quarta-feira, 8 de abril de 2009

...E os forcados são grandes toureiros!!

por In Diário do Sul
8 de Abril, 2009

Carlos Pegado empresário da Praça de Toiros de Évora, agora Arena d´Évora, desde 1996, após o enorme sucesso da Festa do Forcado realizada em 2008 e em parceria com o site Tauromania realiza em Évora dia 11 de Abril, um dia inteiro dedicado ao Forcado.

Esta Festa é constituída por três eventos, Torneio de Cernelhas a realizar a partir das 14 horas, Corrida de Toiros ás 22h, e Festa convívio no IROMA após a Corrida de Toiros.

Diário do Sul – O Carlos foi forcado durante muitos anos no Grupo de Forcados Amadores de Montemor. É devido a essas memórias que organiza esta Festa?

Carlos Pegado – Desde que me conheço que tenho uma fortíssima admiração pelos forcados. Fiz a minha 1ª pega com 11 anos. Mais tarde, com 17 anos, entrei para o Grupo de Montemor, onde me fiz forcado e peguei durante dezoito temporadas.
A minha admiração pela figura ímpar do forcado e pelos valores que são defendidos num grupo veio sempre aumentando com o decorrer dos anos.
Julgo que pouco se fez durante muito anos para engrandecer e prestigiar a imagem do forcado amador. Ultimamente apareceu a Associação Nacional de Grupos de Forcados que muito tem feito em defesa dos seus associados e também um site taurino – Tauromania, cujos sócios são também antigos forcados e que são parceiros da minha empresa em toda esta organização. Agora que tenho possibilidade, enquanto promotor de eventos, de proporcionar a todos aqueles que gostam dos forcados uma grande organização que promova também junto do grande público essa figura única no mundo, aqui estamos para fazer desse dia uma grande festa para todo o público e, obviamente, para todos os que foram, são ou querem ser forcados.

D.S – Sabemos que teve um grande acidente no decorrer desta actividade que o obrigou a ficar vários meses no hospital. Temos na memória recente a morte de um forcado do Grupo de Portalegre. Mesmo assim acha que vale a pena insistir nesta arte?

C.P – Como disse, tive de facto uma gravíssima colhida quando tentava a pega a um toiro, na Praça de Beja, e estive às portas da morte. E um ano depois voltei a pegar e mantive a actividade mais sete anos.
Há algo que nos atrai com muita força para esta vida. Valores como o respeito pelos mais antigos, o amadorismo, o romantismo, o espírito de sacrifício e de união, a amizade e a coragem, e tantos, tantos mais são como se um grupo de forcados funcione como uma escola de vida e uma autentica família.
É claro que sempre que acontece uma tragédia, e infelizmente acontecem demasiadas vezes, levantamos várias questões. Mas todos sabemos que a vida tem o seu fim… e os toureiros sonham morrer na arena. E os forcados são grandes toureiros!!

D.S A primeira edição da Festa do Forcado contou, segundo sabemos, com a representação de 27 Grupos de Forcados. Este ano espera mais?

C.P – Este ano temos confirmada a presença da totalidade dos grupos existentes em Portugal, onde se incluem dois da Ilha Terceira, nos Açores.
Assim teremos a participar na Festa do Forcado’09 representantes de 43 grupos de forcados. É o primeiro passo para o êxito desta segunda edição desta festa.

D.S – Para além desses 43 grupos de Forcados, conta ainda com a presença do Grupo de Forcados de Mazatlán, México. Como surgiu a ideia de os convidar a integrar esta Festa?

C.P – Há 25 anos atrás os forcados foram pela 1ª vez ao México demonstrar esta arte tão portuguesa e única no mundo. Deixaram então uma pequena semente que a pouco e pouco veio a dar o seu fruto… e hoje em dia existem 7 ou 8 grupos de forcados nesse país. São autênticos embaixadores desta nossa arte e têm como ídolos os forcados portugueses e a nossa cultura toca-lhes no coração. Faz todo o sentido que sejam os “Convidados de Honra” da Festa do Forcado.

D.S – O segundo grupo que integrará o Cartel será o vencedor do torneio de cernelhas a realizar durante a tarde. Porquê rematar assim o cartel?

C.P – Todos os grupos de forcados sonham poder pegar nesta emblemática praça de toiros e o maior prémio que se pode dar a um grupo é pegar uma corrida de toiros. Assim pensámos que ao dar oportunidade a todos de pegar esta corrida seria um prémio lógico. Desta maneira nenhum grupo teria entrada directa na corrida por este ou aquele factor. A competição entre os grupos de forcados sempre existiu e é saudável. É isso que faz o forcado superar-se em cada actuação.
Todos estão em igual posição e terão hipótese de pegar a corrida da Festa do Forcado.

D.S – Este ano outro Prémio a dar aos forcados é em memória do ganadeiro António Veiga Teixeira e oferecido pela sua família. Porquê?

C.P – Porque o senhor António José da Veiga Teixeira foi um dos maiores cernelheiros de sempre e neste dia tão importante para toda a família dos forcados portugueses decidiu atribuir-se a este troféu o seu nome, por forma a reverenciar a figura de uma figura tão importante da nossa festa.
É uma bonita forma de homenagear a sua memória.

D.S – O Carlos é empresário de várias praças de toiros. A Arena d´Évora tem algum significado especial para si? Porque faz a Festa do Forcado em Évora?

C.P – Claro que tem um especial significado para mim. Por várias razões, é uma das praças com maior riqueza histórica na tauromaquia portuguesa, é a praça da minha cidade e depois de me tornar empresário desta praça fui um dos responsáveis pelo processo que deu origem à sua reconstrução.
A Festa do Forcado tem lugar em Évora porque Évora sempre foi terra de forcados e o público nesta praça tem uma relação muito própria com os forcados. Admira e respeita esta figura ao ponto de ser das poucas praças onde se faz um silêncio religioso durante a execução da pega. É de facto a Catedral do Forcado.

D.S – Dizem que o Carlos tem um enorme capacidade de levar “gente” ás suas praças. Qual é o seu truque?

C.P – Agradeço o reconhecimento do meu trabalho.
A primeira obrigação de um empresário taurino é criar um espectáculo que tenha todos os ingredientes de forma a torná-lo apelativo para os aficionados e para o público em geral. Nunca esquecendo que o próprio público é parte integrante e fundamental para o êxito do espectáculo. E a receita é mesmo essa, muito profissionalismo. Alguma criatividade e também a paixão que sempre tive por este mundo mágico.

D.S – O torneio de cernelhas é de entrada gratuita. É um presente ao seu público de Évora?

C.P – É com enorme esforço que o fazemos, pois não contamos com apoios exteriores, nem institucionais. Mas julgamos que numa praça de toiros que tem uma actividade taurina intensa, teremos que pedir sempre a presença do público, mas também dar-lhe, sempre que possível, algo de forma gratuita. E o público de Évora e todos os que a ela acorrem, vindos dos mais variados pontos da nossa geografia, são sem dúvida dos mais aficionados e mais entendidos do nosso país. Merecem o melhor.

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