quarta-feira, 31 de março de 2010

Bandarilhas de Segurança - "Histórias como estas podem ter um fim, assim o permitam"


Era uma vez um Homem, sim, Homem. Preparava-se para fazer aquilo de que mais gostava. Entrou em praça com sete dos companheiros das jaquetas às ramagens ao som do cornetim e da filarmónica que abrilhantava a corrida. Findas as cortesias e aquando da 'hora H', enfrentou aquele toiro com a mesma garra, valentia e determinação com que enfrentara já tantos outros, mas o destino, a má sorte ou apenas um conjugar infeliz de circunstâncias, fizeram com que este fosse o último. António dos Santos, cabo do Grupo de Forcados Amadores de Aveiras de Cima, faleceu na Praça de Toiros de Albufeira a 31 de Maio de 1997 quando, numa pega de caras, a quebra de um ferro comprido lhe entrou num olho, atingindo o cérebro.

Este infortúnio do destino abalou a forcadagem, os aficionados, a população em geral... Os ferros não deveriam fazer parte das preocupações dos Homens que pegam toiros.

Infelizmente, esta história sem final cor-de-rosa faz, como todas as outras assim, parte da realidade pura, dura e cruel. Como só no mundo das pessoas reais acontece e deixa marca. Muitos mais valentes Homens existiram (e existem) cuja vida foi (e é) atentada da mesma forma, no entanto tiveram outra sorte, se se pode chamar sorte. A ferragem é apenas um dos aspectos que carecem alteração no que diz respeito à segurança dos forcados, mas existem tantas outras...!

João Pedro Bolota, então cabo do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete, é um dos Homens que teve outra 'sorte'. Ficou cego de um olho, exactamente pela mesma causa: a quebra de um ferro comprido, 35cm de madeira lascada, apontada à face do forcado como que uma lança.

Praticamente uma década depois da morte de António dos Santos, em 2006, apareceu finalmente uma solução – Ferros Compridos de Segurança – cujo modelo foi inventado e registado pelo embolador António Carlos Estorninho. Deixava de haver razão para este tipo de acidentes continuarem a existir. O Sindicato Nacional dos Toureiros Portugueses, a Associação Nacional de Grupos de Forcados e a Inspecção Geral das Actividades Culturais foram devidamente informados, mas nada fizeram, nada. Uma luta constante do referido embolador apoiada incondicionalmente por João Pedro Bolota, hoje empresário, foi travada a cada meta alcançada. Entraves e mais entraves como se os novos ferros não interessassem nem tivessem qualquer importância.

Em 2009, após João Salvação, cabo do Grupo de Forcados do Aposento do Barrete Verde, ter cegado também devido à quebra de um ferro comprido e inúmeros acidentes de menor gravidade depois, foi agendado um primeiro teste à ferragem de segurança onde, surpreendentemente, surgiram outros dois modelos de ferros compridos, até então desconhecidos, dos emboladores Carlos Simões e José Paulo.

Hoje, com três modelos de ferragem comprida de segurança e com um segundo teste adiado sucessivamente, resta uma questão para vós que mandais e que tendes poder para tanta coisa: Quantos mais acidentes serão necessários?

É óbvio que a resolução deste problema é urgente. O tempo urge e os acidentes acontecem. Mas estes são evitáveis! Há três razões para que não aconteçam. A qualidade de cada um dos modelos é discutível, cada um por suas razões, mas os testes, as apresentações e a opinião dos intervenientes na Festa servem para se chegarem a conclusões, ou não?

Embora o uso de qualquer nova ferragem esteja proibido, houve alguém que usou um qualquer protótipo no recente Festival Taurino de Vila Viçosa, mas a experiência vitimou três elementos do Grupo de Forcados Académicos de Elvas, quando o propósito de uma nova ferragem deveria ser evitar acidentes...

Para acabar com este tipo de acontecimentos e com os acidentes devido à actual ferragem, vós que mandais e tendes poder fazei, de vez, alguma coisa!

A mais importante festa da forcadagem será no dia em que, entre outros, as enfermarias de todas as Praças de Toiros tiverem as condições necessárias e a ferragem deixar de ser um problema, que por vezes é fatal.

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