sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Na véspera da Feira de Outubro entrevista a Maria da Luz Rosinha

Em vésperas da tradicional Feira de Outubro de Vila Franca de Xira fomos ao encontro da Presidente desta Autarquia, Maria da Luz Rosinha, para uma conversa sobre a Festa no país, em Vila Franca e na Palha Blanco.


Tauromania – Maria da Luz Rosinha, acha que a Festa se pode organizar melhor para na sua relação com o Poder estar menos exposta ao “gosto” ou “não gosto” dos titulares das pastas que a tutelam?

Maria da Luz Rosinha – Eu creio que de uma vez por todas deveriam haver algumas decisões a nível da Assembleia da Republica que permitissem haver legislação que defendesse a própria Festa. A questão do “gosto” ou “não gosto” é na minha opinião uma falsa questão. Quando falamos da Festa até parece que estamos a falar da única situação onde se situam os amores e os desamores. Não é verdade. Há pessoas que não gostam de futebol e há fanáticos que não falham a um jogo. Neste contexto o que há em relação à Festa é algum sensacionalismo e mediatização à volta dos acontecimentos de contestação pois a comunicação social vive de noticias e busca a noticia. Assim, se um grupo de pessoas se manifesta nua contra a Festa dos Toiros isso é noticia, mas é-o sobretudo porque normalmente as pessoas andam vestidas. Aliás, sendo a Festa dos Toiros o espectáculo que reúne mais espectadores a seguir ao futebol nem sequer se compreende esta “guerra” que acaba por ser até um desrespeito para com os aficionados e para com uma tradição que é secular no nosso país e que na minha opinião nunca vai acabar. Mas quando chegamos ao espaço dos políticos é que a coisa se complica porque a hipocrisia tem um grande peso e está a começar a ficar consagrado que ser contra os Toiros é que é politicamente correcto e isto não é assim. Já muita coisa diferente se passou, já houve alturas em que parece que era requisito para ocupar alguns lugares ser contra os toiros mas também já tivemos Presidentes da Republica aficionados e actualmente temos uma Ministra da Cultura e um Secretário de Estado da Cultura que são aficionados e vão aos toiros, coisa que eu não considero nenhum acto de coragem. Acho simplesmente normal e correcto, como acho quando outros vão ao futebol e até nem escondem a sua simpatia clubistica mesmo quando vão enquanto titulares de cargos públicos. Há que respeitar a liberdade de cada um e aos políticos cabe respeitar a vontade do povo. Foram eleitos para isso. A opinião individual de cada politico quase não devia contar, o que deve contar é a opinião de quem os elegeu.

Tauromania – Pelo que nos respondeu não preciso de lhe perguntar se enquanto autarca acha que tem legitimidade para decidir que o que se pode ou não pode ver no seu concelho, como fez o antigo autarca de Viana do Castelo, Defensor Moura.

Maria da Luz Rosinha – Pois, não precisa.


Tauromania – Subscreveu a Petição em Defesa da Festa de Francisco Moita Flores?

Maria da Luz Rosinha – Sou uma das subscritoras da Petição que considero fantástica, que se constitui numa verdadeira peça de poesia e muito entusiasmo e que já tem milhares de assinaturas.

Tauromania – Falemos agora do Município de Vila Franca. A Autarquia gere em parceria com o Clube Taurino a Escola de Toureio José Falcão. Conte-nos um pouco como é feita a gestão da Escola. E aproveito para lhe perguntar, uma vez que em décadas de existência a Escola apenas deu um matador de toiros, se a Escola deve ser sobretudo uma escola de aficionados ou deve mesmo buscar formar matadores de toiros?

Maria da Luz Rosinha – A pergunta que me está a fazer é uma pergunta difícil, não pela resposta que lhe vou dar mas sim pelos melindres que as avaliações sempre causam.
Neste momento a Câmara Municipal é a única entidade que suporta financeiramente a Escola dando a Junta da Freguesia alguma apoio logístico e o Clube Taurino ajuda na organização. Devo dizer que a Câmara Municipal escolheu para a representar na Escola a melhor pessoa que podia ter escolhido: uma pessoa aficionada, uma pessoa que gera uma disponibilidade enorme para a Escola e que ainda gasta da sua algibeira. Aliás, são duas pessoas, uma nomeada pela Câmara Municipal e outra acompanha os alunos e os trabalhos já nomeada pela própria Escola e que são o António José Inácio e o José Manuel Rainho. Sem estes dois elementos a Escola já há muito tempo que havia terminado.
A Escola teve um momento baixou mas está novamente num momento alto tendo re-ganhado a confiança dos pais que voltaram a acreditar que a Escola é capaz. Neste momento com um novo orientador na Escola, que é o Maestro Vitor Mendes, que substituiu o Maestro José Julio que se reformou pois tinha todo esse direito uma vez que já tinha ultrapassado a idade para a reforma.
Respondendo à segunda parte da sua questão a Escola não existe para formar aficionados. Esse é o destino fatal dos que não revelarem condições para ir mais além. É preciso perceber que nem todos os que vão para a Escola vão ser toureiros, como tenho ouvido várias vezes o Maestro Vitor Mendes dizer aos alunos, mas o objectivo da Escola José Falcão deve ser formar novos artistas. Quando isso não acontece então sim ficamos com a certeza de que pelo menos a Escola formou aficionados e aficionados dos bons, dos que sabem ver e apreciar porque sabem do toureio. Mas acreditamos que a Escola formará novos artistas, até pelo número de alunos que temos e é por acreditarmos que a Escola de Toureio José Falcão é a única em Portugal que é filiada na Federação Internacional de Escolas Taurinas e que continua a organizar Bolsins de promoção de novos valores e outras organizações internacionais.


Tauromania – Falemos agora do Toiro na rua que é uma realidade tão presente e importante nas Festas de Vila Franca. Do ponto de vista logístico a operação das “Esperas e Largadas de Toiros” parece impecável. Mas no aspecto do espectáculo as largadas têm sido demasiadas vezes um tédio. Acha que o Município pode fazer alguma coisa para mudar isto?

Maria da Luz Rosinha – Olhe, eu depois de cada Espera de Toiros pergunto: “houve alguma colhida?” Se houve foi bom. Se não houve não prestou. Porque a Espera e a Largada estão sempre associadas ao risco. Quanto mais emoção houver melhor é a Largada. Mas hoje em dia as pessoas já não brincam como brincavam antigamente. São muito menos os que arriscam. Eu lembro aqui uma pessoa, que os mais antigos recordam, que era o “Maneta”, chamado assim porque não tinha um braço, que era uma verdadeira figura das ruas de Vila Franca pela forma como brincava com os toiros.
Hoje as coisas passam-se de outra maneira. Até os toiros são diferentes. Aqui há uns anos pensei que talvez fosse melhor largar nas esperas toiros puros mas a verdade é que não correu bem. Não foi melhor.
Nós temos uma Comissão, que existe há vários anos, composta pelo Clube Taurino e pelo senhor Joaquim Carlos, pessoas conhecedoras, que fazem a escolha dos toiros na tentativa de que tudo corra da melhor forma, mas assim como nas Praças nós hoje vimos curros não cumprem também nas Esperas por vezes sucede o mesmo.

Tauromania – Acha que poderia haver algum incentivo para que as pessoas brincassem mais? Por exemplo um prémio para o melhor recorte?

Maria da Luz Rosinha – É uma ideia… teríamos de ter um júri e fazer esse prémio nos vários locais da Espera. Vou pensar nisso…

Tauromania – Vila Franca tem aquilo que em termos futebolísticos se pode chamar um Grupo de Forcados “grande”. Como analisa o que actualmente se passa com o nascimento de muitos Grupos de Forcados em diversas localidades, que são muito apoiados pelas suas autarquias até na angariação de corridas, realidade que causa forte concorrência por exemplo ao Grupo de Vila Franca?

Maria da Luz Rosinha – Não sei bem do que me está a falar…

Tauromania – Dou-lhe um exemplo: disponibilização de autocarros para levar pessoas do Município a ver a corrida do Grupo desse Município noutra terra.

Maria da Luz Rosinha – Mas parece-me que isso ajuda mais o empresário que realiza a corrida do que o Grupo. Olhe, eu não acho isso sério. Que um empresário coloque como condição para incluir um Grupo num cartel outra que não seja a qualidade, não me parece sério. O Grupo de Vila Franca tem valor de sobra para que qualquer empresário o inclua por isso mesmo, não precisa de outros incentivos. Mas isso é fruto dos tempos… é falta de qualidade das pessoas, dos empresários…
Nós apoiamos o empresário aqui em Vila Franca, para que possa baixar os preços dos bilhetes e permitir a ida de mais público e nas nossas conversações colocamos como condição que a empresa conte com o Grupo de Vila Franca, com os valores da terra e com os alunos da Escola José Falcão. Agora fora do Concelho, imporem como condição para que um Grupo vá outro tipo de inventivos, isso só pode acontecer se o Grupo não tiver valia nem méritos para ser incluído por si próprio. E aí estamos a falar de uma adulteração completa da Festa.

Tauromania – Falemos agora da Palha Blanco. Conceptualmente como acha que deve ser a relação da Autarquia com uma empresa privada promotora de espectáculos mas que promove um espectáculo que é fundamental para a identidade da própria terra e das suas festividades?

Maria da Luz Rosinha – Nós fazemos da seguinte forma: discutimos o programa com o empresário que nos apresenta o seu projecto para a temporada. Depois discutimos a questão do preço dos bilhetes e o nosso apoio é no sentido de que haja bilhetes a preço baixo e temos hoje em dia muitos bilhetes a 10 € para os espectáculos da Palha Blanco o que possibilita que muita gente possa ir. Temos mantido uma relação que considero muito séria. E do ponto de vista geral o Município de Vila Franca é dos que mais apoia a Festa, também em termos de obras – não esquecer que a enfermaria da Palha Blanco que é a melhor do país foi fruto do empenho do Dr. Luis Ramos e do envolvimento financeiro da Autarquia e da Misericórdia e que a Praça sofreu obras de melhoramento no sentido de corresponder às exigências legais.
E pensamos também em termos futuros, não deixando de estudar com a Misericórdia no projecto de cobrir a Praça dotando-a de uma muito maior capacidade de utilização. Não é uma coisa fácil, sobretudo nos tempos que correm, mas não deixamos de pensar nisso.



Tauromania – Com muitos bilhetes a 10 € e com os bons carteis que reconhecidamente a Tauroleve tem apresentado, tal como a Toiros & Tauromaquia já havia antes apresentado, porque é que a Palha Blanco continua a ter baixas lotações e uma baixa adesão dos vilafranquenses?

Maria da Luz Rosinha – Não sei explicar pois os de cá nem precisam de estacionamento… mas mesmo os que dizem que não vêm por causa do estacionamento não têm motivos para isso pois temos o parque de estacionamento da Quinta da Mina, o estacionamento do Centro Comercial, o estacionamento na entrada norte de Vila Franca e vamos ter o estacionamento no campo pela do UDV. Não se percebe porque é que as pessoas insistem em estacionar à porta da Praça de Toiros…

Tauromania – Se calhar porque os de fora não sabem ir dar à Quinta da Mina… Não acha que as pessoas podiam ser ajudadas a encontrar estes espaços de estacionamento que afinal até ficam perto da Praça?

Maria da Luz Rosinha – Existem indicações mas eu vou tomar atenção a isso e falar com a Junta da Freguesia para que na Feira se reforcem indicações dos locais de estacionamento e da forma como lá chegar.

Tauromania – E os de Vila Franca, que já estão estacionados?

Maria da Luz Rosinha – Olhe, aqui o Largo da Câmara é um bom sitio para fazer esse estudo. Quando sair daqui pergunte às pessoas se costumam ir aos toiros. Seria um bom complemento a esta entrevista.
Eu não gosto nada dos aficionados de esquina… que só dizem mal mas que não vão e que por isso não contribuem para o futuro da Festa. A presença do público é, a seguir à presença do toiro, o mais importante na Festa.

Tauromania – Acha que é uma espécie de exigência bacoca dos vilafranquenses que só iriam à Palha Blanco se nela se anunciasse o Enrique Ponce e o Pablo Hermoso?

Maria da Luz Rosinha – Olhe, acho que alguns nem conhecem esses nomes… não me parece que seja isso. É um espírito negativista que marca muitos espíritos aqui. Eu não me esqueço que em 2001 quando aqui se realizou o Congresso Mundial das Cidades Taurinas que foi um sucesso inigualável do ponto de vista da Festa e da projecção do nome de Vila Franca de Xira no exterior, houve quem na véspera do encerramento tenha colado cartazes nas portas a denegrir a organização desse acontecimento. Foram vilafranquenses e aficionados com certeza pois se não fossem era-lhes indiferente. Aficionados, mas aficionados de má qualidade que são aqueles que ficam nas esquinas, só dizem mal, mas não fazem nada para que algo melhore.



Tauromania – Em véspera de Feira de Outubro, com 4 espectáculos na Palha Blanco, ninguém melhor do que a Presidente da Câmara para nos deixar um convite a vir a Vila Franca.

Maria da Luz Rosinha – Não percam a oportunidade de vir a Vila Franca durante esta Feira de Outubro e de assistir aos espectáculos na Palha Blanco. Deixo o convite: venham com tempo pois Vila Franca é um sítio excelente para se comer, com vários restaurantes para todas as bolas, é um sitio excelente para passear, poderão visitar o Museu Municipal ou o Museu do Neo-Realismo, tomar um café no Café Central e ir calmamente a pé para a Praça de Toiros onde se esperam grandes espectáculos. Verão que conseguem estacionar a 5 minutos da Praça, passear, comer e conviver e assistir a uma Corrida de uma forma que certamente valerá a pena! Fica o convite.

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