quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Em Alcochete António Ribeiro Telles montou cátedra - Crónica da Corrida

- Praça de Toiros: Alcochete
- Data: 14 de Agosto de 2011, pelas 18.00 horas
- Empresa: Toiros & Tauromaquia, Lda.
- Ganadarias em concurso: José Lupi, Herds Conde Cabral, Murteira Grave, Ortigão Costa, Passanha e Passanha Sobral
- Cavaleiros: António Ribeiro Telles, João Salgueiro e Tomás Pinto
- Grupos de Forcados: Forcados Amadores de Alcochete capitaneados por Vasco Pinto
- Assistência: ¾ de casa fortes
- Delegados da IGAC: Delegado técnico tauromáquico senhor António dos Santos, assessorado pelo médico veterinário Dr. Carlos Santos.

Se há dias em que saímos desiludidos das praças de toiros porque o cartel não correspondeu ao que esperávamos, hoje, em Alcochete, o “cartelaço” montado pela empresa não deixou ficar mal o toureio a cavalo à portuguesa, o verdadeiro e genuíno toureio a cavalo. Na verdade um dos mais prestigiados concursos de ganadarias (o XXIX) brindou-nos com uma tarde de toiros que, infelizmente, vão escasseando pelos ruedos nacionais.

O primeiro toiro da tarde, ferrado com o 7 na espádua direita e com o peso de 565 Kg, pertencia à ganadaria de José Lupi, estava bem apresentado, mostrou mobilidade e acudia ao cites com prontidão, o que lhe valeu o prémio bravura em disputa, embora viesse um pouco a menos com o decorrer da lide. O exemplar enviado pela ganadaria dos Herdeiros de Conde Cabral, com quatro anos e 585 Kg, saiu com excelente apresentação e trapio, mostrando-se voluntarioso, encastado e a pedir que o lidassem. Uma estampa de toiro que lhe valeu a atribuição do prémio apresentação. O toiro de Murteira Grave, também com quatro anos e com o peso de 580 Kg pareceu-se um pouco gordo demais, o que poderia ter influenciado na falta de uma maior mobilidade. Saiu logo a adiantar-se à montada, reservado nas investidas e com dificuldade em se fixar, dificultando a tarefa do cavaleiro. A ganadaria de Ortigão Costa enviou um toiro bem apresentado, com quatro anos e 540 Kg, mas que mostrou alguma falta de fijeza, com alguma preferência pelos terrenos de tábuas, não dificultando, contudo em demasia o labor do cavaleiro. O toiro de Passanha, um toiro bem no tipo de encaste da ganadaria, ferrado com o 7 e com 625 Kg, revelou suavidade nas investidas e mostrou-se voluntarioso e colaborante, não apertando no momento da reunião. A ganadaria Sobral (ou Passanha Sobral) apresentou um toiro com quatro anos e 610 Kg, que saiu com muita pata, mas que cedo se apagou. Algo distraído, esperava muito e defendia-se no momento de cravar.

António Ribeiro Telles iniciou a sua primeira lide recebendo o toiro com um ferro à porta gaiola de excelente nível, em reunião emocionante. Continuou com mais dois compridos em sortes à tira de excelente desenho e em reuniões bastante ajustadas, o que o levou a escutar música após a cravagem do segundo comprido. Desceu um pouco o nível nos curtos, com o Santarém a não estar nos seus dias. Trocou de montada e terminou em plano elevado, com um quinto ferro de nota alta. No segundo toiro do seu lote brindou o público presente com uma emocionante e magnífica lide. O mestre na arte de bem tourear a cavalo veio a Alcochete, montou cátedra e deu lição. Os três últimos ferros curtos, dois em sortes sesgadas e um último nos médios foram para recordar. Recreou-se à saída e, depois de uma volta muito aplaudida, voltou a saudar nos médios.

João Salgueiro iniciou a sua actuação com dois compridos à tira de correcta execução. Nos curtos começou por executar as sortes com forte batida ao piton contrário o que o obrigou a passar em falso por falta de toiro na reunião. O primeiro ferro caiu e, a partir daí a lide foi em crescendo. Levando o toiro embebido na garupa do cavalo e deixando nos terrenos apropriados para cravar, acertou as distâncias e cravou ferros de nota elevada, com destaque para o último, em que foi ao encontro do toiro, provocou-lhe a investida e cravou de alto a baixo e ao estribo. A sua segunda lide foi de tom mais morno, com o toiro a não emprestar emoção às reuniões. Ainda assim, esteve em bom plano, destacando-se os dois últimos ferros, em reuniões mais cingidas e com o toiro a mostrar maior codícia na hora de cravar.

Tomás Pinto não se intimidou perante as duas figuras com quem compartia cartel e apresentou-se pronto para a competição. Recebeu ambos os oponentes à porta dos curros e parou-os sem ajuda dos seus subalternos, o que é de relevar. Se na sua primeira lide, perante um toiro difícil, muito reservado e que se adiantava uma enormidade, não conseguiu a actuação que desejava, no seu segundo e último da corrida deixou muito bons apontamentos, com ferros de boa nota, a ir de frente para o toiro, entrando-lhe pela cara e cravando de alto a baixo, o que aconteceu no quarto ferro curto, o de melhor execução nesta sua presença em Alcochete. Terminou com dois ferros em sorte de violino que agradaram ao público.

O Grupo de Forcados Amadores de Alcochete não teve tarefa fácil. A primeira pega, em virtude de o toiro ter partido um piton, teve que ser executada de cernelha por intermédio de Daniel Silva e Marco Sousa, que consumaram à primeira entrada, com o toiro parado e sem brilho. Para pegar o segundo da tarde saiu Fernando Quintela que esteve correcto no cite, mandou vir, o toiro investiu alto e com fortes derrotes e deixou o forcado inanimado e bastante maltratado. Foi dobrado por Pedro Belmonte que, mandando no toiro e recebendo uma enorme ajuda de João Rei, consumou uma grande pega. Justíssima a chamada do 1º ajuda ao centro da praça para agradecer os aplausos do público. João Pedro Sousa saltou tábuas para executar a pega ao terceiro da tarde. Mandou vir mas não reuniu bem, ficando com um piton entre as pernas e saiu. Na segunda tentativa o toiro adiantou-lhe um piton e não conseguiu agarrar-se. Consumou ao terceiro intento, com ajudas carregadas e sem brilho. Mesmo assim, saiu para agradecer no centro da praça, convidando o cavaleiro que se recusava a sair. Rui Batista consumou a pega ao quarto da tarde à segunda tentativa, depois de na primeira não ter conseguido a reunião. Com o toiro a ir com a cara ao chão o forcado aguentou-se bem e conseguiu uma boa pega. Para pegar o quinto da tarde foi escolhido Nuno Santana. Bem no cite e a mandar na investida do toiro, recebeu correctamente, viajou sozinho na cara do toiro até às tábuas, passando pelos ajudas e aguentando até que estes fechassem uma boa pega. Pareceu-nos, contudo, exagerada a segunda volta à arena, mesmo perante a insistência do público da terra. Para pegar o último da corrida, um toiro muito reservado, que nos pareceu mal visto, foi à cara Ruben Duarte que se viu obrigado a entrar-lhe nos terrenos, sacou-se bem e, aguentando fortes derrotes por alto, consumou a melhor pega da tarde, bem ajudado pelo grupo.

O Mais e o Menos da Corrida

+ A segunda lide de António Telles.

- As infelizes intervenções dos bandarilheiros que compunham a quadrilha do cavaleiro António Telles, durante as lides deste.

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