quinta-feira, 7 de julho de 2011

Opinião



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“A verdade é como o Sol. Podemos esconder-nos dela por momentos, mas ela não desaparece”

Foi ontem dada à estampa, no blogue do 'jornal farpas', uma notícia dando conta que serei processada pelo cavaleiro Francisco Palha devido à análise que fiz da corrida de 30 de Junho, no Campo Pequeno.

Tenho dúvidas que essa notícia tenha algum fundamento.

Primeiro, porque é publicada num jornal que é conhecido e reconhecido por procurar o escândalo e a intriga ao invés de se preocupar em dizer a verdade.

Segundo, porque custa-me a crer que um toureiro queira calar alguém que se limitou a descrever o que viu. Ainda assim, e depois do que li nos últimos dias, se calhar devo é ter-me por sortuda por não ter sido alvo de ameaças físicas e de insultos directos. Infelizmente outros não tiveram a mesma sorte...

Enfim, a confirmar-se o teor da notícia, só posso é lamentar que os intervenientes da Festa não aceitem críticas, opiniões e, sobretudo, que não percebam que esta imprensa taurina, aquela que se confunde com uma agência publicitária, só os prejudica. Sim, porque quando só se fala de quem paga, e quando todos são óptimos, ninguém sobressai e não é dado qualquer valor a quem verdadeiramente triunfa!

Mas, na verdade, dou largas à pena por outro motivo:

Faz, no próximo dia 15 de Agosto, 10 anos que comecei a escrever sobre toiros. Fi-lo porque a Festa de Toiros era para mim a maior das paixões. Passava os dias e as noites a ver e a pensar em Toiros, ao ponto de tanta vez chorar porque os meus pais não me queriam levar às corridas. Achava eu, que este era um mundo intocável, onde só os eleitos conseguiriam entrar e eu, contentava-me com pormenores, como por exemplo, ter tirado uma fotografia com a camioneta de cavalos do meu ídolo da altura, o que para mim significou quase como ter ganho uma medalha. Ou o facto de um dia, alguém que na altura para mim já era um ‘herói’ deste meio - hoje é bem mais que um simples herói - me ter dado uma senha de trincheira que ele usara numa corrida e eu, ainda que aquilo mais não passasse de um simples autocolante que nem a mim tinha pertencido, guardei a senha até aos dias de hoje, como se de um tesouro se tratasse.

Para mim, tudo na Festa tinha encanto, sendo a maior das artes e o espaço onde, como disse Hemingway, ‘os homens revelam o que de melhor levam dentro’.

Nesse dia 15 de Agosto de 2001, prometi também a mim mesma que iria ser sempre fiel à minha paixão e que a Festa seria, sempre, a minha única preocupação.

Volvidos estes 10 anos, depois de tanta trica e intriga alguma coisa tinha de mudar… E não posso esconder que o que se tem passado nos últimos dias me enche de tristeza…

Mas engana-se quem pensa que me deixo vencer por aqueles a quem incomodo… Ao fim destes 10 anos a minha paixão pelos Toiros continua tão viva como no primeiro dia em que escrevi uma crónica!

Hoje percebo, é que este mundillo é um mundo de falsidades, de hipocrisias, de favores e de compadrios. Mas percebo também que há quem, como eu, ame a Festa e a queira eterna! Hoje percebo que há muita gente que tem medo de dizer o que pensa, de contar o que vê, de ser verdadeiro. Mas percebo também que há quem, como eu, prefira a Verdade, mesmo que isso traga problemas, processos em tribunal ou ameaças físicas. Hoje percebo que a Festa está de rastos. Mas percebo também que há quem, como eu, não se conforme com esse estado e esteja a dar tudo de si para o mudar. Hoje percebo que há muita gente que prefere ceder ao compadrio, à chantagem, à ameaça, à pressão. Mas percebo também que há quem, como eu, não se deixa abater. Hoje percebo que muitos, assim que têm que assumir uma posição que não agrada a todos, fogem. Mas percebo também que há quem, como eu, esteja cá para assumir e para apoiar quem tenta enfrentar alguns interesses instalados.

Com efeito, passados estes 10 anos, percebo que muito está mal, mas percebo também que continuo apaixonada pela Festa como estava há 10 anos e percebo que não estou sozinha! Porque há cada vez mais pessoas que também mantêm a sua paixão, e que essa paixão é genuína, desinteressada e verdadeira! E é comum! E hoje, mais do nunca, a Festa precisa de gente amiga, apaixonada, desinteressada e verdadeira!

Posso não saber muito de toiros, e não sei. Posso enganar-me às vezes nas análises que faço, e engano. Posso até às vezes ser injusta, e já fui. Mas o que nunca fui nem serei é uma vendida! Ao contrário de outras pessoas e de outros sites, o Naturales não recebe um único tostão de um único toureiro, empresário, forcado ou apoderado. E as pessoas do Naturales não são pagas para escrever nem andam a mendigar publicidade, bilhetes, almoços, jantares ou férias. E muito menos ameaçam quem não lhes faz a vontade com publicidade negativa.

E é por isto que o Naturales e as pessoas que o compõem se podem dar ao luxo de escrever as verdades, de dizer o que pensam e de falar, por igual, de todos os intervenientes da Festa.

E podem ameaçar-nos, podem boicotar-nos, podem insultar-nos, podem processar-nos, podem fazer o que quiserem mas, isso não vai mudar nunca!

Aqui, sempre se defendeu e vai continuar a defender a Festa de Toiros! Mas não a festa do mundillo, não a festa do triunfo comprado da figura A, B ou C. Aqui defender-se-á sempre a Festa da Verdade, a Festa de Hemingway, de Orson Wells, de Picasso, de Llorca, e de tantos outros poetas, músicos, pintores, cineastas e ainda mais aficionados anónimos para quem o Toiro de Lide é o animal mais belo do Mundo!

Como Oscar Wilde disse, “quem diz a verdade pode estar certo de que mais tarde ou mais cedo será descoberto”. Pois bem, com ou sem processo em tribunal, com ou sem ameaças, com ou sem reconhecimento dos nossos pares, o Naturales cá está e estará para ser descoberto e para ajudar a descobrir a verdadeira Festa dos Toiros e para a partilhar com todos aqueles que, como nós, amam esta Arte!

Patrícia Sardinha

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