82% das pessoas que responderam acham que é óbvio que os Burladeros causam um perigo adicional e 78% acham também que o Campo Pequeno tem uma responsabillidade especial em dar o exemplo de boas práticas relativas à integridade fisica dos Artistas por ser a primeira Praça do País.
Por outro lado várias pessoas me disseram que achavam que o artigo que escrevi sobre este tema, com o titulo "Bom senso" apenas servia para incendiar mais a questão. Além de pedir a estas pessoas que leiam melhor o que eu escrevi vou aproveitar algumas considerações de visitantes da Tauromania para voltar a este assunto e tentar esclarecer algumas questões.
Várias pessoas o que dizem é que não vêem razão para que se discutam os Burladeros no Campo Pequeno quando não se discutem os Burladeros nas praças desmontáveis, em Albufeira ou em algumas praças do Alentejo que nem trincheira têm.
Ora, na minha opinião, este ponto de vista enferma de dois erros. O primeiro, e para mim mais grave, é que em vez de se querer que as outras praças sejam melhores e copiem o bom exemplo que o Campo Pequeno deve dar, o que se quer é que o Campo Pequeno seja como outras praças que não têm condições tão boas como deviam ter. O que se deve pretender é que Praças como a Messejana, Crato ou Cabeço de Vide venham a ter melhores condições e não querer que o Campo Pequeno tenha as más condições que estas têm. Também não se deve comparar o Campo Pequeno a uma Praça desmontável (eu pelo menos não pretendo comparar) e basta ter visto como abana uma praça desmontável quando um toiro lhe bate para perceber como a questão do impacto é nestes casos muito menos grave. Por outro lado a segurança na maioria das Praças desmontáveis obriga a que a trincheira seja demasiado alta e tenha barras de fixação de poucos em poucos metros o que a torna bastante dificil de saltar. Neste caso embora o perigo dos burladeros exista este não só é substancialmente menor como além disso tem uma justificação. Faço aqui uma ressalva para a Praça de Albufeira na qual penso que, embora não tenha a importância do exemplo do Campo Pequeno, os Forcados também devem pedir que se retirem os Burladeros. Não se compreenderá se não o fizerem.
Outro argumento usado é que o perigo faz parte da Festa. Considero esta visão totalmente distorcida.
O perigo que faz parte da Festa deve vir do toiro e somente do toiro. O que é valorizado na tauromaquia é o mérito de fazer as coisas diante do perigo e o perigo deve vir do toiro que deve ser um animal integro e na sua plenitude. Todos os outros perigos devem ser evitados. Senão não faria sentido obrigar ao toiro puro pois o toiro corrido é mais perigoso. Senão não faria sentido anular uma corrida porque o piso não está capaz. Quando o piso não está capaz há mais perigo. Ou não faria sentido exigir que haja um médico, bombeiros e ambulancia pois sem eles as lesões seriam ainda mais perigosas... Não são estes perigos estupidos e inuteis que se valorizam na Festa.
Os Forcados têm dado mais que mostras que estão disponíveis para enfrentar o perigo que o Toiro representa. Aliás a Festa tem em grande parte vivido da receita "Toiros Terrorificos e Forcados" o que só demonstra a postura dos Forcados. Mas uma coisa é aceitar o perigo do Toiro (isso é o que os Forcados devem fazer) e outra é aceitar perigos evitáveis e inúteis (estes não devem ser aceites).
Os Forcados estão disponíveis para assumirem os riscos de o serem mas farão bem em não aceitar os riscos que se podem evitar.
Por fim há pessoas que defendem que os Forcados deviam era estar preocupados com outras questões como as bandarilhas, ou os estribos em cimento ou as enfermarias.
Ora este argumento faz lembrar aquele tipico argumento que se ouve à oposição quando um governo toma uma medida certa. Em vez de se dizer que a medida é certa o que se faz é lembrar que há outras medidas que não foram tomadas... sinceramente não me parece um bom argumento.
Obviamente os Forcados e a sua Associação devem preocupar-se com a questão das bandarilhas, com a questão dos estribos em cimento e com a questão das enfermarias. Foi para tratar estas questões que a ANGF foi fundada e é para tratar destas coisas que existe.
Pessoalmente não percebo porque é que a questão das bandarilhas continua na mesma e sou da opinião que já há bastante tempo que os Forcados deviam ter exigido que fossem removidos os estribos de cimento e que nas Praças fosse obrigatória a presença de uma ambulância medicalizada com suporte avançado de vida e a presença de uma equipa especializada em emergência médica. Acho que são exigências justas para quem a troco de um jantar se põe diante de um toiro e contribui decisivamente para que existam empresários, toureiros e ganaderos.
Os Forcados devem ter a noção que se não se preocuparem com as questões que os implicam, ninguém se vai preocupar em vez deles. É normal que assim seja e não é de esperar que sejam os empresários ou os toureiros a olhar pelos Forcados. É por isso que a ANGF fez, faz e fará sentido.
Os Forcados podem ter pena que o antigo toureiro Rui Bento Vasques conviva bem com o facto de colocar burladeros perigosos e inúteis durante as pegas e de no Campo Pequeno já ter sido mais de uma vez o espectador José Ribeiro da Cunha a tratar das lesões dos Forcados porque os médicos estavam aflitos; podem ter pena que o grande forcado que foi António Manuel Cardoso conviva bem com o facto de continuar a organizar corridas na praça da sua terra e essa praça ainda ter o mesmo estribo de cimento onde morreu o Helder Antoño; podem ter pena que o enorme João Pedro Bolota conviva bem com o facto de organizar corridas nas quais se usam as mesmas bandarilhas que o cegaram e que cegaram o seu companheiro Eliseu. Tenho a certeza que os Forcados têm pena que assim seja. Agora o que penso que não se pode pedir é que os Cabos actuais, que são responsáveis pelos seus Forcados, fiquem só pela pena e convivam bem com o desprezo pela integridade fisica dos membros dos seus Grupos.
Eu compreendo, e acho bem, que os Cabos se preocupem em diminuir e evitar todos os perigos inúteis que possam existir. Para perigoso basta o Toiro e que eu saiba os empresários não encontram problemas do lado dos Forcados quando querem colocar a ganadaria A ou B.
Nesta questão dos Burladeros do Campo Pequeno, como na questão das bandarilhas, das ambulâncias, etc. o que importa não é saber se quem tem Poder são os empresários ou é a ANGF. Isso não importa nada. O que importa é saber se os Forcados consideram ou não que estas questões têm real importância para a sua integridade fisica e se têm uma solução viável. Se o consideram e tendo estas questões solução (toda a vida se tiraram e puseram os Burladeros e o Campo Pequeno já faz 119 anos, já há bandarilhas com sistema de segurança e o preço da presença de uma equipa de emergência médica é marginal) então os Forcados têm razões para se baterem pelo que consideram certo e justo.
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