou ao terceiro intento, com ajudas carregadas, depois de não receber bem na primeira entrada e de, na segunda, não se conseguir agarrar perante a arrancada solta do toiro. José Miguel Falcão saiu para a última pega da noite. Citou de meia praça, o toiro sai para o forcado com pata, que, não recebendo da melhor forma, consegue reunir à córnea, aguenta fortes derrotes, mas as ajudas a tardarem e o forcado a sair. À segunda o forcado reúne bem, mas as ajudas tardam novamente e é despejado com um forte derrote já no meio do grupo que o deixa lesionado. É dobrado por Hugo Santana que, a sesgo, com o grupo a carregar, consuma uma rija pega. No final, em gesto de grande dignidade toureira, nenhum doa forcados saiu para a volta à arena, apesar da insistência dos cavaleiros e de grande parte do público presente.
O júri, constituído por elementos do Real Clube Tauromáquico, sem grandes opções, atribuiu o prémio para a melhor pega à primeira pega realizada pelo Grupo de Forcados Amadores de Mazatlán, por intermédio de Alejandro Sequeira.
O Mais e o Menos
+ A recusa de volta à arena por parte dos forcados do Grupo de Forcados Amadores de Beja, a demonstrar grande sentido de responsabilidade.
- A falta de conhecimentos taurinos demonstrada pelo público da primeira praça do país, quer nas lides a cavalo, quer nas pegas.
- As demasiadas intervenções dos bandarilheiros em algumas das lides a cavalo.
- A duração do espectáculo (bem mais de três horas!).
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