quinta-feira, 29 de julho de 2010

O exemplo da Catalunha


O Parlamento Catalão decidiu-se pela proibição das Corridas de Toiros na Catalunha. Ainda não é o fim pois ainda há um conjunto de acções que alguns partidos espanhóis já disseram ir realizar no sentido de anular esta decisão.

Que uma das Regiões de Espanha proíba as Corridas de Toiros é algo naturalmente negativo, sobretudo em termos de imagem porque na prática toda a Catalunha já só tinha 3 praças activas, uma delas a importante monumental de Barcelona e as outras Girona e Lloret del Mar. Esta proibição, se vingar, vai acabar com pouco mais de uma dezena de espectáculos taurinos por ano. No entanto, para nós aficionados e pessoas com cultura suficiente para entender uma Corrida de Toiros, basta a proibição de um só espectáculo para que nos sintamos atacados e prejudicados.

Há duas coisas importantes a notar nesta proibição catalã.

A primeira é de indole politica, na qual cabe perceber-se que a proibição das Corridas de Toiros na Catalunha é sobretudo um ataque à unidade do Reino de Espanha, numa estratégia muito mais ampla cujo objectivo principal e final é a independência da Catalunha. Se o simbolo de Espanha é o Toiro, o que haverá de mais simbolico e mediático para quem procura a separação de Espanha do que atacar o Toiro?

Enquanto portugueses esta questão da unidade do Reino de Espanha diz-nos pouco. Fomos os únicos que na história conseguimos separar-nos de Espanha e conquistar a independência pelo que a única coisa que nos poderá ligar à Catalunha será a inveja que os catalães terão por não terem tido um Afonso Henriques, um Nuno Alvares Pereira ou um Mestre de Avis.

A segunda questão é de indole estratégica, na qual cabe conhecer a forma hábil e paciente com que os inimigos da Festa conseguiram ir acabando com ela na Catalunha e a forma displicente e apática com que os agentes da Festa se comportaram durante um largo período, até perceberem o que tinha acontecido. Esta segunda questão é de toda a importância para os aficionados, sobretudo para nós aficionados portugueses.

Conforme disse no início deste texto a Catalunha só tem actualmente 3 praças em funcionamento. Já teve muitas mais. E o que aconteceu ao longo das últimas três décadas foi que o poder político catalão, quase todo, de forma expressa ou encapotada, pró-independência catalã, e por isso predisposto a atacar a Festa, foi adquirindo as Praças de Toiros e transformando-as noutras valências ao mesmo tempo que iam rotulando as localidades de anti-taurinas e proibindo a realização de Corridas de Toiros.

Ninguém ligou quando o Ayuntamiento comprou a praça de FIGUERES e a encerrou. Que importância tinha Figueres?... Ninguém ligou quando o Ayuntamiento permitiu a demolição da praça de SAN FELIÚ DE GUIXOLS, que importância tinha San Féliu de Guixols?... Ninguém ligou quando o Ayuntamiento proibiu a realização de Corridas em OLOT. Que importância tinha Olot?...

Na verdade, bem antes desta proibição geral do Parlamento já a Catalunha tinha praticamente acabado com a Festa dos Toiros no seu território e para isso não precisou de o fazer de uma vez... foi fazendo e a Festa quando percebeu o que se tinha passado já foi atrasada na sua própria defesa.

Ao recordar estes casos não posso deixar de me lembrar dos nossos casos de Cascais, Viana do Castelo ou Setúbal. O que fez e faz a Festa perante estes casos? O que fizeram ou fazem as Associações que representam os principais Agentes da Festa?

A lição que há para aprender com a Catalunha é que para acabar com os Toiros não é preciso conseguir que o Parlamento tome uma decisão geral e autoritária sobre o assunto. Basta ir minando, basta ir fazendo e basta que nós andemos distraídos.

Podemos estar certos que Viana do Castelo, onde peguei várias vezes com as bancadas repletas, numa Praça com condições magníficas e uma lotação muito acima da média, nunca mais terá Praça de Toiros. E que Cascais também não mais terá Praça de Toiros e que se deixarmos que a Carlos Relvas deixe de ser Praça de Toiros muito dificilmente Setúbal terá outra. Tal e qual como Figueres, Olot ou San Féliu de Guixols.

É fundamental que ao contrário dos aficionados catalães e dos aficionados de toda a Espanha nós estejamos despertos, atentos, prontos e actuantes na defesa da Festa Nacional, na defesa de quem a promove, de quem a permite e de quem dá a cara por ela. É fundamental que a PRÓ-TOIRO venha a ser alguma coisa (por enquanto é coisa nenhuma) e que actue com a força de todos nós que somos a Festa: artistas, ganadeiros, coudeleiros, empresários, campinos, emboladores, ferradores, moços de cavalariça, porteiros, cornetins, apoderados, comerciantes, membros da comunicação social, aficionados, etc. , etc.

Apoiar os Autarcas que apoiam a Festa, acarinhar as figuras públicas que dão a cara pela Festa; Estar ao lado da afición sobretudo a que se situa no Norte do país predispondo-se os nossos artistas e empresários a realizar mais espectáculos nesses lugares; Demonstrar ao poder central que exigimos ser respeitados e defendidos e que estamos atentos à forma como nos tratam; Divulgar a Festa, o Toiro, a Arte Tauromáquica junto do público em geral, sobretudo junto do público mais jovem e do público mais citadino; Unir, promover e defender todo o Mundo Rural e todos os que são verdadeiros defensores da vida animal, incluindo os verdadeiros Caçadores e Pescadores; Defender a nossa concepção do Mundo não só quando somos atacados mas marcando posição permanente.

Escrevi aqui na Tauromania muitas vezes que era fundamental existir uma Plataforma de Defesa e Promoção da Festa. Fizeram a PRÓ-TOIRO. Agora é preciso pô-la a fazer Defesa e Promoção da Festa. O exemplo da Catalunha não nos pode deixar dormir, sobretudo não pode deixar dormir aqueles que têm responsabilidades.

Sem comentários:

Enviar um comentário