domingo, 13 de fevereiro de 2011

GRANJA – Muito público em tarde primaveril

O concelho alentejano de Mourão é neste inicio do mês de Fevereiro, o mais taurino de Portugal; doze dias depois da inauguração da temporada 2011 (praça de Mourão), realizou-se na praça de toiros da freguesia da Granja, o já habitual e histórico Festival integrado nas Festas de S.Brás.


Este ano a organização esteve a cargo do taurino Florindo Ramalho, que resolveu mudar o figurino do mesmo; só houve toureio a cavalo e lidaram-se seis touros ( era costume o cartel ser misto e com apenas quatro touros).Tarde de sol resplandecente, temperatura amena, e boa entrada de público ( a melhor dos últimos anos), com muita juventude nas bancadas, o que é sinal de vitalidade da Festa.

Artisticamente, não se poderiam pedir grandes resultados, apesar de actuarem lado a lado figuras, consagrados e jovens promessas do toureio a cavalo, pois não podemos esquecer que se tratou do primeiro espectáculo da temporada para todos, portanto havia que lançar novas montadas e dar ritmo e andamento às restantes, para além do facto dos próprios cavaleiros também não terem ainda o ritmo necessário para grandes faenas. No entanto, no final o público saiu satisfeito com o espectáculo, não dando por mal empregue o tempo e dinheiro que gastou, até porque também se anunciava no cartaz do Festival, que a receita revertia para a construção de uma nova enfermaria na praça, infra-estrutura indispensável para os intervenientes no espectáculo.

Abriu o festejo, LUIS ROUXINOL, cavaleiro que “ não sabe tourear mal ”e que demonstrou esta tarde estar já num momento razoável de forma, pois foi dele a lide mais conseguida. Lidou um novilho da ganadaria de Cunhal Patrício, bem apresentado, mas feio de córnea, que revelou nobreza e que permitiu luzimento ao ginete de Pegões. Começou por cravar dois ferros compridos de boa nota, e depois já com os curtos, citou de frente e em sorte a quarteio, deixou bons apontamentos de toureio a cavalo. Bem ao seu estilo alegre e cativante, brindou os presentes com o habitual número do par de bandarilhas, o ferro em sorte de violino e o ferro de palmo a encerrar a actuação.

De Madrid veio JOSÉ MIGUEL CALLEJON, rejoneador já visto algumas vezes nas nossas praças, e com boas actuações. Esta tarde esteve incerto alternando coisas boas, com outras menos boas. Não teve muita colaboração do seu oponente, um novilho com o ferro e divisa de S. Martinho, de escassa apresentação e que também denotou escassez de forças, que veio a ser influente na maneira de lidar do toureiro espanhol. De inicio Callejon dobrou-se bem com o novilho, quer pela direita, quer pela esquerda, e cravou dois compridos regulares; trocou de montada e aqui começaram a surgir dificuldades, várias passagens em falso e quarteios muito abertos, pois o novilho apenas tinha meias-investidas .Voltou a trocar de montada e surgiram os melhores momentos da actuação, com dois bons ferros curtos, antecedidos de uma ligeira batida ao piton contrário, aos quais o público soube premiar justamente o rejoneador.

VITOR RIBEIRO lidou o terceiro da tarde, um novilho da ganadaria de Varela Crujo, o mais bem apresentado, de córnea fechada e que cumpriu. Foi uma lide própria de inicio de temporada, cavalos novos e o cavaleiro à procura do seu sitio. Esteve bem com a ferragem comprida, bregando por ambos os lados. Com os curtos as coisas foram um pouco diferentes, o hastado tinha investidas fortes e numa delas colheu violentamente a montada; o cavaleiro arregaçou mangas e viu--se uma vontade enorme de agradar aos presentes e efectivamente o tom da lide subiu, e o bom conceito de toureio de Vítor Ribeiro apareceu. Terminou a sua prestação com um ferro de palmo cravado em sorte arrimada e em terrenos de dentro.

SÓNIA MATIAS continua a ser um caso de popularidade e simpatia, pois é visível assim que aparece em praça os inúmeros aplausos que irrompem das bancadas; nesta tarde, na Granja isso foi um facto. Coube-lhe lidar um exemplar de Murteira Grave, que apesar de novilho, é sempre um Grave e há que saber dar-lhe a lide adequada. Também Sónia teve uma actuação própria de inicio de temporada, alternando bons momentos, com outros menos conseguidos, mas sempre com muita vontade de agradar aos presentes. Logo de inicio sentiu dificuldades, pois o hastado arrancava com muita pata, dificultando no momento da reunião, ainda assim dos dois ferros compridos cravados, um foi de boa nota. Depois já com outra montada, a lide decorreu num nível aceitável, pese embora ter havido alguns percalços no momento de deixar a ferragem. Foi buscar o “Atrevido”, cavalo que chega facilmente ao público, e que a cavaleira utiliza normalmente para fechar as actuações, e com o qual deixou um ferro de violino e uma rosa, pondo de pé o público presente.

O cavaleiro praticante SOLLER GARCIA, lidou o quinto da tarde, de novo da ganadaria de Cunhal Patrício, também novilho e com regular apresentação, que veio a revelar-se encastado, tendo as suas condições de lide decrescido. Não foi uma actuação conseguida, houve demasiadas passagens em falso e alguma precipitação no acto da cravagem dos ferros, e este jovem cavaleiro sabe muito mais do que hoje demonstrou, pois tem boa equitação e um conceito de toureio clássico que agrada a uma larga parte da nossa aficion. Teve um gesto de muita humildade ( outros não teriam) ao recusar a volta a arena, saudando apenas o público nos médios.

Um dos aliciantes deste Festival, era a prova para cavaleiro praticante, da jovem SOFIA ALMEIDA, cavaleira que desde 2007 vinha actuando de amador nas nossas praças. É sempre uma actuação de nervos, pois é como de um exame se tratasse, e nem sempre reflecte a verdadeira qualidade do artista. Lidou um novilho de Luís Rocha, bem apresentado e que teve comportamento desigual. A lide não começou bem para Sofia, pois o seu oponente revelou-se complicado de saída e o nervosismo foi evidente na cavaleira bem como alguma velocidade a mais , fizeram com que apenas cravasse um ferro comprido. Trocou de montada e com o novilho no centro da arena, foi bregando quer pela direita, quer pela esquerda, respondendo o cornupeto com meias-investidas, não dando continuidade à lide. Os ferros curtos foram cravados em sortes aliviadas e com algumas passagens em falso. No final recebeu bastantes aplausos das bancadas, no fundo um voto de confiança para continuar a sua evolução e aprendizagem, para no futuro ser alguém no nosso toureio a cavalo.

Foi uma tarde fácil para os três grupos de forcados presentes, pois todas as seis pegas foram concretizadas à primeira tentativa. Pelo grupo de S.Manços pegaram João Fortunato, e João Rocha. Pelo grupo de Moura, foram caras Francisco Rovisco e Gonçalo Caeiro, e finalmente pelo grupo de Monsaraz pegaram Ricardo Cardoso ( esta pega foi muito contestada pelo público, pois comentava-se que o forcado tinha saído da cara do novilho e portanto devia ser repetida a pega) e Nélson Campaniço.

Já que falámos da prestação dos forcados, não podemos deixar de referir um facto que ocorreu neste Festival, toda a ferragem utilizada, foi as bandarilhas convencionais e que já provocaram tantos acidentes aos rapazes das jaquetas das ramagens, e afinal para quando as novas bandarilhas? Será preciso surgir mais algum acidente, ou tudo o que se fala não passa de boas intenções?

Dirigiu o espectáculo o Sr. António Garçoa, assessorado pelo médico-veterinário Dr. Infante Ferreira e a parte musical foi da responsabilidade da Banda Municipal Mouranense.

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