quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Ofícios que o tempo esquece”

José Alcachão, 56 anos natural de Rio Frio, é embolador em parceria com Carlos Simões, e na temporada passada fizeram um total de 40 corridas de Norte a Sul do país. Embolar toiros, uma arte que nem todos têm capacidade para o fazer. Actualmente existem poucos jovens a dedicar-se ao ofício. “Se isto fosse rosas, toda a gente aqui queria andar, mas também se têm que contar com os espinhos”, afirma José Alcachão.

Uma arte onde o risco também esta à espreita

Taurodromo: O que é a arte de embolar?
José Alcachão: Portanto se for numa praça normal, há uma corda e uma tranca. Laçamos o toiro mete-se a tranca e prende-se o animal mas não é preciso apertar muito basta aconchegar. As vezes como já tem acontecido o animal é muito largo de cabeça e nessa altura tiramos a tranca para lhe podermos meter as embolas é mais um risco que corremos porque depois embolamos o animal sem tranca, ali ele está solto, temos de estar a ver o que ele está a pensar. A embola é feita de cabedal, tem uma protecção de ferro ou inox por dentro a que nós lhe chamamos um copo, para quando o toiro bater não furar os cavalos e para protecção dos forcados.

Taurodromo: Há muitos jovens a dedicarem-se a esta arte, e também às bandarilhas?
José Alcachão: A embolar somos cerca de 20 e poucos no país, mas tudo pessoal mais velho, jovens há poucos, é como digo se isto fosse rosas, toda a gente aqui queria andar, mas têm que contar com os espinhos, não é fácil.

Taurodromo: Quanto tempo leva a fazer uma bandarilha ?
José Alcachão: Não sei. Vou fazendo, às vezes quando estou mais atrapalhado fico aqui na oficina até às três/quatro da manhã. Em 2010 só no mês de Agosto teve 14 corridas utiliza-se em média por corrida 60 ferros e bandarilhas, veja é muito papel a enrolar. Ferros compridos ou ferros de segurança. O ferro é composto com um arpão de 2 barbelas e 8 cm de comprimento, e um taco de madeira de 10cm que é isolado com uma protecção de borracha para fazer os 30cm como manda o regulamento no qual fica tudo enfeitado mas maleável só que alguns toureiros dizem que é uma solução outros preferem os ferros tradicionais e vamos aguardar por novos testes e novas soluções.

Taurodromo: É dispendioso?
José Alcachão: Sim para ter uma ideia há pares de embolas que custam 150 euros e, só são, novas uma vez. Mais os materiais das bandarilhas, ou seja, a madeira e o papel.

Taurodromo: Depois do toiro regressar aos curros, como lhe tiram a ferragem?

José Alcachão: É fácil, como entra também sai. Procuramos a maneira de como a bandarilha entrou, e nós com as costas da faca procuramos-lhe o jeito e tiramos os bicos.

Taurodromo: Quais são as preferências dos nossos Toureiros no que respeita às cores?
José Alcachão: No geral todos os toureiros não gostam do amarelo. Há toureiros que gostam do verde e vermelho, as cores da bandeira portuguesa, por exemplo o João Salgueiro gosta de azul e branco a Sónia Matias é o azul e dourado, etc.

Taurodromo: É uma profissão que também tem os seus riscos?
José Alcachão: A pior é que nós temos de embolar toiros encima das camionetas o que acontece nas praças desmontáveis. Eu já fui parar 3 vezes ao hospital e vários colegas também, já arranquei a cabeça do dedo já parti um braço e levam-se grandes entalões.

Taurodromo: O que poderia ser feito para melhorar o estado da festa?
José Alcachão: Haver mais seriedade por parte de algumas empresas, essa é a base fundamental.

Taurodromo: Perspectivas para a próxima temporada?
José Alcachão: Temos várias corridas agendadas e pelo menos que corra tudo como correu na temporada passada, já é bom.

Taurodromo: Uma mensagem para todos os aficionados…
José Alcachão: Que a temporada seja boa para todos, e que a festa vá em frente…

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