Chegámos ao fim de mais uma temporada taurina, altura em que se fazem as mais variadas análises e cada um opina do que gostou e do que não gostou. Entra-se no chamado defeso, período aproveitado pelas tertúlias para se fazerem debates, entregarem-se os prémios atribuídos aos protagonistas da Festa e visualizarem-se corridas que foram sendo gravadas ao longo da época.
De uma forma sucinta vamos fazer um repasso sobre aquilo que se apraz dizer sobre este espectáculo que faz parte das “nossas tradições”, apesar de uma minoria ainda teimar em não o reconhecer e aceitar. Sem dados estatísticos oficiais penso que se realizaram mais espectáculos taurinos em Portugal, as inúmeras praças desmontáveis para isso muito contribuiram, e o número de público que acorreu às nossas praças também aumentou fruto da boa politica de bilhetes a preços mais acessíveis à bolsa do cidadão; aqui destacamos a Empresa Aplaudir de João Pedro Bolota que vem pondo em prática essa politica nas suas praças e os resultados apareceram ( Santarém foi a praça que mais simbolizou essa aderência de público, tendo inclusive Esgotado a sua lotação na corrida de 10 de Junho). Esse exemplo de gestão, já começou a ser seguido por outros empresários, embora por vezes a quantidade dos já conhecidos “bilhetes de 10 e 15 euros” ficassem aquém da procura.
Já que falamos de muito público nas bancadas, temos de falar da nossa “Catedral do Toureio a cavalo” o Campo Pequeno, que também bateu recordes de assistência desde que foi reinaugurado, inclusive, também foi afixada por duas vezes a placa de ESGOTADO, a que não é alheio o facto de voltarem a ser transmitidas, em bom número, corridas em directo pela TV. O Campo Pequeno a par da praça de Albufeira foi a que deu mais espectáculos taurinos nesta temporada 2009.
Ainda relacionado com as nossas praças teremos que nos congratular pela inauguração de uma praça em Trás-os-Montes, mais própriamente em Vinhais, e também pela reinauguração da praça de Redondo, agora denominada “Coliseu de Redondo”, um moderno tauródromo coberto, multiusos, bem concebido arquitectónicamente, prático, funcional e cómodo. Na vila de Cuba foi também inaugurada uma praça de toiros desmontável nova, mas que ficará fixa,e que será transformada no futuro, num recinto multiusos.
Negativamente assistimos ao encerrar da praça de Viana do Castelo, a qual,o presidente da câmara local, pretende transformar num museu, privando assim os bons e muitos aficionados nortenhos de assistirem à tradicional corrida das Festas da Srªa da Agonia, que esgotava por completo a sua lotação. Estremoz e Setúbal também tiveram as suas praças encerradas, a primeira continua por resolver o problema das obras necessárias para a sua reabertura,( agora que a autarquia mudou de presidente, esperamos que se possa resolver a situação), e Setúbal também não realizou as obras necessárias, não tendo por isso realizado qualquer espectáculo, agora com a agravante de que o proprietário do imóvel, Sr.Jorge Pereira dos Santos ter falecido. Nas restantes praças do País, a temporada desenrolou-se nos moldes habituais, houve foi um acréscimo das corridas em praças desmontáveis, nas zona centro, norte e trás-os-montes.
O Toiro elemento fundamental da Festa, terá obrigatóriamente de ser focado neste artigo; houve alguns toiros bravos nesta temporada, mas continuaram a sair exemplares com pouco trapio, falta de raça e com 3 anos de idade (algarismo 6 na espádua) em praças de responsabilidade, tirando assim verdade e emoção às corridas. Falou-se também que faltaram toiros, não sei se foi por essa razão ou por factores económicos, o que é certo é que houve uma mini-invasão de toiros espanhóis. As ganadarias de Cortijoliva, La Dehesilla, José Luís Pereda, Alcurrucen, Miura, Victorino, Partido de Resina, El Madroñal, Los Millares, Arrucci, Romanis, Campos Peña, Conde de La Corte, Sepulveda e Los Adaines enviaram toiros para as nossas praças ( + de oitenta toiros), um número bem significativo.
Orgulhamo-nos de ser a Pátria do toureio a cavalo e felizmente continuamos a ter em actividade os melhores cavaleiros do Mundo taurino. Neste momento temos uma mescla de veteranos e juventude, que garante o futuro. Os veteranos João Moura,Bastinhas ( que terminou o apoderamentocom Rogério Amaro após 14 anos de ligação), A.Telles e Rui Salvador (que este ano comemorou 25 anos de alternativa) mantêm intactas todas as suas qualidades e os triunfos sucedem-se ; João Salgueiro efectuou uma das suas melhores temporadas, com actuações de grande nível, e Luís Rouxinol continuou a colecionar Troféus, mercê da sua regularidade, entrega e valor. Seria injusto não referir os nomes de Rui Fernandes,Ana Batista, Vitor Ribeiro, Moura Jr e Brito Paes, cuja temporada lhes trouxe bons êxitos; de entre aqueles que tiveram altos e baixos, e tardam a afirmar-se estão Manuel Lupi e Moura Caetano, de quem se esperava mais. Passando para os mais jovens, João Telles Jr obteve grandes triunfos nesta temporada, tal como Marcos Bastinhas, que é já um firme valor dos nossos cavaleiros. Houve três alternativas no decorrer desta temporada, Francisco Palha, Duarte Pinto e Agostinho Silva. Entre os cavaleiros praticantes houve muita e boa competência, Salgueiro da Costa,Tomás Pinto e Marcelo Mendes, são nomes a reter e de quem se espera um futuro muito risonho. Tiago Carreiras foi sem dúvida o melhor praticante de 2009, aliás apontado como um dos triunfadores da temporada, depois de ter obtido grandes êxitos em praças importantes, e teremos de destacar o cavalo “Quirino” que foi o seu grande trunfo e que contribuiu para os êxitos, na grande maioria das corridas que efectuou. De entre os cavaleiros amadores, Miguel Moura continua a encantar o público das praças por onde passa e Mateus Prieto foi uma revelação muito positiva, toureando e montando com boas maneiras e com à-vontade e segurança.
Com bastante tristeza teremos que recordar D.José João Zoio, um grande homem e um grande toureiro, 1ª figura em décadas passadas e que faleceu no final do mês de Agosto.
A temporada 2009 em Portugal e no que concerne ao toureio apeado, não foi pródiga em grandes acontecimentos; as corridas mistas ou até só com matadores ou novilheiros, voltaram a ser diminutas, apenas o Campo Pequeno, Moita e Vila Fran- ca,promoveram mais esses espectáculos.Três primeiras figuras espanholas, como foi o caso de Morante de La Puebla, El Cid e Miguel Angel Perera actuaram em Lisboa e Pedrito de Portugal limitou-se a actuações em Lisboa e na Moita e o tão propalado regresso ficou mais uma vez adiado. José Luís Gonçalves (que afinal não se despediu esta temporada) e Luís Vital Procuna, foram os que mais tourearam. Destacam-se ainda dois factos; Vítor Mendes vestiu-se de luces por duas vezes, actuando no Campo Pequeno e em Tomar, e o gesto de José Júlio que apesar da sua já longa idade, quis comemorar os 50 anos de alternativa, lidando um toiro na Palha Blanco, durante a feira de Outubro. As novilhadas também continuaram escassas, se atendermos ao facto de existirem meia-dúzia de jovens valores, e que acabam por rumar até ao País vizinho para aí poderem actuar com mais regularidade. Destaque para João Augusto Moura e Manuel Dias Gomes pelas boas actuações, quer entre nós quer em Espanha.
Esta temporada também foi de êxito para os forcados, enormes e rijas pegas foram protagonizadas pelos muitos grupos existentes na nossa geografia taurina. Os grupos mais antigos e de maior prestigio, como são os casos de Montemor,Santarém, Lisboa, Vila Franca, Évora, Ap.da Moita e Alcochete, tiveram compromissos muito importantes, os quais souberam honrar a jaqueta que vestiam. Assinalou-se o 70º aniversário do grupo de Montemor, para muitos o melhor do País, e realmente a temporada foi um sucesso, como ficou demonstrado na corrida em Junho no Campo Pequeno onde pegaram sózinhos seis toiros Grave. Houve também uma subida qualitativa numa boa parte dos grupos chamados mais pequenos, e isso também deveu-se ao facto de se terem realizado muitas corridas com três grupos em praça, o que fez aumentar o número de actuações a esses mesmos grupos.Tivemos entre nós os forcados de Mazatlan do México e os de Turlock da América, com boas prestações.Também devemos realçar, porque bem o merece, a despedida de Ntinu Wen, esse grande e valoroso forcado do Aposento da Moita, que na corrida forte da Feira de Setembro pegou pela última vez. Mas a tragédia e o drama estão associados à Festa dos toiros e um acidente provocado por uma bandarilha tirou uma vista a Joaõ Salvação, cabo dos forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete; questiona-se para quando a obrigatoriedade das bandarilhas à espanhola, sabendo-se que há vozes discordantes de agentes da Festa, contra a sua utilizacão.
Muitos dos males da nossa Festa voltaram a estar presentes nesta temporada, e que alguns deles, com o novo Regulamento que todos esperamos há alguns anos por aprovação, sejam banidos e agora que parece que vamos ter um Governo mais dialogante, fazemos votos que esse Regulamento seja aprovado, assim haja algum deputado que faça força nesse sentido.
Como referi no inicio deste artigo cada aficionado terá o seu ponto de vista desta temporada, o meu ficou escrito nestas linhas, de certeza que divergirá em alguns pontos de outros aficionados, mas é salutar para a Festa a troca de impressões e de vivências para melhorarmos este espectáculo que tanto gostamos.
Encontramo-nos dia 1 de Fevereiro 2010 em Mourão.
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