sexta-feira, 30 de julho de 2010

A figura do apoderado


A figura do Apoderado é essencial no toureio, pelo menos tal qual este se é organizado desde há vários lustros. Efectivamente, esta figura demonstra-se essencial não apenas para aqueles que pretendem atingir um lugar neste difícil mundo, em que pretendem apresentar-se em praças com regularidade (sejam eles novilheiros ou cavaleiros praticantes), quer figuras de alternativa tomada, onde são essenciais para defesa destes profissionais, em termos de reivindicar os seus cartéis e datas.

O Apoderado, historicamente é alguém possuidor de um conhecimento superior dentro do meio tauromáquico, capaz de conseguir, pelo uso do seu bom senso e honradez, cujo prestígio possa ser utilizado em prol do desenvolvimento da carreira de alguém dedicado a este género de mister.

Mais, também historicamente trata-se de um contrato celebrado à antiga, i.e., bastando a palavra de honra dos contraentes, pelo que o mesmo é selado com um franco e probo aperto de mão. Ocorre também existir mais que uma espécie de apoderado, consoante as características do respectivo cliente. Assim, há apoderados que o são por serem também empresários tauromáquicos (o que tende a implicar determinadas datas certas para os seus artistas, actual caso de Carlos Pegado e Vítor Ribeiro), outros há que lançam jovens neste meio, os quais sem a sua figura tutelar, jamais conseguiriam iniciar profissão, sendo que, atingido um certo ponto, as figuras de apoderado e artista se tendem a mesclar, ao ponto de se tornarem indissociáveis. Assim, ainda que tenham existido quem exerceu esta função com inquestionável valor em Portugal (recordemos, entre tantos outros, Fernando Camacho que tantos e tão díspares artistas apoderou durante a sua vida..), é em Espanha podemos encontrar actuais e maiores exemplos do que supra tem sido referido. Com efeito, seria que Joselito sem Martin Arranz, Tomás sem Corbacho, ou Ponce sem Victoriano Valência e Juan Ruiz Palomares, teriam tido exactamente os percursos que tiveram?! Suponho que não…

Após todo este intróito, cuja pretensão era a de enquadramento da figura do apoderado, foquemos o real assunto que aqui nos traz. As inúmeras situações que envolvem o cavaleiro tauromáquico e o respectivo apoderado. Efectivamente, e apesar de se ter indicado as características normais do chamado “apoderado tipo”, nada obsta que quem desenvolva esta actividade não possa ser o oposto às mesmas.

O apoderado em causa parece sofrer de um óbice normal à sua tenra idade, a falta de experiência, bem como um excessivo voluntarismo na defesa dos interesses do seu representado. Com efeito, ainda que o traquejo profissional deste apoderado tenha por base o facto de ser filho do seu progenitor, o qual está há longos anos relacionado com o mundo tauromáquico, apoderar um profissional do toureio é algo que pede acima de tudo responsabilidade, bom senso e honra na palavra dada.

Sucede porém que, desde início da temporada, Rui Fernandes viu-se envolvido num caso atípico na alentejana freguesia da Granja, onde se encontrava anunciado frente a novilhos/toiros da Ganaderia de Murteira Grave. Sucede porém a não comparência de Rui Fernandes neste espectáculo e, no seu seguimento, uma troca de acusações entre cavaleiro (por via do seu apoderado) e a organização, a qual vem a culminar com um “veto” da ganaderia em causa a este cavaleiro, até ser apresentado um pedido de desculpas. Algo que veio posteriormente a suceder, permitindo ao cavaleiro enfrentar-se a Graves na Moita em 17 de Julho.

O sucedido aqui foi a imposição de um pedido formal de desculpas ao senhor apoderado, por parte de um ganadero, Dr.º Joaquim Grave, por todos tido como uma das personagens mais reconhecidas do meio taurino nacional.

Toda esta situação foi absolutamente escusada, até porque não se conhece qualquer receio, por parte de Rui Fernandes, na lide de exemplares da Ganaderia Grave (ou de qualquer outra..), pelo que acabou por ser quem se comprometeu a levar o primeiro aquele festival (o apoderado) a acabar por assumir responsabilidades e arcar com inúmeras acusações das quais certamente não se orgulhará.

É a existência de situações como esta, outrora muito menos normais e hoje demasiado frequentes, que potenciam o descrédito da Festa, a qual sempre foi e deve continuar a ser um feudo de bons costumes, em que valoriza a palavra dada pelos seus intervenientes e existe o respeito pelas tradições centenárias do povo português.

Os protagonistas da Festa em Portugal deveriam de uma vez por todas compenetrar-se que o nosso país não é estanque ao mundo exterior e se Espanha, país cuja defesa do mundo tauromáquico nos deixa a anos luz, neste momento se debate com uma tentativa de proibição da Festa brava na região da Catalunha, quiçá tal tentativa não seja assim tão espúria de cá suceder.

A defesa das nossas tradições cabe a todos e cada um de nós mas, como em tudo, devem assumir responsabilidades maiores em tal, quem desempenha papéis mais relevantes. Assim, sabendo o prestígio social que intervir nesta actividade é passível de granjear aos seus actores, é legítimo serem a estes assacadas responsabilidades de maior no desempenho dos seus papéis.

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