segunda-feira, 4 de julho de 2011

Toiros que não eram flores que se cheirem na Corrida das Flores

- Praça de Toiros: Amadeu Augusto dos Santos no Montijo
- Data: 2 de Julho de 2011 às 22:00 horas
- Empresa: Bravura e Tradição
- Organização: Aplaudir, Lda.
- Ganadaria: Herdeiros de Infante da Câmara
- Cavaleiros: Joaquim Bastinhas, Rui Salvador e Vitor Ribeiro
- Grupos de Forcados Amadores: da Tertúlia Tauromáquica do Montijo, do Aposento do Barrete Verde de Alcochete e os mexicanos de Queretaro, capitaneados por Márcio Chapa, João Salvação e Toño Vera, respectivamente.
- Assistência: Meia casa forte
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico senhor António Santos, assessorado pelo Delegado técnico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva
- Banda: 1º de Dezembro do Montijo

Para a 2ª e última corrida da Feira Taurina das Festas de S. Pedro, no Montijo, intitulada como “A Corrida das Flores” vieram da Herdade das Várzeas, no Lavre, Montemor-o-Novo, um curro de toiros da ganadaria de Herdeiros de José Infante da Câmara, com antiguidade reportada a 7 de Junho de 1931 em Lisboa. O encaste desta ganadaria é composto de sangues de Murube-Urquijo e de vários ramos de Parladé. Vinham ferrados, três com o número 7 e três com o número 8, podendo-se dizer que na primeira parte se correram toiros e na segunda, novilhos. Foram anunciados com pesos entre 475 e os 555 quilos, bem apresentados, mas à excepção do primeiro, que se inferiorizou mas mostrou vontade de investir, e do último, um novilho muito bom, todos os outros saíram mansos, com poucas condições de lide. O terceiro deixou-se lidar sem grandes rasgos de bravura.

Estava em disputa um prémio para a melhor pega: o prémio S. Pedro.
O júri era composto pelos senhores Abel Correia, Hugo Branquinho e Francisco Costa, tendo o troféu sido entregue no final, por Hugo Branquinho, responsável pelas actividades tauromáquicas das Festas de S. Pedro.

Abriu a função Joaquim Bastinhas a quem coube um salgado com vontade de investir, que se inferiorizou dos quartos traseiros, não se negando, contudo, à luta. Cravou dois compridos para fixar a atenção do toiro, sem estória. Foi por esta altura que o toiro se inferiorizou e mesmo com muito labor do cavaleiro e vontade do hastado, não deu para mais: quatro curtos a cumprir a papeleta, não acedendo aos pedidos do público para o habitual par de bandarilhas. No seu segundo, nem o toiro entendeu ao que vinha, nem o toureiro entendeu o toiro. Muito trabalho, muita brega, três mudanças de montada. Mas o toiro não queria briga, e só no corredor conseguiu fazer o gosto ao público, com o tradicional par de bandarilhas, tudo o resto, por culpa da fraca qualidade do toiro, não deu em nada.

Rui Salvador vinha com vontade de fazer bem feito o que tinha a fazer, mas calhou-lhe um toiro que o obrigou a trabalhar ainda mais do que previa. O toiro era manso e manhoso, adiantava-se, arrancava inopinadamente, até que o cavaleiro descobriu como lhe dar volta. Nos compridos teve que entrar pelo toiro, com muito querer e valentia, nos curtos, convidava-o a investir para as tábuas, e assim, a aguentar enormidades, descobriu um toiro, que provavelmente nem ele tinha imaginado.
Desta vez houve, mesmo, quinto mau! Para colocar os três ferros compridos, foi preciso um trabalho enorme, mas fê-lo com asseio. Depois, com o toiro em tábuas, fechado, conseguiu três curtos no tempo regulamentar e mais não fez, nem podia, e já muito conseguiu.

Vitor Ribeiro teve sorte tendo-lhe cabido o melhor lote. No primeiro, sempre de frente, quer nos compridos quer nos curtos, dando vantagens, conseguiu uma lide limpa e vistosa, que chegou forte às bancadas, com muita verdade e colaboração do inimigo, embora a contra gosto. No que fechou praça, brindou aos seus alternantes na arena, como se brinda aos toureiros e aqui jogou tudo com o melhor toiro da corrida. Abriu a lide com dois compridos à tira. Depois de mudar de montada, sem recorrer a facilidades, desenvolveu um toureio alegre umas vezes de frente com quarteios bem medidos, outras vezes ao piton contrário, sempre com remates alegres em redondo, a chegar ao público, terminando com um palmito largamente aplaudido pelo público.

Para as pegas os forcados tiveram pela frente toiros que pouco se empregaram nos cavalos e que vinham com a força que haviam de ter gasto. Para pegar o primeiro da noite, Márcio Chapa escolheu entre os homens da Tertúlia Tauromáquica do Montijo o experiente Luís Frieza. Bem a citar, calmo, sem pressas, mas o toiro, embora com dificuldades de locomoção deu um derrote forte que deixou o forcado inanimado na arena – soube depois, pelo forcado que o dobrou, que foi ao hospital fazer exames mas já ia acordado. Foi dobrado por Luís Carrilho que com o primeiro ajuda mais em cima, pegou com eficácia. Quer cavaleiro quer forcado agradeceram no centro da arena, não dando volta. Márcio Chapa quis ser ele a fechar a actuação do seu grupo. Citou e mandou, recuou na cara do seu oponente e fechou-se com garra, no entanto o toiro lutou até final, causando dificuldades ao grupo até às tábuas. Uma grande pega. Se fosse esta a eleita, não destoaria. Volta para ambos os artistas.

Pelos do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, abriu a função o cabo João Salvação. Com muita calma, foi encurtando distâncias mas o toiro não arranca, carregando muito a sorte e só com o toiro já ao alcance da mão, este arrancou com muita pata, como se priva. João recuou o que pode, reuniu como devia e o toiro carregou sobre o grupo que se desbaratou sem que o forcado da cara saísse, ao chegar às tábuas, já sem o grupo por perto, vieram reforços da trincheira que ajudaram a concretizar uma pega cheia de espectáculo e emoção. Volta para cavaleiro e forcado. Para pegar o quinto, manso que passou a lide fechado em tábuas, foi eleito Tiago Paixão. Mesmo correcto na postura não aguentava os derrotes fortes do manso, só à quarta, depois de escutar um aviso e com o grupo em “comboio” conseguiu concretizar a pega. O cavaleiro atravessou a praça, chamou o forcado que não saiu da trincheira, agradeceu nos médios e juntou-se ao grupo, não dando volta. Gesto aplaudido pelo conclave.

Vieram até nós o Grupo de Forcados de Queretaro do México, amplamente brindados pelos artistas durante as lides, e vieram mostrar que para praticar bem esta arte, não é preciso ser português mas respeitar as tradições portuguesas. Vieram e levaram o prémio, aliás muito bem entregue! Para o seu primeiro, António (Toño) Vera escolheu Fernando Jurado, que à segunda tentativa, com um boa primeira ajuda e com o grupo a ajudar, pega o seu toiro de estreia em Portugal. Para o fim estava guardada a cereja, ao melhor toiro da noite fez-se a melhor pega da noite. José Alfredo Caballero, com a calma que a experiência dá, foi-se deixando ver, encurtou terrenos e mandou na sorte. O toiro arrancou forte mas sem fazer mal, levantando a cabeça com o forcado bem lá no alto e com o grupo coeso ajudando com mandam as regras. Deram volta com os cavaleiros em ambos os toiros.

O Mais e o Menos
+ A entrega dos artistas perante tão fraca matéria-prima;
+ A estreia dos Forcados de Queretaro, brindando as suas sortes ao grupos alternantes.
- A qualidade geral dos toiros;
- A malfadada sina dos vendedores que não param durante as lides;
- A mola que impele os bandarilheiros para saltarem à arena mal o cavaleiro crava um ferro, nem que seja só para dar um capotazo.

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