segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"A força da Festa não são as figuras, são os aficionados" - Entrevista a André Viard, director do Observatório Taurino de França

A Festa dos Toiros em França vive uma fase de forte vitalidade. Alguns especialistas apontam a forma de Gestão que se realiza em França, com a intervenção de Comissões de aficionados e Municípios, como um exemplo a seguir. Além disso os franceses já perceberam a transcendência da organização do sector taurino e da sua relação com a sociedade tendo-se juntado no Observatório Taurino, associação nacional na qual profissionais e aficionados se uniram de forma decidida para fomentar a Festa e responder aos ataques que à mesma são feitos.
André Viard, antigo matador de Toiros francês, agora retirado, que actualmente é jornalista é o director do Observatório Taurino de França e foi com ele que o Diário de Jerez teve esta interessante conversa.

Diario de Jerez (DJ) -André, porque é que a crise pouco se notou em França quando em Espanha a descida de espectáculos foi grande?

André Viard (AV) - Realmente o mercado francês não caiu e os dados de 2010 foram semelhantes aos de temporadas anteriores, penso que isto se deve ao facto da oferta já estar muito ajustada à procura. Na zona de Dax e Bayonne há um publico torista, fiel, que está sempre presente. O mesmo sucede em muitos outros locais pelo que a crise apenas se notou em Nimes porque a Feira é muito grande e o componente turístico é muito alto.

DJ - Existe em França um movimento anti-taurino sólido?

AV - Eu diría que não. Claro que existem activistas que são mesmo muito activos. Para nos defendermos e para que não nos insultem e ataquem conseguimos, através da aprovação de uma lei, que as suas manifestações não se possam realizar a menos de 500 metros de uma Praça de Toiros para que não nos agridam.

DJ - Porque é os políticos franceses ouvem o Observatório?

AV - Nós tivemos a preocupação de, desde o inicio, incluir no Observatório os aficionados porque consideramos que o sector profissional não tem mais peso que a própria afición. Nem a meia dúzia de figuras, nem a meia dúzia de grandes empresas, nem as dezenas de ganaderos são a força do sector taurino. O grande capital da Festa são os milhões de aficionados que formam uma enorme comunidade, muito mais ampla que qualquer partido politico. Por isso, um dos vice-presidentes do Observatório é um representante das Peñas Taurinas, que não faz apenas figura de corpo presente pois é uma voz que se faz ouvir e que vota. Todos sabemos que aos políticos o que lhes interessa são os votos. E em França, os nossos políticos não podem deixar de levar em linha de conta os 2,5 milhões de espectadores que passam pelas bilheteiras em cada ano.

DJ - Que opinião tens da associação Mesa del Toro de Espanha?

AV - Dentro das suas circunstancias, está a fazer o melhor que pode. Mas ainda não se fez à ideia de incluir os aficionados. E até que compreendam que a força está nos milhões de espectadores, mais do que nas figuras, não terão força.

DJ -E quanto à estrutura organizativa, achas que se encontra desfasada?

AV - O problema é que, em geral, as figuras vivem numa redoma e ou ainda não compreenderam ou não querem assumir que estamos diante de um período de crise. Faz falta existir um espírito de corpo, solidário, sobretudo por parte dos mais fortes. E depois é fundamental perceber que a Festa tem de ter povo e por isso não pode ser demasiado cara. Se o for e o espectáculo se tornar elitista, então estaremos diante de um grande perigo. Recordemos também que a Festa vive da venda de bilhetes, venda que não é certa, e os apoios estatais que recebe são muito reduzidos. Compare-se por exemplo com o cinema que em Espanha recebe mais dinheiro de subsídios do que aquele que gera nas bilheteiras.

DJ -Que projectos imediatos tem o Observatório?

AV - Queremos criar o Passaporte universal taurino, com o qual todos os jovens que queiram possam, sob certas condições, aceder de maneira gratuita às praças de toiros. Já falei disto com políticos da Comunidade de Madrid pois não se justifica que em certos festejos de Verão em Las Ventas haja mais cimento que público. É algo que sucede em muitas Praças que fora das suas grandes Feiras têm pouca gente.

DJ - E que outros projectos há?

AV - A nível internacional, haverá uma reunião em Março, no México. Nessa reunião todos os países taurinos trabalharão para elevar a Festa, na Unesco, a Património Imaterial da Humanidade.

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