segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Prémios e Critérios, compilação 01

Primeira compilação de respostas à questão levantada acerca do método de atribuição de prémios no final das actuações.

No momento em que escolhi este tema e pensei na forma de o abordar, percebi que que não se trata de um assunto confortável para a maioria das pessoas, pois no geral há uma espécie de comodismo que os impede de falar ou então são pessoas cuja actividade na festa poderá ser comprometida ao tomar uma posição que vá contra o modelo actualmente instalado.

Todas as pessoas com quem abordei o assunto são a favor de uma reorganização desta parte dos espectáculos, sinceramente não encontrei ninguém que me dissesse que isto não poderia estar mais organizado e que uma atribuição justa dos prémios seria muito benéfica para a festa.

Sinto que esta preocupação de fazer algo para que a nossa festa se reinvente e traga aos aficionados mais e novos motivos para ir aos toiros, é uma preocupação generalizada. Todos temos em consciência que há que fazer alguma coisa, o que agora me preocupa mais é o porquê de ninguém fazer nada? Porque raio de motivo é que todos ficam impávidos e serenos a ver que uma boa parte dos toureiros de hoje dá voltas à arena sem qualquer espécie mérito e a única coisa que são capazes de fazer é comentar com o amigo do lado "isto é uma vergonha, já se dá voltas por tudo e por nada",...

Felizmente que ainda há bons professores de toureio na festa, embora escassos, ainda se vê alguns dos mais velhos a baixar a cabeça quando percebem que não estiveram bem e a não se darem ao desplante de maçar os aficionados com voltas à arena desprovidas de fundamento. Felizmente que alguns dos mais jovens toureiros lhes seguem as pisadas, pois embora a sua vontade de triunfar seja muita, o respeito e a seriedade são valores mais importantes.

Este assunto não fica encerrado com esta compilação de respostas, antes pelo contrário, fica aberto para que todos os que não nos enviaram nada antes tenham a oportunidade de o fazer. Para isso basta enviar por email para pensamentos@tourobravo.com


Fernando Marques

"Todos não somos demais para exigir uma Festa com mais verdade.

Estou absolutamente de acordo com os princípios deste “pensamento” e, de forma mais contundente, quando afirmas que, qualquer dia, podemos ter problemas graves na Festa de que tanto gostamos, sem que sejam os anti-taurinos a fazer por isso. Na maioria dos casos que delapidam a verdade na Festa dos Touros, o mal não vem de fora, o mal está dentro da própria Festa. Os profissionais deveriam ser os primeiros a pugnar por aspectos como este e interrogarem-se: Merecemos ou não o prémio pela nossa actuação?

Fernando Marques"


Cristina Estorninho

"Bom dia,

Já li o artigo embora, confesso, não com a atenção que lhe é merecida. No entanto, arriscando cometer algum erro e numa breve apreciação de quem não despendeu o devido tempo a analisar o tema em questão, penso que uma votação apenas, porque a lide de um toiro é por si só um acto único, levar-nos-à a cometer o mesmo erro que se comete hoje em dia, ou seja, por exemplo, de uma excelente pega com uma actuação menos boa do cavaleiro resultaria uma volta à arena em que, neste caso, como em muitos, o cavaleiro vai, claramente, 'à boleia' do forcado, sem o merecer de todo... Mas também concordo que duas votações seria alongar demasiado o espectáculo. As voltas de agradecimento deviam partir do bom senso e sentido de dever cumprido dos artistas e não de um capricho, como se de regra se tratasse, dar uma volta devolvendo casacos e recebendo flores do público, com um sorriso idiota e hipócrita no rosto, quando todos sabem, até o próprio, que não deveria estar ali. Penso que este tema tem muito para dar... Talvez devessem ser os directores de corrida a decidir isso, mas há directores e Directores e delegar essa responsabilidade numa só pessoa também não seria o mais correcto. Quem sabe se um júri de 3/4 pessoas assessorado pelo director de corrida seria a solução, mas isso tiraria o 'poder' ao público... Quem, diga-se em abono da verdade, nem sempre faz a melhor apreciação das lides. E voltamos à estaca zero.

Cumprimentos,
Cristina Estorninho"


João Sousa Faustino

"Olá sou o João Faustino, e referente ao texto aqui apresentado sobre as ditas " Voltas", na minha opinião acho que seria uma medida a avançar para deliberação do IGAC, mas com uma única diferença da quilo que nos propõe.

Em Espanha como disse e bem, a voltas são decididas pelo publico e aprovadas pelo Director de corrida, em Portugal as voltas também são decididas pelo publico, mal ou bem, mas no caso do que o senhor nos propõe em relação aos lenços brancos, acho que isso quando a mim era escusado , temos de ser bons por aquilo que nos somos, não pelo que são os espanhóis , por isso acho que o necessário seria a petição da volta, naturalmente através das palmas expressões dirigidas ao cavaleiro etc , como hoje é, mas a única diferença era que o cavaleiro antes de seguir para a volta seguinte teria de esperar pela ordem concedida pelo Director de corrida para que lhe fosse concedida a mesma , ou lhe fosse recusada.

È a minha opinião.

Obrigado"


João Cortesão

"Meu caro amigo:

Li com toda a atenção a sua proposta e os seus comentários a propósito dos prémios, e não posso estar mais de acordo.

Eu próprio sugeri á direcção do Centro Equestre de Mont. O Velho, novos critérios que foram seguidos, com relativo êxito, embora essa proposta possa vir a melhorar.

Desde já me ofereço para estar consigo em todas as acções que julgar convenientes, além de procurar atrair para a sua cruzada a admiração dos meus amigos.

Não vai ser fácil contrariar os costumes enquistados, mas atendendo a que os concursos de ganadarias e os prémios para pegas e actuações estão cada vez mais na moda, é indispensável regulamentação.

Quanto ás voltas á arena, o ridículo de algumas é tão evidente que dispensa comentários.

Muito me é grato verificar que, alguém tem ideias e se preocupa com os problemas da "Festa".

João Cortesão"


Rui Marques

"Caro Flávio Oliveira

Foi com bastante agrado que vejo no seu artigo algumas das minhas preocupações. A temática exposta faz todo o sentido, trata-se de um assunto bastante relevante e que devia merecer maior atenção por parte dos diferentes agentes da festa, contudo, é sem sombra de dúvida um tema que não é querido à maioria destes.

Ao longo dos últimos anos, temo-nos vindo a habituar, (embora eu seja daqueles que teima em não se querer habituar a esta realidade), a um "adormecimento generalizado do espectáculo taurino".

Começamos pelos toiros, com todo o respeito que os ganaderos me merecem, temos verificado uma alteração de estratégia por parte deste, no sentido de conseguirem escoar os seus produtos, alterando por completo as suas linhagem. Vemos nas nossas praças, anunciadas ganadarias com nome feito, assente no trabalho desenvolvido no passado e que nos dias de hoje, aborrecem qualquer aficionado. Verifico que há a preocupação por parte de alguns ganaderos em selecionar um produto que seja cada vez mais do agrado dos toureiros (de alguns, os mais poderosos), porém, considero este pensamento errado, evidenciando falta de personalidade da parte destes. Não nos podemos esquecer que o elemento principal na festa é o TOIRO, este sim, deverá ser o centro da nossa atenção. Sem toiros, não há razão para haver toureiros, cavaleiros, cavalos de toureio, forcados, bandarilheiros, campinos, emboladores, não fazem sentido as praças de toiros, logo não há aficionados. Este animal que tanto gostamos, deve ser criado com o intuito de permanecer bravo, aquilo que observamos nas nossas praças, são toiros mansos, sem casta, sem força, desinteresados, a fugirem para tábuas, a renunciarem à luta, a rasparem, sem mobilidade, sem transmissão, sem emoção, sem perigo. Como observador, tenho que considerar que a selecção que tem vindo a ser feita ao longo destes anos, nada tem beneficiado a dignificação do toiro. Este tem vindo progressivamente a tornar-se cada vez mais cómodo, isto traduzido, quer dizer, manso.

Os cavaleiros, por sua vez, têm vindo a adaptar as suas montadas ao novo toiro. Já nos habituámos a ver os cavaleiros a recorrerem a 3, 4 cavalos (todos eles especializados, cada qual na sua área, nem que seja a morder os toiros), quebrando por completo o ritmo do espectáculo, mas o povo gosta...
Se apelarmos à nossa memória, podemos recordar algumas frases pré-feitas, verbalizadas por muitos cavaleiros nas entrevistas rápidas, realizadas nas corridas televisionadas, "...penso que dei a lide adequada, não era o toiro que desejava, mas senti-me bem, o público gostou, divertiu-se e isso é o mais importante...". Realmente o público pode gostar, mas o aficionado não gosta. Temos que assumir que há uma diferença significativa entre o público e o aficionado, embora, os dois tenham algo em comum, vão aos toiros para se divertirem. E porque será que o público se diverte e o aficionado tem poucos momentos de diversão? A resposta é simples, o público sendo desconhecedor do saber taurino, acaba por se divertir, porque é enganado sem se dar conta. O aficionado não aceita, nem tolera, os sucessivos episódios que temos vivido nos anos mais recentes.

Se verificarmos a nossa emprensa taurina, temos em todas as corridas triunfador(es), por vezes deconhecendo-se o motivo de tal consideração. Será oportuno relembrar qual o significado da palavra triunfo: grande vitória; acontecimento que assegura uma vitória; êxito completo; sucesso; júbilo (in Dicionário Porto Editora). Neste sentido, enquanto aficionado, não posso aceitar que se considere como triunfal uma qualquer lide, só porque o cavaleiro deixou a praça em delírio, levantando o público das bancadas. Mas será que esse mesmo cavaleiro levantou os aficionados? Como sabem estou a falar de espectáculo tauromáquico, que não deve ser confundido com qualquer outra arte, nem mesmo a circense, que tanto respeito.

Como aficonado que me considero sinto-me descrente no rumo que a festa dos toiros está a levar, como tal, não posso ficar indiferente ao que se passa em meu redor.

Recentemente, presenciámos numa das principais feiras do nosso país, a um acto desesperado de revolta por parte do público, para com o seu ídolo, reclamando o número habital, que tantas alegrias dá à populaça.

No nosso Campo Pequeno, Catedral do Toureio Equestre, verificamos noite após noite, voltas e mais voltas que mais parecem um qualquer "carrocel", culminando em triunfos e saídas em ombros pela ansiada Porta Grande. Para alguns é quase obrigatória a saída em ombros, para outros, não passam de miragens (apesar de merecidas).

Temos que ser exigentes, é nosso dever promover a cultura taurina, o conhecimento cada vez mais profundo do toiro, da lide a cavalo, da pega, para que deste modo, possamos ser justos na atribuíção dos prémios aos intervenientes no espectáculo. No momento actual, são os próprios toureiros que decidem se devem ou não dar a volta, o que me parece um completo absurdo. Então para que serve o público/aficionados? Qual o seu papel na festa?

Como na generalidade dos espectáculos, é o público que através das suas manifestações, atribui o êxito ou o fracaço aos artistas.

O público/aficionados têm que de uma vez por todas, assumirem as suas responsabilidades na festa. É nosso dever separar o "trigo do joio", ou melhor, defender a verdade e condenar a mentira. Para tal, tem que haver um critério, que deve estar estabelecido regulamentarmente, para todos os espectáculos taurinos. Tal procedimento deve ser interiorizado pelo público/aficionados, para uma correcta atribuíção dos prémios e pelos intervenientes, que devem aceitar as deliberações do soberano.
Vai ser duro, porque a oposição vem de dentro... mas vamos em frente.

Rui Marques"

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