sábado, 17 de julho de 2010

Campo Pequeno: a banalização do triunfo…

- Praça de Toiros: Campo Pequeno, em Lisboa

- Data:15 de Julho de 2010, às 22h00
- Empresa: Sociedade do Campo Pequeno, S.A.
- Ganadaria: 6 Toiros de Passanha
- Cavaleiros: António Ribeiro Telles, Pablo Hermoso de Mendoza e João Ribeiro Telles Jr.
- Grupo de Forcados: Amadores de Santarém e Amadores de Lisboa, capitaneados respectivamente por Diogo Sepúlveda e Pedro Maria Gomes
- Assistência: Lotação esgotada
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico Sr. António Garçôa , assessorado pelo médico veterinário Dr. João Maria Nobre
- Banda: Samouco

A Praça de Toiros do Campo Pequeno viveu mais uma nocturna – a 10ª corrida integrada no abono 2010. Intitulada como “Grande Corrida Correio da Manhã” podemos afirmar que esta corrida já faz parte do calendário taurino nacional, não só pelo número de edições já realizadas, como também pelo apoio que aquele jornal diário dá à Festa de Toiros, o que é de registar e enaltecer.

Nesta nocturna de ontem houve de tudo um pouco no que diz respeito ao toureio a cavalo. Toureio clássico e de verdade e rejoneio puro, baseado nos adornos e no “numerozito do cavalo”. O público – soberano – decidiu premiar o segundo estilo. Em resumo, assistiu-se a mais uma saída em ombros pela Porta Grande, que veio reforçar a ideia cada vez mais forte que o triunfo na primeira praça de toiros do país se tornou banal e, que em vez de toureio puro e de verdade, se premeia o acessório e o adorno…

À praça saíram seis exemplares de quatro anos da ganadaria Passanha, com apresentação muito desigual e com pesos a oscilar entre os 564 Kg e os 500 Kg. Os toiros não complicaram a vida aos artistas, com excepção do último da corrida, um toiro reservado e que cedo desistiu das investidas.

O mestre dos cavaleiros clássicos portugueses – António Ribeiro Telles – abriu praça tendo pela frente um toiro que cumpriu, sem complicar o trabalho do Maestro da Torrinha. António Telles deixou três ferros compridos da ordem, cravados com correcção e acerto. Nos curtos esteve bem a bregar e a preparar as sortes, procurando sempre os melhores terrenos para cravar. Destaca-se o primeiro ferro curto e o quarto, cravado ao estribo com muita classe. Já no segundo do seu lote, António Telles esteve em plano de maestro. Com um toiro que andou sempre ligado durante toda a lide e que mostrou codicia, António toureou a gosto e com verdade, dando uma lição de classe e elegendo bem os terrenos das sortes. Deixou os dois compridos da ordem, correctos e cravados à tira. Na ferragem curta, Telles deu uma lição de classe, preparando bem as sortes, revelando bonitos pormenores de brega e tentando sempre cravar “en su sitio”. Deixou seis ferros curtos, destacando-se o primeiro, com o toiro colocado no centro da arena e cravado ao estribo como mandam as regras, bem como o quarto, com sorte bem preparada e colocado numa reunião justa ao estribo.

O rejoneador espanhol Pablo Hermoso de Mendoza voltou a Lisboa, depois de no passado mês de Maio não ter rubricado na arena do Campo Pequeno nenhuma actuação de “encher os olhos”. Nesta noite, no primeiro toiro do seu lote (feio de apresentação mas que andou sempre ligado ao cavalo e cavaleiro), Pablo cravou dois compridos à tira com determinação. Nos curtos, o rejoneador de Navarra mostrou bons pormenores de brega e tirou todo o proveito das suas excelentes montadas no remate das sortes. Dentro do seu estilo muito próprio deixou cinco ferros, com destaque para o terceiro com uma reunião bem conseguida. No quinto toiro da corrida, Hermoso de Mendoza baseou toda a sua lide em adornos durante a brega, em detrimento do toureio de verdade. Deixou os dois compridos da ordem de forma regular. Na ferragem curta, com excepção do primeiro ferro – cravado com batida ao piton contrário – e o quinto colocado ao estribo, toda a restante ferragem foi colocada já na garupa do cavalo. No final de cada lide, Pablo foi premiado com duas voltas e consequente saída em ombros no final da corrida… As suas duas actuações não justificaram este triunfo.

O mais jovem ginete da Torrinha apresentou-se no Campo Pequeno, num cartaz com duas grandes figuras do toureio equestre mundial, com dois estilos totalmente distintos. Nesta nocturna da capital João Ribeiro Telles Jr. quis “marcar o seu espaço” rubricando duas lides distintas, resultado da “matéria-prima” que lhe calhou pela frente. No primeiro do seu lote – um toiro que não complicou – Telles Jr. deixou dois ferros compridos de boa nota, com destaque para o segundo. Já nos curtos mostrou-se alegre na preparação das sortes e mostrou preocupação na eleição dos terrenos mais correctos para a cravagem. Destaca-se o segundo ferro curto, bem preparado e o quarto cravado ao estribo. Terminou a sua lide com um ferro de palmo. No último toiro da corrida, João Telles Jr. teve pela frente o pior toiro da corrida. Recebeu o oponente à porta dos curros deixando de seguida três ferros compridos bem cravados. Com o toiro a vir a menos, o mais jovem cavaleiro da Torrinha cravou quatro ferros curtos, sendo o quarto o de melhor impacto, numa justa reunião ao estribo. Quis terminar em beleza, cravando dois pares de bandarilhas. Destacamos o primeiro cravado entre tábuas e em terrenos de compromisso. Foi pena ter insistido em deixar o segundo par, já com o toiro totalmente parado e que não veio acrescentar nada a sua lide. Um pormenor a ter em atenção em futuras actuações.

Quanto ao capítulo da forcadagem, abriu praça o Grupo de Forcados Amadores de Santarém. À cara do primeiro toiro foi o forcado Pedro Torres. Citou com muita serenidade, mandou vir o toiro que arrancou com pata na sua direcção e reuniu muito bem à barbela, aguentando até à chegado das ajudas, que fecharam com coesão. Para a cara do terceiro da noite foi escolhido o forcado Gonçalo Veloso. Dono de um cite alegre e elegante, mandou vir o toiro no meio da praça, controlando sempre a sua investida. No momento da reunião o passanha baixou a cara mas o forcado fechou-se com decisão, ficando na cara do toiro com alma até o grupo ajudar coeso. Para encerrar a noite dos escalabitanos foi à cara do quinto da noite o forcado António Grave de Jesus. Citando sereno e vistoso, aproximou-se dos terrenos do toiro mas não reunião bem. Na segunda tentativa voltou a citar com calma, mandou vir o toiro, mas este derrotou alto tirando o forcado da cara, que acabou sair lesionado. João Torres foi o escolhido para dobrar o companheiro. Mudando de terrenos e com ajudas mais carregadas não conseguiu ficar na cara do toiro que entrou pelo grupo dentro. Foi já com ajudas muito carregadas que se fechou bem, consumando assim a pega.

Em relação à actuação do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, o forcado Gonçalo Maria Gomes foi o escolhido para pegar o segundo toiro da corrida. Determinado no cite, mandou na investida e recuou o suficiente para reunir correctamente, aguentando depois sozinho na cara do toiro até às ajudas chegarem tardias mas ainda assim resolvendo bem e consumando a pega. Pedro Miranda foi o forcado da cara no quarto toiro da noite. Citou com muita calma, mandou vir o toiro e reuniu com decisão, com as ajudas a mostrarem eficácia e fechando coesas nas tábuas. Para o último toiro da corrida o escolhido foi Manuel Guerreiro. Na sua primeira tentativa citou alegre, chamou o toiro mas este no momento da reunião baixou a cara e o forcado não conseguiu ficar. Na segunda tentativa esteve correcto a citar, mandou na investida e reuniu com decisão. O toiro entrou pelo grupo dentro mas ajudas recompuseram-se a tempo de fechar e consumar a última pega da noite.

O Mais e o Menos
+
A segunda lide de António Ribeiro Telles. Classe e toureio de verdade.
+ A pega de Gonçalo Veloso.
- O público é soberano. Paga o seu bilhete e quer divertir-se. Mas na primeira praça de toiros do País há uma grande falta de critério nos triunfos. O bom toureio é ignorado e o toureio de adornos e números fáceis é premiado. É urgente repensar esta situação. O Campo Pequeno é uma praça de referência – a mais importante praça de toiros de Portugal – e aqui o triunfo tornou-se totalmente banal.

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