sexta-feira, 6 de maio de 2011

Uma nocturna em que faltou sal…

- Praça de Toiros: Campo Pequeno, em Lisboa

- Data: 5 de Maio de 2011, às 22h00
- Empresa: Sociedade do Campo Pequeno, S.A.
- Ganadaria: 6 Toiros de Passanha
- Cavaleiros: António Ribeiro Telles, Pablo Hermoso de Mendoza e João Moura Jr.
- Grupos de Forcados: Amadores de Montemor-o-Novo e Amadores de Coruche, capitaneados respectivamente por José Maria Cortes e Amorim Ribeiro Lopes
- Assistência: Lotação Esgotada
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico Sr. Manuel Jacinto, assessorado pelo médico veterinário Dr. Salter Cid
- Banda: Samouco

A Praça de Toiros do Campo Pequeno recebeu a segunda corrida do Abono 2011, num ambiente de grande expectativa e tendo como mote a competição entre três estilo distintos de toureio a cavalo: o classicismo e a maestria de António Ribeiro Telles; a sucessão mourista de João Moura Jr.; e a figura mundial do rejoneio Pablo Hermoso de Mendoza. A expectativa também era elevada em relação à forcadagem, com a presença em praça dos Grupos de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo e Coruche. A rematar o cartaz, um curro da ganadaria eborense de Passanha, de encaste Murube-Urquijo.

Assim, nesta nocturna de ontem estavam reunidos os ingredientes suficientes para que a corrida resultasse. Contudo, faltou sal nesta noite de toiros e embora tenhamos assistido à primeira abertura da Porta Grande da arena lisboeta, esta não correspondeu ao que realmente se passou no Campo Pequeno.

O curro da ganadaria Passanha saiu à praça desigual de apresentação e comportamento e com pesos a oscilar entre os 592 Kg e os 510 Kg. Deixaram-se tourear sem criar grandes incómodos aos artistas. Faltou pois o sal…

As duas actuações de António Ribeiro Telles foram distintas. No seu primeiro toiro, o mestre da Torrinha procurou sentir o oponente na ferragem comprida. Na passagem para os curtos revelou cuidado na preparação das sortes, tentando sempre ligar o cavalo ao toiro, que se adiantava chegando a tocar algumas vezes na montada. Telles rubricou uma lide regular, destacando-se o segundo ferro curto, colocado com o toiro no centro da arena e cravado ao estribo. No quarto toiro da corrida António Ribeiro Telles desenhou uma lide mais conseguida, talvez a melhor da noite. Perante um passanha colaborador, a ferragem comprida foi colocada correctamente mas foi com os ferros curtos que assistimos aos melhores momentos desta passagem de António Telles no Campo Pequeno. Mostrando preocupação na brega e procurando citar de frente cravou os curtos com mérito com destaque para o quarto, bem preparado e executado numa reunião perfeita.

O espanhol Pablo Hermoso de Mendoza voltou ao Campo Pequeno depois dos triunfos alcançados na temporada passada e com a expectativa muito alta. Esta passagem por Lisboa ficou marcada por duas lides muito desiguais, ou seja, assistimos a dois pablos muito diferentes. No primeiro do seu lote, o rejoneador de Navarra esteve ao seu estilo e mostrou toda a sua grande equitação. Deixou dois compridos de boa nota e nos curtos - com um toiro que colaborou – andou bem, bregando de forma superior e rematando as sortes levando sempre o toiro na garupa do cavalo. Procurou também consumar as sortes com verdade deixando cinco ferros curtos que levantaram as bancadas. No quinto da noite, Pablo até começou bem com os compridos mas nos curtos não se entendeu com o toiro. O passanha mostrou-se reservado e veio a menos, com o rejoneador espanhol a limitar-se a deixar a ferragem curta sem grande brilho e baseando a lide nos adornos, muito ao agrado do público.

João Moura Jr. era o mais novo cavaleiro do cartel mas com a mesma vontade de triunfar dos colegas de cartaz, mostrando desde logo para o que ia nesta nocturna. No seu primeiro toiro deixou dois compridos regulares. Nos curtos, Mourinha preparou bem as sortes, bregando e rematando os ferros “com a marca da casa”, sempre com o toiro ligado ao cavalo. Pena que não tenha tido o mesmo cuidado no momento da cravagem. Terminou a lide com uma rosa bem rematada. No último toiro da noite, cravou os compridos da ordem e nos curtos procurou ligar-se com o toiro, sendo que este não se mostrou minimamente colaborante. Moura Jr. revelou bons momentos de brega e cuidado no remate das sortes. Uma passagem correcta deste jovem cavaleiro que acabou por “estragar a pintura” ao pendurar-se para sair em ombros pela Porta Grande.

No capítulo da forcadagem a competição também era aguardada pelos aficionados presentes no Campo Pequeno. A começar esta noite de pegas abriu praça o Grupo de Forcados Amadores de Montemor, por intermédio de João Pedro Tavares. O forcado esteve bem a citar, de forma correcta e com brilho, mandando vir o toiro que complicou no momento da reunião, mas o forcado soube qual o momento certo de reunir, ficando na cara do toiro com decisão até à chegada das ajudas que fecharam coesas. Para o terceiro da noite o escolhido foi João Cabral. Depois de duas tentativas menos conseguidas, fechou-se correcto à terceira, com as ajudas mais próximas e a fecharem bem, consumando-se desta forma a pega. A fechar a noite dos alentejanos foi à cara o cabo montemorense José Maria Cortes. Na primeira tentativa citou bonito e com presença, reuniu com decisão e aguentou a viagem toda do toiro até às tábuas, chegando as ajudas tarde. Era uma grande pega! Na segunda tentativa voltou a citar de forma decidida, mandou na investida e reuniu bem, voltando a aguentar a viagem do toiro, até à chegada das ajudas que fecharam coesas, concretizando-se assim uma bonita pega e um dos momentos altos desta noite.

Pelo Amadores de Coruche foi cara no segundo toiro da noite o forcado Miguel Raposo. Depois da primeira tentativa onde não esteve bem a reunir, o forcado pediu para se mudarem ligeiramente os terrenos e assim citar com decisão. Mandou depois vir o toiro, reuniu com correcção e fechou-se à segunda sem problemas com as ajudas a mostrar coesão. Para o quarto toiro da noite, o escolhido foi Pedro de Matos Galamba. Esteve bem a citar e de forma decidida, mandou na investida e reuniu com decisão, ficando na cara do toiro até o grupo chegar e fechar nas tábuas. Para fechar a noite, foi à cara do sexto o cabo Amorim Ribeiro Lopes. Citou bem, chamou o toiro mandando na investida e reuniu com muita decisão, aguentando na cara do oponente até à chegada das ajudas que fecharam bem, concretizando-se assim uma boa pega.

Nota: Já vai sendo um hábito ter que escrever sobre os pseudo-triunfos alcançados por alguns cavaleiros na Praça de Toiros do Campo Pequeno. Desta forma, cá estou eu de novo a apreciar a abertura de portas grandes e o número exagerado de voltas que os artistas dão com objectivo de alcançar o triunfo na arena lisboeta. Ontem à noite, a saída em ombros do cavaleiro João Moura Jr. é mais um caso a rever e que demonstra a falta de sensatez e de “vergonha toureira” de alguns dos nossos toureiros. Se já a segunda volta de Pablo Hermoso de Mendoza (no seu primeiro toiro) não se justificava, a segunda volta dada por João Moura Jr. no último toiro da noite foi uma demonstração de falta de noção e humildade por parte do jovem ginete de Monforte. O público bateu algumas palmas e o cavaleiro “aproveitou logo a boleia” para se fazer à segunda volta, abrindo assim a Porta Grande do Campo Pequeno, pois tinha dado também duas voltas no primeiro do seu lote. Não ficou bem na fotografia, impondo um triunfo que foi depois devidamente assobiado no final da corrida, quando este saía em ombros. Actos destes não ficam bem a quem os pratica e desprestigiam os triunfos naquela que é considerada a primeira praça do País.

O Mais e o Menos
+ O ambiente da corrida e mais uma enchente nas bancadas do Campo Pequeno;
+ A emoção vivida nas pegas da noite;
- Voltas e mais voltas e saídas em ombros não justificadas. O triunfo não pode ser banal na primeira praça do País.

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