Porque hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher, recuperamos um texto de uma Mulher, Catarina Bexiga, publicado em Julho de 2010 na revista Novo Burladero:
MULHERES… E TOUREIRAS
Tourear é uma questão de valor e técnica. Basicamente. Daí que não estranhe os méritos alcançados pelas mulheres que têm feito carreira nas arenas. A verdade é que, ao longo dos anos, as mulheres lograram entram num mundo exclusivamente de homens. O toiro jamais pediu o “bilhete de identidade”; jamais quis saber se pela frente tem uma mulher ou um homem; o que sempre pediu foi valor, mais valor e muito valor… e depois técnica.
Se “olharmos” a História da Tauromaquia encontramos vários exemplos. Porém, ao contrário do que se passou em Espanha (a partir de 1908), em Portugal nunca foi imposta nenhuma medida que proibisse a apresentação de mulheres nas arenas.
Entre os primeiros nomes femininos que apareceram na piel del toro destaco três:
No último quarto do século XVIII, uma mulher atreveu-se a rivalizar com os nomes mais sonantes da época. Nicolasa Escamilla “La Pajuelera” chamou à atenção pelo seu invulgar valor. Goya viu-a tourear em Zaragoza, onde picou e lidou um toiro, e imortalizou-a nas suas pinturas dedicadas à tauromaquia.
O caso mais célebre e insólito foi protagonizado por Maria Salomé “La Reverte”. Dizem que foi valente, hábil com as bandarilhas e eficaz com o estoque, e que a partir de 1908 assegurou que era um homem – de nome Agustín Rodríguez – para “burlar a proibição” e continuar nas arenas. “La Reverte” apresentou-se na praça de toiros do Campo Pequeno na temporada de 1902, e segundo as prosas de então, agradou pela decisão e elegância como bandarilhou, e pelo bom estilo com o capote e muleta.
Um outro episódio singular foi passado com Juanita Cruz, também muito marginalizada pela lei. A sua primeira actuação aconteceu em Cabra (Córboba) no ano de 1933, fazendo o paseíllo ao lado de Ramón Lacruz e de um então desconhecido Manuel Rodríguez “Manolete” como sobresaliente, numa tarde em que cortou os rabos dos seus dois novilhos, e que lhe valeu somar 33 novilhadas nessa temporada. Juanita Cruz debutou em Madrid a 2 de Abril de 1936 com novilhos da viúva de Garcia Áleas. Após a Guerra Civil foi viver para a Venezuela e mais tarde converteu-se na primeira mulher a receber a Alternativa, a 17 de Março de 1940 em Fresnedilla (México), tendo como padrinho Heriberto García com toiros de Cerro Viejo. Ao longo da sua carreira participou em cerca de 700 festejos, dos quais 460 foram na América, e nunca vestiu taleguilla, usando vestidos de tourear com saia bordada. Juanita Cruz apresentou-se ao público português, no Campo Pequeno, a 11 de Junho de 1933. Como dado curioso regista-se o texto inscrito na lápide do seu mausoléu do cemitério de La Almudena, em Madrid (uma escultura de tamanho natural, em que a toureira aparece a brindar) lê-se: “A pesar del daño que mi hicieron en mi pátria los responsables de la mediocridad del toreo de 1940-50… Brindo por España!”
Em Portugal, particularmente a partir da década de 40 do século XX, surgem pontualmente alguns nomes femininos a quererem singrar no toureio a cavalo, entre elas os de Maria da Graça e Nazaré Felício, ambas discípulas de D. João e D. Alexandre Mascarenhas; Maria Mil Homens, Elisa Raposo, Dália Cunha e Gina Maria. Porém, no nosso país o nome que pontificou foi o de Conchita Cintrón, “La Diosa Rubia”, uma das máximas referências, como mulher e toureira, nas arenas de todo o mundo. Na década de 70, Ana Maria, de Azambuja, vestiu-se de luces e mediu-se dignamente com os novilheiros da época. Posteriormente (década de 90), aparecem as cavaleiras Marta Manuela e Mónica Monteiro, que não chegam a profissionalizar-se.
Não pensem os leitores, que o meu artigo visa fazer campanha sobre os direitos de igualdade, simplesmente por também eu ser mulher. Puro engano! O toiro põe tudo no sítio. Nisto do toureiro, não há mulheres, nem homens. Há, simplesmente, toureiros!
Na primeira década do Século XXI, três mulheres portuguesas doutoraram-se nas arenas: Sónia Matias (18.06.2000 - Santarém) e Ana Batista (08.07.2000 - Coruche) – que daí para cá têm construído de forma séria e sólida as suas carreiras – e mais recentemente, Joana Andrade (10.04.2010 – Montijo). No entanto, outros nomes procuram romper como praticantes, como são o caso de Ana Rita, Isabel Ramos, Alda Maria, Sofia Almeida, Verónica Cabaço e Maria Mira.
No Dia Internacional da Mulher, o Naturales presta a sua homenagem a todas as mulheres que, ao longo da História do Toureio, lograram desafiar o medo e conquistar o triunfo.
“E a verdade é que, ao longo dos anos, as mulheres lograram entram num mundo exclusivamente de homens. O toiro jamais pediu o “bilhete de identidade”; jamais quis saber se pela frente tem uma mulher ou um homem; o que sempre pediu foi valor, mais valor e muito valor… e depois técnica.”
TEXTO: Cortesia de Catarina Bexiga.
Publicado na revista NOVO BURLADERO de Julho de 2010.
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