sexta-feira, 1 de julho de 2011

Quando a pouca vergonha é muita!

- Praça de Toiros: Campo Pequeno, em Lisboa

- Data: 30 de Junho de 2011, às 22h00
- Empresa: Sociedade do Campo Pequeno, S.A.
- Ganadaria: 6 Toiros de Maria Guiomar Cortes de Moura
- Cavaleiros: Rui Salvador, Diego Ventura e Francisco Palha
- Grupos de Forcados: Amadores de Santarém e Amadores de Évora, capitaneados respectivamente por Diogo Sepúlveda e Bernardo Patinhas
- Assistência: ¾ de casa
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico Sr. Júlio Gomes, assessorado Delegado técnico veterinário Dr. Salter Cid
- Banda: Samouco
- Cornetim: José Henriques

Mais uma Quinta-Feira, mais uma nocturna na Praça de Toiros do Campo Pequeno, a sexta corrida do Abono de 2011. Confesso que me é difícil escrever sobre o que se passou ontem na arena lisboeta. Há uma palavra que me vem à cabeça e que ontem foi partilhada pelos verdadeiros aficionados que se deslocaram ao Campo Pequeno: vergonha! Porque se trata de vergonha toureira, porque se trata de vergonha ganadeira, porque foi vergonhoso ver o comportamento de alguém que se intitula figura e não ter capacidade de aceitar quem livremente manifestou que não gostou do que viu.

Logo um ponto negativo inicial: tem que se referir que se assistiu a uma novilhada. Todos exemplares da ganadaria Maria Guimar Cortes de Moura saídos à arena tinham o número oito da espádua, logo não eram toiros mas sim novilhos. Não se pode continuar a vender esta ideia de se assistir a uma corrida de toiros e saírem à praça novilhos. O regulamento permite, é verdade. Mas falamos da primeira praça do país e aqui não é admissível que se passem este tipo de situações. Um péssimo exemplo… Os novilhos-toiros saíram com pesos a oscilar entre os 554 Kg e os 594 Kg e demasiado vulgares, sem transmitir qualquer emoção.

Mas na primeira praça do país a noite ia mesmo descambar… Dizia-me um amigo meu no fim da corrida que para certas figuras que toureiam no Campo Pequeno o melhor é trazê-las logo em ombros quando começam as cortesias. Tem piada, mas não deixa de ser verdade porque aconteça o que acontecer o desfecho está marcado. E aí voltamos à vergonha. Foi vergonhoso o espectáculo que ontem deu Diego Ventura. Com dois toiros saídos mesmo “à medida do furacão”, daqueles que não fazem mal nenhum, daqueles que estão o tempo todo parados, ou então andam naquele trote tão típico do encaste Murube, o numerizito estava montado. O resultado foi um toureio baseado nos adornos e nos extras que de verdade toureira nada têm. Se no primeiro toiro ainda houve um ou outro pormenor de maior verdade, na segunda lide Ventura abriu demasiado os quarteios, deixando a ferragem a cilhas passadas. Como as coisas não estavam a correr bem resolveu tourear o público, que em delírio se levantou nas bancadas não entendendo que não houve toureio de verdade, mas sim um número com mordilelas e afins. No final de cada toiro o espectáculo também estava montado: duas voltas em cada toiro e respectiva saída em ombros pela Porta Grande (tão pequena e vulgar que se está a tornar!). Ventura aproveitou o delírio do público menos entendido e resolveu premiar-se com mais esta saída em ombros. Faltou-lhe vergonha toureira porque não mereceu o triunfo e faltou-lhe vergonha toureira porque não soube respeitar o público verdadeiramente aficionado que se mostrou descontente com o que aconteceu. Mandou acalmar esses “sectores” várias vezes e no fim da corrida, no momento da pseudo apoteose, estalou-lhe totalmente o verniz ao ameaçar verbal e fisicamente um espectador que mostrava o seu descontentamento com a falta de vergonha toureira. Se me contassem não acreditava. Mas infelizmente assisti ao vivo e bem de perto a esta situação lamentável, de falta de educação e humildade, demonstrada “nas barbas” do senhor director de corrida e demais autoridades. Figura? Furacão? Um vendaval de falta de vergonha.

Outro momento negativo coube ao jovem cavaleiro Francisco Palha. Se no seu primeiro toiro assistimos a uma lide equilibrada, bem desenhada, com bons momentos de toureio, procurando citar de frente, aliados também a uma excelente presença a cavalo (destacamos os dois últimos ferros curtos cravados com verdade), no segundo do lote, “Margaça” perdeu totalmente a noção e a postura. Embora mostrando cuidado na preparação das sortes, esteve muito irregular na cravagem, deixando-se tocar várias vezes e tirando brilho ao seu trabalho. Coisas que acontecem nesta profissão. O problema é que Francisco Palha perdeu também a vergonha toureira dando duas voltas no fim de uma lide sem história, em que não esteve bem e em que não soube fazer a avaliação correcta da lide por si desenvolvida. Duas voltas a juntar às duas do primeiro toiro e mais outra saída em ombros. Mais um pseudo triunfo sem explicação, sem correspondência com o que se passou realmente na arena e mais uma machadada na credibilidade daquela que devia ser a primeira praça do país. Ventura e Palha penduram-se num público que liga mais ao acessório do que ao toureio de verdade, tendo uma atitude deplorável para com aqueles que realmente querem ver uma corrida de toiros e não um espectáculo de variedades.

Ainda uma nota negativa para o ganadeiro que saltou à arena no final do quinto toiro, a pedido de Ventura e que demonstrou também a sua falta de noção. Mas com tanta volta deverá ter sido levado por alguma rajada do furacão.

Quanto ao que de verdadeiro se passou na arena, ao consagrado Rui Salvador (metido no meio de toda esta cegada), calhou o pior lote. O cavaleiro de Tomar teve duas lides de esforço e que mereciam outro aplauso do público. No primeiro toiro que cedo procurou as tábuas, Salvador procurou tirá-lo da querença, sem grande efeito. Destaque para o último ferro curto, bem preparado. No quarto da noite, assistimos a uma lide que veio a mais, bastante meritória e com destaque também para o último ferro curto bem preparado e com bons pormenores de brega. Repito que Salvador merecia outro acolhimento por parte do público, nem que fosse pelo esforço que fez em contrariar as dificuldades dos oponentes.

Os momentos da verdadeira emoção estavam reservados mais uma vez para a forcadagem. Em saudável competição, aos dois grupos em praça coube-lhes também a tarefa de dar seriedade à corrida. Pelo Grupo de Forcados Amadores de Santarém abriu praça o forcado Luís Sepúlveda. Citou de largo com muita serenidade, mandou na investida e reuniu com muita decisão à córnea, aguentando até à chegada das ajudas que fecharam correctamente consumando esta pega. Para o terceiro da noite foi escolhido o forcado João Brito. Bem a citar, mandou vir o toiro, recebeu-o correctamente e aguentou a viagem na cara do oponente até as ajudas fecharem nas tábuas. Para a cara do quinto saltou João Goes. O toiro arrancou de pronto ao inicio do cite e o forcado recebeu-o bem, fechando-se depois com muita determinação e fazendo a viagem até às tábuas, altura em que o grupo chegou e assim fechou a pega.

Pelo Grupo de Forcados Amadores de Évora abriu praça o cabo Bernardo Patinhas. Citou com serenidade, mandou na investida e reuniu bem, sendo prontamente ajudado por todo grupo que fechou a pega. Para o quarto toiro da noite foi à cara o forcado Manuel Rovisco que citou com muita galhardia. No momento da reunião o toiro meteu a cara por baixo e o forcado com muito querer aguentou no chão todo o peso do oponente. Com uns grandes braços aguentou-se sempre na cara do toiro até o grupo chegar e assim consumar esta pega. Manuel Rovisco acabou por sair lesionado depois de ter proporcionado um dos poucos momentos de emoção desta noite. Para o último toiro da noite o escolhido foi António Alfacinha. O forcado citou de largo e com muita serenidade mandou vir o toiro, reunindo depois com muita correcção à córnea, com todo o grupo a ajudar com coesão.

Mais uma vez a rapaziada da jaqueta de ramagens a salvar e a dar brilho a uma noite que fica na história pela falta de vergonha demonstrada por aqueles que deviam ter mais responsabilidades na Festa.

O Mais e o Menos
+ A atitude de Rui Salvador ao entregar o tricórnio ao Grupo de Évora, depois da pega e da lesão do eborense Manuel Rovisco. Atitude de grande nobreza a contrastar com o comportamento lamentável de outros…
+ A forcadagem a salvar esta nocturna lisboeta.
- Novilhos em vez de toiros, desrespeito pelo toureio de verdade, falta de humildade, falta de educação. Muita coisa negativa junta numa só corrida!
- Director de corrida permissivo, dá música por tudo e por nada. O nível de exigência tem que aumentar sob pena do Campo Pequeno passar a ser uma praça sem qualquer credibilidade.

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