terça-feira, 16 de agosto de 2011

A crónica do "nosso" Cortesão agora aqui todas as semanas no "Farpas Blogue"!



A história do "Matavacas"
a propósito da polémica
das mordidelas...


Em toda esta polémica dos cavalos que mordem os toiros, intencionalmente não quis meter a colherada por achar que já havia polémica demasiada. Veio-me no entanto à ideia contar a história pitoresca que vivi com o primeiro cavalo que mordia nas vacas ao ponto de as matar.
Um dia fui ver o Gustavo Zenkl a tourear vacas com cavalos novos e entre eles havia um com o ferro Barahona, na mesma época em que o sr. David tinha um outro com o mesmo ferro de nome "Democrata", em que toureava o Mestre e algumas vezes o seu filho João, e que tinha a particularidade de na arena tentar morder o peitoral .
O Gustavo entusiasmado disse-me: "Comprei há dias este cavalo que é irmão do 'Democrata', e anda tão bem à tourinha que hoje vou experimentá-lo com vacas".
Depois de passar dois cavalos montou o tal que logo na primeira passagem se atirou com a boca aberta à vaca largando-a só, quando esta já estava morta!
Foi o espanto geral, porque nenhum dos presentes (César Marinho, Joaquim Gonçalves, Mestre Diogo Serrão e Edmundo Albergaria) tinham visto na vida uma coisa assim. A partir desse dia, o cavalo passou a chamar-se "Matavacas"
Passados alguns dias, telefonou-me o Gustavo para eu fazer diligências no sentido de vender o tal cavalo. Naquela altura ia várias vezes por semana a casa de Mestre Batista, quando o Zé Zuquete ali tinha os cavalos e trabalhávamos juntos no mesmo serviço em Lisboa. Contei aos dois o que tinha visto e logo o Batista manifestou vontade de experimentar o "Matavacas". Telefonei ao Gustavo e no dia combinado lá estávamos os três (Batista, Zuquete e eu) para que o de S. Marcos experimentasse o tal cavalo.
Logo na primeira passagem o cavalo fez o que eu já tinha visto, mas pior, depois de sentir a vaca morta e porque o Gustavo ainda tentou com um pau evitar o desenlace fatal para a vaca, o "Matavacas" foi direito a ele com a boca aberta como se fosse um cão, tendo o Gustavo e o Batista, já apeado, que se refugiarem num burladero...
Passados um ou dois dias contei esta história ao pai de Diego Ventura, João António Ventura, toureiro valentíssimo, que eu representava nessa altura, que logo foi comigo a Alpompé e comprou o "Matavacas muito barato sem o experimentar.
Passaram-se uns dias e o Ventura disse-me que o cavalo já lhe tinha morto uma vaca mas que o ia levar às duas corridas que tourearia seguidas, sábado e domingo, em Albufeira e Portimão e receberia um toiro nele, o que sinceramente não acreditei...
Já no Algarve, eu e o bandarilheiro José Carlos Nicolau, ao apercebermo-nos das intenções de Ventura, tentámos demovê-lo, mas nada...
No primeiro toiro, lá estava Ventura montado no "Matavacas". Na primeira passagem pela cara do toiro deu-se o que esperávamos, mas como era um toiro, este atirou-se ao cavalo dando-lhe uma tareia monstra, tendo o cavaleiro caído e escapado por milagre.
No segundo toiro, Ventura sacou de novo o cavalo que murchou a orelha... mas de morder nada...
No dia seguinte parou mais dois toiros e até ao fim da época parou mais de vinte.
No defeso apareceu-me um amigo francês que queria comprar um cavalo a tourear relativamente barato. Falei-lhe no "Matavacas" e contei-lhe toda a história invulgar do cavalo, este montou-o sem vaca e comprou-o, vendendo-o depois ao cavaleiro Cristophe Yonnet, que infelizmente já não está entre nós, que depois de o cavalo ter morto várias vacas da prestigiada ganadaria de seu pai, o soltou para o campo, vindo o "Matavacas" a ser morto com uma cornada quando em liberdade atacou uma vaca no campo, como me contou o Luc Jalabert e o próprio Cristophe.
Podia juntar a esta história outra semelhante de um outro cavalo de Ana Batista a que chamávamos "Rei Leão" que ia matando o pai de Verónica Cabaço.
Estas experiências levaram-me a acrescentar o comportamento dos cavalos a um ditado popular que diz: "Jogadores, fumadores, bêbados, mulheres de mau porte, homossexuais e cavalos que mordem; nunca regeneram, quando muito metem férias...".

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