terça-feira, 2 de junho de 2009

Sois Filhos do Alentejo, Forcados de Montemor


Gosto de escrever particularmente sobre as coisas bonitas que há na Festa de Toiros em Portugal. Gosto de pensar que nestas poucas linhas que escrevo com alguma regularidade, posso fazer referência a efemérides, recordar figuras, enaltecer personalidades individuais ou colectivas, lembrar acontecimentos… Se pensarmos que neste Mundo se passa tanta coisa a uma velocidade estonteante (quer positiva quer negativa), há momentos em que devemos olhar o vastíssimo património que constitui a nossa cultura como Povo, como País, como um colectivo. A tauromaquia portuguesa está cheia de momentos bonitos e de páginas de História e Glória que nos ajudam a entender este espectáculo tão português.
Hoje move-me escrever um dos tais artigos que compõem e definem a minha personalidade como aficionado. A data também assim o exige. Na próxima 5ª Feira, dia 4 de Junho, na Praça de Toiros do Campo Pequeno, vamos assistir a um momento que podemos considerar histórico: o Grupo de Montemor pega 6 Toiros da prestigiada e premiada ganadaria Murteira Grave e, pela primeira, vez desde a sua reinauguração a Monumental de Lisboa assiste a um só grupo de forcados encerrar-se com seis toiros.
Esta corrida reveste-se de enorme importância, pois este ano de 2009 comemoram-se os 70 anos do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo e a arena lisboeta presta assim uma justa homenagem à rapaziada de Montemor, juntando-se à comemoração desta importante data.
A fundação do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo data, oficialmente, de 4 de Setembro de 1939, data em que o grupo se apresentou pela primeira vez na praça de toiros da vila alentejana de Montemor-o-Novo. Terra de grande afícion tauromáquica, são inúmeros os relatos de actividades taurinas nesta vila, durante o século XIX e início do século XX, pelo que a formação de um grupo de forcados veio reforçar ainda mais essa vertente tauromáquica das gentes montemorenses. Montemor pedia um grupo de forcados que transmitisse toda a afícion da população, assim como elevasse bem alto o nome desta vila alentejana. E assim foi. Há 70 anos atrás, nascia este grande Grupo de Forcados. Fardaram-se oito jovens cheios de vontade, poderio e dedicação ao seu novo grupo. Rezam as crónicas da época que a exibição foi notável e deixou grandes perspectivas de futuro para o grupo então fundado, estando em praça com uma enorme vontade de triunfar.
Durante estes 70 anos de História, muitos têm sido os valorosos jovens moços de forcados do grupo alentejano. Destaco: Simão Malta, Manuel Sousa Nunes. António Palmeiro e Luís Valente Rosa, João Manuel Comenda, Chinita de Mira, Joaquim José Capoulas Francisco Queiroga, os irmãos Leitão, Francisco Miguéns, António José Zuzarte, Simão Comenda, José Romão, João Caixinha, João Cortes, Paulo Vacas de Carvalho, Alexandre Duarte "Veca", João Lynce, Carlos Pegado, Francisco Mira, Pedro Mira, Luís Borges, Paulo Pessoa de Carvalho, Pedro Queiroga, Pedro Sotero e Pedro Caixinha, José Fernando Potier, João Sousa e, mais recentemente, Rodrigo Corrêa de Sá, João Comenda, Manuel Mata, João Mantas, Pedro Barata-Freixo, João Barata-Freixo, Diogo Campilho, Gonçalo Saúde, Pedro Abelha, Feliciano Reis, João Reis, António Corrêa de Sá, Francisco Mira, José Miguel Sampaio, Rodrigo Pietra Torres, Simão da Veiga, Pedro Melro, Francisco Cornacho, Filipe Roque, João Cabral, José Maria Cortes, João Tavares, Pedro Santos, Hugo Melo… Muitos mais forcados montemorenses deviam figurar nesta lista… Brilhantes forcados, com um enorme poderio e uma excelente técnica. Todos figuram no livro e na História do Grupo.
Todos estes nomes fazem a História do Grupo de Montemor, consolidando o prestígio do grupo alentejano e transmitindo noções de companheirismo e de seriedade de que grupo sempre foi portador.
Neste correr da escrita, uma data histórica vem-me repentinamente à memória: no dia 2 de Setembro de 2007, Montemor foi Praça Cheia e viveu uma tarde de fortes Emoções, na Corrida de Despedida do Cabo, à época, Rodrigo Corrêa de Sá ("Guiga") e a respectiva passagem de testemunho ao novo e actual Cabo - José Maria Cortes.
Uma tarde muito emotiva onde se sentiu o espírito muito próprio do grupo montemorense. Com um forte sentimento de "amor à jaqueta", os valores de união, de Fé e de afícion, mostrando a este mundo moderno e acelerado como um grupo de forcados pode ser uma verdadeira família e uma fonte de tradições e nobres valores.
Nestes 70 anos de contínua actividade e olhando para o actual momento do grupo vemos uma Família coesa, com uma forte Identidade e um autêntico símbolo de Montemor-o-Novo, de todo o Alentejo e da Forcadagem Nacional.
Na verdade, actualmente assistimos a uma natural renovação que, a meu ver, está ser feita com sucesso, pois ao mesmo tempo que entram novos forcados com valor, os mais experientes deixam a "sua escola". Tudo isto é feito com bastante naturalidade, espírito de missão e responsabilidade. Esta rapaziada entra em praça com o objectivo de pegar bem, com muita técnica, valentia e à vontade. São agora estes rapazes que cada vez mais afirmam este grupo como um dos melhores grupos de forcados do país, como uma escola, como um património histórico e vivo da tauromaquia portuguesa.
Neste ano de 2009, na comemoração do seu 70º aniversário – data histórica e da maior importância para a Tauromaquia Nacional – o Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo estará, de certo, à altura do acontecimento, pegando e “abrindo os braços ao Mundo” nas mais importantes praças e feiras do país e fazendo uma época de sucesso, com uma saudável competição com os outros agrupamentos deste nosso Portugal.
Garra e coragem estejam sempre presente nas actuações do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo! Que esta época seja mais uma época de sucessos e triunfos, para que todo o Historial do grupo montemorense, bem como de toda a forcadagem nacional, continue a ser de enorme referência! Sorte!
* Miguel Soares é Técnico Superior na Câmara Municipal de Lisboa. Aficionado “desde sempre”, é autor do blogue “Lides Alentejanas” e colaborador da página da Tauromania.

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