sábado, 10 de julho de 2010

A corrida de toiros é um espectáculo onde tudo é real

A corrida de toiros é um espectáculo onde tudo é real, que não permite ensaios prévios, onde as emoções são sentidas na sua essência mais digna e pura; assim depois do apagão que ensombrou as cortesias, fez-se luz com o brinde do Maestro Moura a Paulo Caetano; o confronto anunciado revelou-se na reconciliação e no abraço que todos esperávamos.

Moura derramou na praça de Portalegre toda a sua garra, toda a sua arte e saber. Numa lide á Moura, que justifica a intensidade do brinde; essa força e valor que também chegou ás bancadas de forma bastante intensa.

Caetano retribuiu o brinde a Moura, e presenteou-nos com uma lide cheia de classicismo como sempre nos habituou, quase não nota-mos que está retirado das arenas tal foi a sua entrega e oficio, deixa ferros de excelente nota numa lide inundada de temple.

João Moura Caetano vem por todas, numa lide que começou com uma explosão de emoção, risco e valentia; ferros ao piton contrário, de praça á praça, em terrenos de dentro, de tudo este jovem fez para alcançar um desejado triunfo, que efectivamente e de forma merecedora conseguiu, não atingiu a plenitude porque o toiro veio um pouco a menos no final da lide.

Era a vez de João Moura Jr, que depois de algum desacerto nos compridos, nos curtos causa um intenso alvoroço, primeiro com o Merlin, que desassossega o público mal entra em praça, trocando depois de montada e rubricando uma lide de valor tanto na colocação da ferragem, como no remate das sortes, onde levou nota vinte.

Terminado o quarto toiro fez-se um desnecessário intervalo; pois quando a tendência é para que as corridas não durem muito mais de duas horas, porquê perder tempo com um intervalo?

Na lide a duo os Mouras deitaram a praça abaixo, tiraram ao toiro tudo aquilo que havia para tirar, sem tempos mortos, escutaram musica logo no primeiro ferro curto que o Maestro cravou, e depois foi um encadeamento de excelentes ferros com intermináveis pedidos do publico para que cravassem mais, isto sempre debaixo de enormes aplausos, duas voltas á praça foi o prémio para esta excelente lide.

A lide a duo dos Caetanos, apesar de bastante correcta não atingiu o valor da anterior, muito por culpa do Passanha, que foi talvez o toiro menos bom da corrida, descaindo constantemente para tábuas e ganhando querença junto á porta dos curros, não permitiu o brilhantismo que os toureiros queriam, mas ainda assim não deixou de ser uma lide com nota bastante positiva.

Na forcadagem por Santarém, David Romão apenas concretizou á quinta tentativa com ajudas carregadas, Manuel Roque Lopes á primeira tentativa a pega da noite e João Vaz Freire também uma emotiva pega á segunda tentativa.

Pelo grupo da casa Miguel Zagalo, José Rodrigues e Ricardo Almeida todos á segunda tentativa; de referir que na segunda pega do grupo de Portalegre ficou um ajuda inanimado na praça, foi bonito ver o instinto altruísta e estóico do Dr Gomes Esteves de entrar em praça para socorrer o forcado, assim como dos seus colegas; e foi degradante ver como os bombeiros continuavam impávidos e serenos detrás da trincheira sem nada fazerem; é inquestionável o valor dos bombeiros, mas hoje á que referir que não estiveram de todo á altura do nome que carregam.

A praça registou três quartos de entrada fortes; o resto dos bilhetes foram “comprados” pela crise; se não fosse “ela” o resto do público teria esgotado certamente a praça.

O curro de Passanha, bastante bem apresentado e sem o inusitado excesso de peso que muitas vezes apresentam, justificou que na maioria das vezes o que sobra em apresentação falta em bravura; hoje estes Murubes na “linha” deram um excelente jogo na generalidade, chegando inclusive ás pegas com um andamento e investida cheia de alegria e emoção, mas a corrida era dos toureiros, e mais uma vez os toiros, que foram eles no fundo que permitiram o grande espectáculo a que assistimos, viram o prémio passar á roda, e a consequente volta do Ganadeiro quanto a nós merecidíssima ficou injustificadamente por dar.

Dirigiu com acerto o Sr António dos Santos coadjuvado pelo Médico Veterinário Dr José Guerra, e o Corneteiro Sr Hugo Narciso hoje também com grande triunfo; a banda Euterpe de Portalegre alegrou ainda mais as lides com os seus acordes.

Fica para a história o abraço entre dois Homens, esperado á muito por muitos; a nós Homens e aficionados nada mais podemos fazer que congratulamo-nos pelo exemplo e pelas emoções que hoje todos os intervenientes nos ofereceram na Elias Martins.

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