Na temporada passada, movido pela boa intenção de diminuir os tempos do espectáculo, o gestor taurino do Campo Pequeno decidiu, embora sem consultar cavaleiros nem forcados, que nas corridas mistas os burladeros iriam permanecer montados durante todo o espectáculo.
Mesmo depois de alertado para o facto desta situação causar um perigo adicional, injustificado e desnecessário, a empresa do Campo Pequeno fez algum finca-pé nesta decisão tendo dado no entanto a entender que estaria disponível para rever a sua posição na temporada seguinte (esta na qual nos encontramos). Os membros da ANGF chegaram mesmo a decidir não pegar no Campo Pequeno se a situação dos burladeros se mantivesse mas, após a promessa de revisão dessa posição para 2011, optaram por recuar nessa decisão.
Chegámos à temporada 2011 e à primeira corrida mista no Campo Pequeno e o que se viu é que os Burladeros continuaram postos nas lides a cavalo. O Grupo da Tertúlia Terceirense, pressionado por toda a envolvente da "corrida dos Açores" não quis entrar numa guerra e pegou. Dados estes factos os Grupos da ANGF juntaram-se e decidiram solicitar ao Campo Pequeno que reveja a posição dos burladeros nas corridas mistas durante as lides a cavalo.
Todos os que andam na Festa sabem que o Rui Bento Vasques tem um feitio que não é fácil e que entende que a sua posição de empresário da primeira praça do país lhe dá uma autoridade que deve ser respeitada e que não deve ser posta em causa. Alguns acham que este poderá ser o principal motivo para que este diferendo não se resolva facilmente. Eu espero que não seja...
De facto a presença de burladeros dentro da arena numa lide a cavalo e numa pega representa um perigo adicional, inútil e totalmente injustificado. O argumento da poupança de tempo de montagem dos burladeros nunca pode valer mais que o argumento da integridade fisica dos artistas. Além disso o próprio argumento da poupança de tempo é muito discutivel uma vez que a montagem dos burladeros se faz durante a volta a arena (e cá dá-se sempre volta), durante o intervalo (que no Campo Pequeno existe sempre) e durante o tempo necessário ao alisamento da arena, do qual os espadas logicamente não prescindem, entre toureio a cavalo e toureio a pé.
É muito estranho que não sejam os próprios cavaleiros a pedir que se retirem os burladeros tão óbvio é o incomodo e o perigo que os mesmos trazem para quem, lidando a cavalo, precisa do espaço livre ao correr das tábuas. Isto só demonstra o quanto os cavaleiros são uma classe desunida, o quanto a sua Associação não tem actuação nem força e o quão pouco pesam as nossas figuras.
Mas uma vez que não se pode contar com os cavaleiros nesta questão que também os afecta (será que se pode contar em alguma?), então é responsabilidade dos Grupos, em sede da ANGF, defenderem a integridade fisica dos seus elementos e fazerem valer este argumento junto do Campo Pequeno.
Compreender que os burladeros nas lides a cavalo e nas pegas são um perigo adicional, injustificado e inútil é uma questão de bom senso que estou certo que Rui Bento Vasques compreende.
E sendo uma questão que envolve o Campo Pequeno, em vez de temerem a importância desta Praça, o próprio feitio de Rui Bento e possíveis retaliações, cabe aos Grupos mostrar a Rui Bento Vasques, de forma firme mas tranquila e civilizada, que a sua posição faz ainda mais sentido por se tratar do Campo Pequeno, que para os Forcados é a primeira praça do Mundo, e que por isso deve ser o máximo exemplo de boas práticas. Se se tornar moda haver burladeros dentro de praça durante as pegas o risco de uma tragédia aumenta brutalmente. Um forcado pode ficar gravemente lesionado ou até morrer se embater contra a esquina de um burladero. Se os Forcados permitirem que no Campo Pequeno se desenvolvam práticas erradas então não terão argumentos para fazer valer as suas posições em nenhumas outras praças.
No próximo mês de Julho o Campo Pequeno, por organização de Rui Bento Vasques, realiza uma corrida de homenagem aos Forcados. Há quem entenda esta homenagem como uma mera instrumentalização da figura do Forcado com fins puramente comerciais. Esta questão dos burladeros é uma excelente oportunidade para Rui Bento Vasques desmentir os que pensam isto mostrando que o respeito e admiração que diz ter pelos Forcados, que até o leva a homenageá-los, são mais do que palavras vãs. Mudar a sua posição será uma atitude de bom senso que só o engrandecerá aos olhos dos Forcados e aos olhos da própria Afición.
Ver-se a questão dos Burladeros como uma guerra Forcados versus Rui Bento é algo totalmente errado e que não faz sentido a não ser que o próprio Rui Bento Vasques assim o deseje. Se assim for e se se perder a oportunidade de tratar este tema com o bom senso que ele merece, então creio que Rui Bento Vasques estará a dar razão àqueles que, de forma insensata, defendem que se quer poupar tempo com os burladeros então que não os ponha nunca pois os toureiros podem muito bem saltar a trincheira e se estamos em Portugal a parte da Corrida à Portuguesa deve valer mais que a parte da corrida pseudo-à espanhola.
Espero sinceramente que impere o diálogo, a concórdia e o bom-senso.
Nota: Este texto reflecte uma opinião pessoal. Não sou membro da ANGF, nem de nenhum dos seus corpos sociais e não tenho procuração alguma para falar em nome da ANGF ou dos seus Grupos
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