quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Em 2011 continuaremos a nossa batalha: pegar bem e arranjar corridas" - Entrevista a Nuno Vinhais, Cabo dos Amadores das Caldas, em vésperas da prime

A Temporada 2011 tem a sua primeira corrida formal no próximo Sábado, 12 de Fevereiro, em Vinhais. O Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha faz parte do cartel e por isso fomos entrevistar o seu Cabo, Nuno Vinhais, para ouvir quais as expectativas para 2011 e qual o balanço que faz da temporada de 2010.

Tauromania (T) – Quais são as expectativas para esta temporada 2011 que começa já este Sábado em Vinhais?

Nuno Vinhais (NV) – São expectativas positivas. Acho difícil, na conjuntura actual, conseguir mais corridas, mas vamos continuar na mesma batalha de anos anteriores. E vamos fazer o máximo para estarmos bem nas corridas que tivermos, sejam elas 12 ou 15.
Acho sinceramente que se treinarmos bem, se dermos o máximo e se estivermos bem, podemos ambicionar ser uma bandeira do Oeste que é uma das zonas mais aficionadas do país. Pretendemos levar o nome das Caldas e desta região da melhor forma e creio que os empresários e entidades que organizam corridas em toda esta região podem olhar para o Grupo das Caldas com um Grupo que junta qualidade à proximidade.
Digo muitas que acho que faz pouco sentido que o Grupo das Caldas vá pegar para o Alentejo onde há tantos grupos, mas creio que faz sentido que contem com o Grupo das Caldas nesta região, onde há tantos espectáculos. Da mesma forma acho que faz pouco sentido ver nas corridas aqui da região grupos de tão longe e ver o Grupo das Caldas fora dessas corridas.

Tauromania (T) – Qual o balanço que fazes da temporada 2010 do Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha?

Nuno Vinhais (NV) – Eu tento ver o lado positivo das coisas, sendo que há quase sempre um lado bom e um lado pior. Mas penso que foi um ano bom. Tivemos algumas corridas em Praça boas como o Campo Pequeno, as Caldas, o Sobral e outras, alguns forcados novos evoluíram e chegaram-se à frente, pelo que o balanço é positivo.
Do lado negativo tivemos o número de corridas que ficou aquém do que precisávamos. Ficámo-nos pelas 10.

T – Qual pensas que seria um bom número de corridas para o Grupo das Caldas?

NV – Para nós, pelo número de forcados que temos e pelo nosso próprio conceito o número ideal de corridas seria andarmos pelas 16 ou 18 corridas. Não ambicionamos andar a pegar todos os fins de semana, mas para satisfazer as necessidades de todos o ideal seria andarmos pelas 16 ou 18.

T – Achas que a escassez de corridas se deve à quantidade exorbitante de Grupos que hoje existem? Há Grupos a mais?

NV – Que há Grupos a mais, penso sinceramente que sim.
Não cabe ao Grupo das Caldas dizer quais devem existir e quais não devem existir. Todos têm direito a existir desde que a forma de estar faça sentido.
Grupos que nascem a poucos kilometros de localidades que têm Grupos de grande historial e depois fazem 4 ou 5 corridas por ano, não compreendo o porquê do aparecimento e da existência desses grupos… E depois analisando a forma de estar na Festa de alguns grupos, que estão dispostos a ultrapassar todos os princípios para somar mais uma tarde e que se preocupam mais com o arranjar corridas a todo o custo do que em pegar bem os toiros nas corridas que têm… penso que esses grupos não fazem sentido e que estão a mais.

T – Como é que consegues fazer a gestão da escassez? Dás oportunidades a todos diminuindo a possibilidade de que alguém se destaque ou apostas nos que se destacam deixando outros sem oportunidades?

NV – Tento fazer uma rotatividade, que acho que todos compreendem. Mas naturalmente tenho de apostar nos que dão mais garantias e os outros têm de esperar pela sua oportunidade.
Não é fácil, por isso eu disse que precisávamos de mais corridas.

T – Tens forcados que abandonam o Grupo pela falta de corridas e pela falta de oportunidades que isso naturalmente provoca?

NV – Não. Desde 1993 houve 2 forcados que saíram do Grupo das Caldas para outros Grupos. Nós tentamos incutir, desde o inicio, um espírito de Grupo, de união e a importância de vestir a nossa jaqueta. E os forcados quando entram já sabem qual a nossa realidade. Todos sabem à partida que é um caminho difícil. Porventura noutros Grupos podiam pegar 8 ou 10 toiros por ano e ter mais oportunidades mas quando entram sabem com o que contam. Tentamos incutir um espírito que faça com que dificilmente alguém abandone o Grupo só para ir pegar mais noutro Grupo.

T – É voz corrente que alguns grupos usam de meios como angariarem publicidade, ajudarem na venda de bilhetes para arranjarem corridas. O que pensas disto?

NV – Eu acho que isso vai totalmente contra tudo o que é ser Forcado Amador.
Eu desde que sou Cabo do Grupo das Caldas já apanhei algumas situações em que me propuseram coisas dessas e nós poderíamos seguir esse caminho e certamente faríamos mais corridas à conta disso mas acho que essa é a postura errada quer da parte dos grupos que o fazem, quer da parte dos empresários.
Cabe a cada um pôr a mão na consciência e saber o que quer para o seu grupo mas o que é claro é que alguns empresários esfregam as mãos de contentes com esses grupos.
Creio que cabe a cada Grupo individualmente mas também à ANGF como um todo contribuir para que essas situações não aconteçam pois só mancham a figura do Forcado Amador e prejudicam quem cá quer andar com dignidade.

T – Falaste da ANGF. Ouve-se muitas vezes, e alguns passam essa mensagem, que a ANGF manda nos Grupos, sobretudo nos de menor dimensão e que os Grupos mais antigos impõem as suas decisões. É isto que acontece?

NV – Nem pouco mais ou menos. Aceitar que se diga isso é aceitar que me chamem burro, a mim e aos outros Cabos dos Grupos que fazem parte da ANGF. Cada Cabo tem um voto, todos os assuntos são debatidos, todos podem falar, por isso essa ideia é ridícula.

T – Então porque achas que essa ideia passa tanto?

NV – Sinceramente não consigo responder a isso. Há coisas que uma pessoa vê dois ou três dias depois das reuniões da ANGF que eu nem sequer compreendo, decisões tomadas por unanimidade que depois passado uns dias parece que foram tomadas por outros tais são as conversas que se ouvem…
Não sei… sinceramente não consigo perceber. Talvez seja falta de personalidade de alguns.

T – É notório que a maioria dos espectáculos em que vocês entram são organizados pelo Paulo Pessoa de Carvalho. É-vos difícil entrar em espectáculos de outras organizações?

NV – É. De facto o Paulo Pessoa de Carvalho tem sido o empresário que mais tem contado connosco, de tal forma que às vezes até me questiono se o Paulo deixar esta vida quantas corridas acabará por fazer o nosso Grupo…
Nós temos dificuldades porque não temos o historial de outros Grupos como Santarém, Montemor, Évora, Lisboa, Vila Franca, etc., nem temos os contactos destes Grupos, portanto é-nos mais difícil. E depois há outros Grupos com a nossa antiguidade ou até mais novos que têm pessoas por trás que organizam corridas ou os conseguem meter em corridas. Nós não temos nem uma coisa nem outra… e por isso é-nos de facto bastante difícil arranjar corridas.

T – Se tivesses de fazer um spot publicitário para dizer que vale a pena ir ver o Grupo das Caldas, o que dirias?

NV – Eu não tenho muito jeito para marketing e publicidade…
Diria que o que tentamos é respeitar sempre o toiro e o público. Tentamos seguir os nossos valores e o que tentaremos, em qualquer toiro que apareça, é dar o máximo, por mais difícil que o toiro seja. Vamos dar tudo.
Há dias bons e há dias maus, mas a nossa vontade estará em todos os dias e isso é o que podemos prometer ao público que vá ver o Grupo das Caldas.

T – Olhando o toiro que sai hoje em dia quais achas que são os maiores desafios que se colocam aos Grupos de Forcados?

NV – Acho que é ser capaz de juntar uma série de aspectos: preparação física, parte técnica, capacidade para se alhear do tamanho de muitos toiros que saem hoje em dia.
Um forcado com muita técnica consegue tirar muita maldade a um toiro. A preparação física também é muito importante. E a dimensão do toiro de hoje em dia é realmente um exagero, que na verdade até tira muita da espectacularidade que uma pega pode ter ou mesmo uma lide. Mas claro que para nós forcados custa olhar para toiros tão grandes.

T – Hoje em dia pega-se bem em quase todos os Grupos. Mas não achas que se pega muito igual?

NV – Essa é uma boa questão. Há certas regras que são básicas mas às vezes as regras prendem. Não sei se é possível que aconteçam revoluções na forma de pegar como aconteceu com o D. Fernando de Mascarenhas quando começou a pegar de largo.

T – Mas não achas que isso pode ter a ver com a personalidade de quem pega?

NV – Se há forcados que ficam na história é porque certamente se distinguiam dos outros.
Eu tento que no Grupo das Caldas os forcados peguem à sua maneira, cumprindo as regras básicas mas sem se prenderem a uma forma de pegar. Não quero que todos caminhem da mesma forma, que falem da mesma forma, que citem do mesmo sitio. Gosto até que cada um tenha o seu estilo. Mas isso parte muito de cada forcado e das características das próprias pessoas.

T – Os forcados do Grupo das Caldas ficam aficionados ou passada a adrenalina de se ser forcado desligam-se da Festa?

NV – Há um bocadinho de tudo. Todos os mais velhos do Grupo tentamos transmitir o máximo de afición aos mais novos. Mas há sempre uns que ficam mesmo aficionados e outros que apenas ficam ligados ao Grupo e que acabam por só ir uma vez ou duas por ano aos toiros. Mas penso que criar afición é uma das obrigações dos Grupos. Todos os Grupos devem tentar cativar o máximo de gente para ir aos toiros e formar aficionados.

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