domingo, 8 de novembro de 2009

Entrevista a Bernardo Patinhas no final da sua primeira temporada como Cabo


Em Setembro de 2008 Bernardo Patinhas tornou-se o quarto Cabo do Grupo de Forcados Amadores de Évora sucedendo a João Pedro Rosado. Ao finalizar a sua primeira temporada na chefia do Grupo Eborense fomos ouvir o seu balanço.


Tauromania (T) - Chegámos ao final da temporada. Qual o balanço geral que fazes da época do Grupo de Évora?

Bernardo Patinhas (BP) - O balanço que faço é positivo, foi a minha primeira época como cabo e considero que foi uma temporada bem conseguida, não pegámos demasiadas corridas mas pegámos corridas com qualidade e prestigio, factores que mais valorizo, o Grupo de Évora prefere qualidade a quantidade. Podíamos talvez ter feito mais duas ou três corridas mas infelizmente a tauromaquia portuguesa não valoriza o mérito mas sim os lobbies. Ganhar lobbies também tem o seu mérito, mas não é isso que procuramos.


T - Quais foram os momentos que destacarias?

BP - Destaco as corridas do Concurso de Ganadarias de Évora, pelo impacto que causa e o período intenso que tivemos, com três corridas consecutivas, duas delas televisionadas, Lisboa e Évora e finalizámos com seis touros. Foi duro mas um sucesso e julgo que estas três corridas, dias 9, 10 e 11 de Julho contribuíram para aumentar o interesse das pessoas pelo Grupo de Évora. Finalmente destaco a corrida de Miura pegada em Moura, que também foi um triunfo importante para nós.


T - Em termos estatísticos já tens alguns dados que nos possas dar?

BP - Nº de corridas realizadas: 19
Nº de toiros pegados 67
Média de tentativas por toiro: 2 tentativas
Os 5 forcados que pegaram mais toiros e quantos pegaram: Manuel Rovisco Paes; Vasco Fernandes; Nuno Lobo, Francisco Garcia e Gonçalo Mira, todos com 5 toiros pegados
Os 5 primeiros ajudas que deram mais primeiras: José Vacas; Miguel Saturnino Lopes, Francisco Abreu, José Maria Meneres, Luis Vilhena Nobre (ainda não sei precisar o número de ajudas de cada um porque ainda estamos a preparar os dados estatísticos finais).


T – Évora é uma praça de cariz nacional e que dá bastantes corridas por ano. Têm pegado na vossa terra vários Grupos de Forcados e por vezes ouvem-se rumores de algum mal-estar entre o GFAE e a empresa Terra Brava. Podes-nos explicar se é assim e porque razão isso acontece?

BP - Évora é de facto uma praça importante na nossa tauromaquia, é inegável. Todos os grupos de forcados gostariam e gostam de pegar nesta praça, no entanto não pode ser dada a mesma importância à praça de Évora como à praça do Campo Pequeno, como alguns defendem. Évora é uma praça de segunda categoria, com uma lotação muita limitada na minha opinião. Nessa condição e tal como todos os grupos de forcados que representam as suas cidades ou vilas, esta é a nossa praça, com a nossa afición. Não é intenção do nosso Grupo bloquear o acesso à praça de Évora a qualquer grupo de forcados, antes pelo contrário, pretendemos dar dignidade à mesma e se os grupos lá pegam têm de estar à altura, tal como nós próprios. O desafio é constante, estamos sempre à prova porque a afición eborense não é fácil.
Não há qualquer tipo de mal estar entre o Grupo de Évora e a empresa adjudicatária da praça, houve um mal entendido de comunicação relativamente a um episódio pontual, cada parte defendeu a sua posição, não há litigio, acontece que esse incidente pontual pode ter causado reminiscências a algumas pessoas externas que tentam entrar e alastrar fogos apagados que não são seus.


T - Como analisas o momento geral da tauromaquia?

BP - Do ponto de vista de aficionado, fico contente pois apesar de ter havido menos espectáculos, consequência directa da crise, aqueles que se realizaram encheram. As praças estiveram com um público cada vez mais jovem o que augura um bom futuro. As iniciativas em defesa da festa foram marcantes e vincaram a posição da tauromaquia. Para o público aficionado foi um ano positivo.
No plano artístico infelizmente fico um pouco desiludido porque não houve nada que considere de relevante, julgo que falta há já alguns anos alguém que cause impacto, que marque a diferença, uma figura do toureio. Fico também entristecido por sermos o mercado de escoamento das “sobras” de Espanha. Realizaram-se menos 460 espectáculos em Espanha este ano, o que significa menos 2100 touros lidados, muitos deles vendidos para Portugal, e para o ano mais haverá. Em Portugal existem tantas ganadarias com qualidade que não vejo necessidade nesta situação, nem mesmo do ponto de vista do marketing as nossas ganadarias tem prestígio suficiente para vender por si.


T - Existem actualmente mais de 40 Grupos de Forcados. O que achas desta realidade, é positivo ou negativo?

BP - Considero negativo, já o digo há vários anos. A oferta é imensa e a procura reduzida e menos criteriosa. Muitos destes grupos têm actuações esporádicas, houve inclusive grupos que tiveram eles próprios que organizar uma corrida para assim não perderem antiguidade. Terá isto prestigio? Não creio. Nesse universo de 40 grupos há excelentes forcados que em grupos com mais experiência poderiam aprender mais e tornar-se ainda melhores. Os empresários têm uma grande margem de manobra na contratação e independentemente das condições que colocamos enquanto associados sabemos perfeitamente que há maneiras de contornar regras e tudo se torna numa relação causa/efeito. O principal prejudicado é o espectador.


T - Como vês o papel da ANGF na Defesa dos Forcados e da Festa? O teu Grupo tem tido um papel activo na associação?

BP - Cada vez desempenha um papel mais preponderante e assim deve ser, devemos inclusivamente tomar medidas radicais para defesa dos nosso interesses, os males devem ser cortados pela raiz e o bem deve ser posto em prática em diálogo com as outras entidades representativas das classes existentes na Festa. O Grupo de Évora sempre teve e terá parte activa na Associação. Além de ser um dos nossos objectivos é, mais do que isso, uma missão.


T - A internet é hoje uma realidade na vida das pessoas. Mas na Festa ainda parece um pouco afastada. Como vês o papel da net no futuro da Festa? E como é que o teu Grupo a utiliza actualmente?

BP - Sem dúvida que a internet é um veículo preponderante na nossa sociedade e em particular na tauromaquia, como não poderia deixar de ser. Permitam-me discordar da vossa afirmação quando dizem que está afastada da Festa, pelo contrário vejo cada vez mais sites de tauromaquia, cada vez mais blogs de temas taurinos, o número de tertúlias virtuais é crescente, as empresas, ganadarias, toureiros e grupos de forcados estão ao alcance de um “click” e chegam a aficionados em todo o mundo. As transmissões online de feiras, corridas e eventos taurinos é real e permite-nos acompanhar de perto outras realidades tauromáquicas que, sem o apoio da internet, não estariam ao nosso alcance, por ex. a Feira del Señor de los Milagros 09, em Lima, Peru, será integralmente transmitida online, para nós aficionados é uma noticia excelente porque permite-nos aceder a uma das mais importantes feiras da América taurina, sem sair do conforto do nosso lar.
O Grupo de Évora, tentando acompanhar estas evoluções do ponto de vista tecnológico criou um blog informativo, neste informa os interessados das nossas actuações, treinos, ideias e crónicas das mesmas. Estamos contentes com o resultado, já conseguimos atingir 100.000 visitantes.

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