quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Este ano quero fazer mais corridas" - Entrevista a Pedro Maria Gomes, Cabo dos Amadores de Lisboa

A Temporada 2010 iniciou-se com a despedida de José Luís Gomes, Forcado veterano do Grupo de Lisboa que chefiou o seu Grupo durante largas temporadas. Foi eleito para cabo Pedro Maria Gomes, um jovem embora já com vasta experiência quer dos momentos doces quer dos momentos amargos que ser Forcado trás. Fomos entrevistá-lo neste inicio de 2011 para saber qual o balanço que faz ao seu primeiro ano de cabo e quais as expectativas para a nova temporada.

Tauromania (T) – Pedro, qual o balanço que fazes a esta tua primeira temporada como Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa?

Pedro Maria Gomes (PMG) – Em termos das actuações do Grupo foi uma temporada boa com um sinal negativo que foi o número de corridas – o objectivo era fazermos 20 e fizemos 16 – e o número de lesões que não foram graves mas foram muitas. Em relação a mim como Cabo, acho que correu bem. Naturalmente apareceram algumas situações difíceis e outras inesperadas mas no cômputo geral acho que correu bem.

T – Depois do José Luis Gomes ter sido Cabo tantos anos e de ainda por cima ser teu Pai, tem-te sido fácil marcar o teu próprio espaço?

PMG – Tem, penso que sim. Sempre tentei marcar a minha personalidade, ser eu próprio, mesmo antes de ser Cabo. Todos já me conheciam, sabiam qual a minha maneira de lidar com eles… claro que como Cabo é sempre diferente mas acho que tenho conseguido marcar a minha personalidade.

T – Os aficionados, sobretudo os mais velhos, guardam um certo saudosismo do Grupo de Lisboa dos tempos áureos do Nuno Salvação Barreto. Achas que esta tem sido uma herança pesada de mais?

PMG – Não sei se será… talvez… é claro que é uma herança. Creio que na altura em que o meu Pai agarrou no Grupo o Grupo passava um momento mau e o trabalho dele foi reergue-lo coisa que conseguiu. Penso que o Grupo de Lisboa ainda não voltou a atingir o esplendor que teve nessa época áurea do Nuno Salvação Barreto. Não sei explicar porquê mas uma das razões está certamente no facto do Grupo nessa altura, até porque o próprio Nuno era empresário e chegou a dirigir 17 Praças de Toiros, fazer muitas corridas. Tinha muitas corridas e correspondia, não era só ter as corridas… mas é claro que eram muitas mais oportunidades para se mostrar e para estar rodado.

T – Achas que esse ponto menos positivo de que me falavas do Grupo ter tido apenas 16 corridas faz diferença no aspecto da qualidade?

PMG – O objectivo das 20 corridas não era só por fazer as 20 ou por alcançar um determinado número. O objectivo de ter as 20 corridas é porque o Grupo actual é muito grande e com mais de 30 elementos e apenas 16 corridas é difícil rodar toda a gente e fazer novos forcados. Por isso eu gostava de ter atingido esse objectivo de fazer mais corridas.

T – Com a quantidade de Grupos que hoje existe isso torna-se ainda mais difícil. Achas que há Grupos a mais?

PMG – É, é muito difícil. Para mim é um exagero o número de Grupos que existe tendo em conta as corridas que há. Cada terra tem um Grupo e por poucas corridas que façam acabam por tirar corridas aos Grupos que já existiam.

T – Mas então se o Grupo de Lisboa com 16 corridas sente que isso pode ser um handicap em termos de qualidade para ter a qualidade desejada em todos os elementos, se um Grupo fizer só 4 ou 5 a qualidade é quase impossível, não?

PMG – Sim, é impossível, impossível.

T – É voz corrente que há Grupos de Forcados que para arranjarem corridas angariam publicidade ou ajudam a vender bilhetes para as corridas em que actuam. O que achas disto?

PMG – Acho mal e acho desonesto, sobretudo se isso for a razão pela qual esse grupo faz essa corrida. Uma coisa é num determinado dia, como nos aconteceu este ano no dia da mudança de cabo, o Grupo mediante o interesse dos seus amigos e antigos elementos, reservar um conjunto de bilhetes para essa corrida, bilhetes esses que são pagos com o dinheiro dessas pessoas. Mas se o que se passa é o Grupo ter de comprar bilhetes para depois os vender e andar a vender à porta das praças como já vimos acontecer, isso acho muito mal. E acho igualmente mal e desonesto andar a arranjar patrocínios.

T – O facto da Praça da terra do Grupo de Lisboa ser uma Praça nacional e ser a primeira Praça do país é benéfico ou prejudicial para o Grupo de Lisboa? Pergunto-te isto sobretudo em comparação com outros Grupos que têm na Praça da sua terra um verdadeiro feudo.

PMG – É prejudicial. Para nós é prejudicial. Felizmente ou infelizmente somos de Lisboa mas a praça de Toiros do Campo Pequeno é como o Estádio Nacional, é de todos mas não é de ninguém. Nós é claro que gostávamos de ter a nossa corrida, à imagem do que quase todos os Grupos têm, a sua corrida na sua terra, em que o Grupo pega os 6 toiros e tem naquele dia um dia especial. Nós não temos.

T – Achas que este ano que passou, com a despedida do José Luis Gomes e o Grupo a pegar 6 Toiros em Lisboa, não pode ser o inicio dessa dita “corrida especial em que o Grupo da terra pega os 6 toiros”?

PMG – Acho que sim. Acho que não era nenhum favor que se fazia ao Grupo de Lisboa e acho que toda a gente compreenderia que existisse essa corrida porque isso seria igualar o Grupo ao que acontece aos outros Grupos nas suas terras.

T – Actualmente há um conjunto de Grupos comandados por Cabos novos que além de Cabos são excelentes Forcados e actuam muito. Achas que é importante para o Grupo ter um Cabo que actua?

PMG – Acho que é bom que o Cabo possa dar o exemplo. No entanto nem sempre o Cabo é o melhor forcado do Grupo e por isso penso que o Cabo deve dar sobretudo o exemplo tomando as melhores decisões. Se em determinado momento o Cabo entende que há forcados com mais e melhores condições que ele para fazerem determinada função a melhor decisão é colocar esses elementos a fazê-lo. Há exemplos de óptimos Cabos que não eram Forcados muito activos.

T – Quais é que são os maiores desafios que achas que se deparam aos Grupos hoje em dia no que à pega diz respeito?

PMG - Acho que a preparação física conta muito. Mas é claro que a capacidade psicológica também conta muito. Hoje em dia, e já vem de há uns tempos, há esta mania dos toiros ao Kilo e embora nós saibamos que tanto pode fazer mal um toiro com 450 Kilos como pode fazer um toiro com 650 Kilos, a verdade é que a parte emocional ganha muita importância e pode até contar mais que a capacidade física.

T – Vi, através do vosso Blog que o Grupo tem organizado actividades no defeso como o passeio a cavalo e uma caçada às lebres. É importante para o Grupo manter actividade mesmo no defeso?

PMG – Sim. É uma forma de nos juntarmos e de juntar os antigos elementos e as famílias. São oportunidades de convívio, tal como é o Jantar de Natal e os mais antigos têm correspondido.

T – Quais é que são as tuas expectativas para esta nova temporada?

PMG – Não sei se com esta “crise” haverá ou não redução do número de espectáculos. Espero que não. Mas de qualquer forma, mesmo tendo em conta a crise, eu vou tentar que o Grupo de Lisboa faça mais corridas que em 2010.

T – Quando começam a treinar?

PMG – Em principio é já no próximo dia 22, se o tempo deixar.

T – Os ganaderos continuam a ter abertura para receber os Grupos de Forcados, mesmo sendo tantos?

PMG – Sim, sim, felizmente. O anterior Cabo não era muito apologista de fazer muitos treinos, mas eu pretendo fazer mais treinos do que era costume. Já no ano passado fizemos mais e quero continuar assim.

T – E corridas? Já há algumas marcadas?

PMG – Já, algumas que ficaram apalavradas do ano passado. Neste momento são umas 5 mas ainda é cedo para saber como vai ser a temporada.

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