Nas últimas semanas tem-se discutido muito a questão da nova moda dos cavaleiros portugueses irem tirar uma segunda alternativa a Espanha. Estes actos acontecem quando os referidos cavaleiros já foram doutorados em Portugal, em cerimónia onde foram investidos cavaleiros profissionais pelos seus padrinhos, com as respectivas testemunhas e com o público a apoiar e entregar-se num cerimonial tão bonito e tão importante para qualquer cavaleiro tauromáquico.Em 1970, o cronista Mascarenhas Barreto definia assim o acto do doutoramento dos cavaleiros tauromáquicos portugueses: "Chama-se alternativa ao acto de se conferir ao cavaleiro um atestado comprovativo do seu mérito – coragem e arte – a toirear a cavalo, revestindo-se a cerimónia duma solenidade tradicional que recorda – até pela presença do Padrinho – as antigas investiduras dos cavaleiros medievais.". Ou seja, a cerimónia da Alternativa é revestida dum simbolismo muito especial e é, sem dúvida, um dos patamares mais aguardados por qualquer cavaleiro que ambicione triunfar nas arenas com o título de cavaleiro de alternativa. Depois de passar pelas fases de amador e praticante, o cavaleiro que chega à Alternativa vem com uma responsabilidade acrescida: simbolicamente podemos afirmar que se atingiu a maioridade e que a partir daquele momento a exigência é ainda maior, bem como a vontade de estar sempre "por cima" passa a estar nos planos dos ginetes portugueses em cada época taurina que passa, procurando estes estar sempre nos lugares cimeiros do escalafón.Acresce ainda que nestas cerimónias de alternativa, o público - entendendo a importância do que se vai passar na arena - se entrega de uma forma única, dedicando um carinho especial ao cavaleiro que se irá doutorar. Na realidade, estas corridas de alternativa, não só são marcantes para o cavaleiro, padrinho (que dá o seu aval ao alternativado) e testemunhas, como também são importantes para os aficionados que assistem à cerimónia e que guardam aquele momento na sua memória, associando-se ao acto de forma genuína.Tudo isto para dizer que discordo totalmente com estas segundas alternativas que alguns dos nossos jovens cavaleiros estão a receber em Espanha. Até podia desenvolver um discurso patriótico, invocando a nossa portugalidade. Mas não quero seguir esse caminho. Como aficionado sinto-me enganado com estas segundas alternativas em Espanha. Hoje, discute-se com diferentes argumentos os conceitos de toureio a cavalo – à portuguesa ou rejoneio. Na minha opinião, o que se passa hoje deve merecer uma profunda reflexão e até preocupação porque muitos dos nossos cavaleiros começam a espanholizar as suas actuações, tornando-se autênticos caballistas, só porque chegam mais ao público. Contudo, e como já o referi em artigo anterior neste site, esta espanholização põe em causa a Pátria do Toureio a Cavalo pois, este novo estilo de toureio que muitos cavaleiros portugueses estão a adaptar, ignora por completo as regras tradicionais do toureio a cavalo clássico, como por exemplo o toiro citado de longe, o tourear de frente, as reuniões ao estribo e a forma de remate das sortes. Se à adulteração do toureio a cavalo à portuguesa juntarmos esta nova ideia de se ir tirar uma Alternativa em Espanha concedida por rejoneadores espanhóis, o meu espanto aumenta… Admito que até podem existir razões comerciais e de marketing que justifiquem estes actos. Mas como anteriormente referi, como aficionado sinto-me enganado. Fica a ideia que as alternativas portuguesas são ignoradas (ou postas para segundo plano) porque, entretanto, sucede uma segunda alternativa que se sobrepõe à primeira. Mas este segundo doutoramento é dado fora do nosso país e sem sentido nenhum aparente! Agora sim, utilizando uma linguagem evocativa da nossa portugalidade, a Pátria do Toureio a Cavalo está a deixar-se "invadir" por Espanha. O Toureio a cavalo à portuguesa perde importância e dignidade com estes actos comerciais ou de puro marketing. É pena que isto aconteça e gostava de ouvir o que o Sindicato dos Toureiros tem a dizer sobre tudo isto. Apenas mais duas provocações: com estas duas alternativas concedidas, como vão passar a vestir-se estes cavaleiros? De acordo com os trajes de cada País? E já agora porque não pedirmos ao rejoneadores espanhóis que venham também tirar a alternativa em Portugal? Temos mesmo que reflectir sobre todas estas adulterações que se vão sucedendo na nossa Festa!
Miguel Soares é Técnico Superior na Câmara Municipal de Lisboa. Aficionado "desde sempre", é autor do blogue "Lides Alentejanas" e colaborador da página da Tauromania.
Miguel Soares é Técnico Superior na Câmara Municipal de Lisboa. Aficionado "desde sempre", é autor do blogue "Lides Alentejanas" e colaborador da página da Tauromania.
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