domingo, 15 de novembro de 2009

Hugo David:"Penso em retirar-me do toureio"


Depois de na semana passada termos noticiado que o bandarilheiro Hugo David deixaria a quadrilha do rejoneador Leonardo Hernandez, o bandarilheiro vilaranquense anunciou-nos a sua retirada do toureio. O Toureio.com, foi ao encontro deste jovem bandarilheiro e saber quais os motivos e se era uma decisão irreversível.

De seguida fique com a conversa que tivemos com Hugo David:

Toureio.com (T.) - Para relembrar um pouco os aficionados, conta-nos quem é Hugo David e como entrou na festa dos touros?

Hugo David (H.D.) – Sou se Vila Franca, iniciei-me com 9 anos de idade na Escola de Toureio José Falcão. Desde muito cedo me senti atraído pela festa, principalmente pelo toiro que é um animal que me apaixona.

T - Entrou na festa brava pelo toureio a pé, mas depois ingressou na forcadagem…

H.D. - Fui amador até ao ano de 1996, onde fiz prova de novilheiro praticante no dia 26 de Junho na Praça da Touros da Azambuja, num mano-a-mano com o novilheiro Ricardo Pedro, em que foram lidados novilhos de Nuno Casquinha. Em 25 de Abril de 1998 prestei provas de bandarilheiro praticante em Salvaterra de Magos e no mesmo ano tomei a alternativa de bandarilheiro em Vila Franca de Xira, no dia 11 de Outubro. Já no ano de 2003, entrei para o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, onde permaneci até a fim do ano de 2005, voltando para bandarilheiro no ano de 2006.

T - Fizeste um interregno na carreira de bandarilheiro, passando pelos forcados e depois voltaste para a classe dos bandarilheiros, porquê?

H.D. – Fi-lo porque me sentia cansado de uma classe que está gasta, onde os companheiros são tudo menos unidos, onde prevalecem os interesses económicos, em vez da qualidade no que se refere à contratação dos bandarilheiros… Foram vários factores que me fizeram fazer uma pausa, mas como não queria desligar-me do mundo que mais amo, decidi ir para o Grupo de Forcados, que considero o melhor do mundo, pois tem como base em primeiro lugar formar homens e depois forcados, que na verdade também me fazia um pouco de falta, Posso afirmar que foram momentos únicos e de grande aprendizagem como homem, pois incutiram-me o sentido de responsabilidade, que me fazia alguma falta na altura, como forcado nunca consegui ser o que desejava, apenas o tentei com o maior dos prazeres dignificar a jaqueta do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira. Depois voltei para bandarilheiro, porque houve uma proposta que era no mínimo irrecusável economicamente e sinceramente sentia saudades de tourear.

T - Na sua opinião, a classe dos bandarilheiros estava gasta, se achava isso não hesitou em regressar?

H.D. – Não, porque pensei que algo tinha mudado e com o meu contributo poderia ajudar a mudar algo, mas enganei-me.

T- Neste seu regresso à classe dos bandarilheiro, por que quadrilhas passou?

H.D. – Passei pelas quadrilhas de Pedro Salvador, José Luis Gonçalves, Gaston Santos, Luis Vital “Procuna”, Neslon Limas, Manuel Dias Gomes, Sergio Vegas, Marcelo Mendes, Paulo Jorge Ferreira, António João Ferreira e também Leonardo Hernandez.

T. - De todos eles, qual foi aquele que mais o marcou e porquê?

H.D. – Sem duvida foi Leonardo Hernandez, porque conjuntamente com Pablo Hermoso e Diego Ventura, é figura máxima do rejoneo. Foi uma família que me recebeu sempre em sua casa de braços abertos, proporcionaram-me entrar em todas as feiras mais importantes do toureio e que me deram muita categoria.

T- Já que falamos em Hernandez, quadrilha que integrou nesta temporada 2009, pergunto-lhe que balanço faz à sua temporada 2009?

H.D. – Foi muito positiva, como referi anteriormente, toureamos nas feiras mais importantes do mundo. Não posso deixar e referir que fui para a quadrilha do Leonardo, porque foi o bandarilheiro João Pedro “Juca” ( que na minha opinião é o bandarilheiro mais completo) que me convidou. Convêm ainda referir que a minha saída da quadrilha de Leonardo não aconteceu porque tenha havido problemas entre nós, mas porque o irmão dele, o Nicolaz Hernandez, até agora seu moço de espadas, decidiu ser bandarilheiro. Logicamente alguém tinha de sair, como era o mais novo na quadrilha tocou-me a mim sair, mas com muita compreensão.

T - Perante esta saída da quadrilha do rejoneador, já tem alguma quadrilha para integrar em 2010?

H.D. – Não, sinceramente penso em retirar-me do toureio em definitivo, sinto-me sem ambição e para podermos servir alguém, temos de estar de corpo e alma, pois esta profissão consiste em servir e se não estivermos bem connosco próprios é impossível servirmos que quer que seja.

T - Normalmente quando se tem uma boa época, sente-se confiança para a próxima. Dado isso porque é que se sente sem ambição de continuar?

H.D.- Mais uma vez deparo-me com uma classe que se auto destrói a cada dia que passa e sinto que já não tem melhoras e para me sentir igual, não vale a pena.

T - Mas na sua opinião o que vai mal na classe dos bandarilheiros?

H.D. – Vou dar um par de exemplos: Os bandarilheiros não podem deixar que certos cavaleiros levem nas suas quadrilhas um bandarilheiro que seja serviçal, regular ou bom bandarilheiro, e outro que não vai ao touro, com isto não quero dizer que os que não vão, não merecem o meu respeito, pelo contrário, foram grandes toureiros e nalguns casos muito bons, mas com a sua continuidade no activo só prejudicam a classe, pois os seus companheiros irão ter um desgaste muito maior e ao mesmo tempo estão a tirar um posto de trabalho a um colega que no momento certamente é muito mais válido que ele neste momento. Por outro lado é inconcebível que andem cavaleiros e matadores a contratar pessoas que se vestem de toureiros porque só cobram 1/3 da tabela e que nem vestir-se de toureiros sabem e companheiros que mais uma vez são válidos ficam em casa. Outro caso que não se pode tolerar é cavaleiros com responsabilidade no Sindicato Nacional dos Toureiros, sindicato que certos bandarilheiros fazem questão de ameaçar as empresas quando estas não lhe paga o que é devido. Mas contratar bandarilheiros e não lhe pagar o estabelecido por eles mesmos, convêm referir que um cavaleiro ou matador contrata um bandarilheiro, bandarilheiro esse que a empresa nunca contratou par essa corrida, automaticamente, quem tem de pagar é o cavaleiro ou matado que o contratou, no caso de estes não pagarem os bandarilheiros sindicalizados podem denunciar a empresa ao sindicato, que nada tem a ver com o assunto e fica automaticamente vetada.

T - Mas Hugo, essa sua decisão de se retirar do toureio, não será uma decisão a quente, revoltado com estas situações todas?

H.D. – Não, é uma situação que ando a ponderar há muito tempo, sei que sou muito impulsivo, mas desta vez não foi o caso.

T. - Mas não poderá acontecer o que já sucedeu anteriormente, fazer uma pausa e depois voltar?

H.D. – Não será fácil, mas no toureio nunca se sabe.

T - Com esta resposta deixa em aberto um possível regresso. Mas pergunto se daqui a um mês recebesse uma proposta irrecusável, o que faria?

H.D. – Não aceitaria.

T - E seria possível um regresso aos forcados ou irá afastar-se um pouco da festa dos touros?

H.D. – Deste mundo jamais me irei desligar, não vivo sem ele, muito menos sem os amigos que fiz neste mudo dos touros. Devo tudo aquilo que sou à festa, por isso nunca me irei separar dela, pois estou e vou continuar a estar apaixonado pelo touro.

T.- Mas a hipótese da ida para forcadagem pode coloca-se?

H.D. – Sinceramente não sei, vou ter todo o defeso para reflectir e tudo tem o seu momento.

T. - Para terminar esta nossa conversa, deixo-lhe a oportunidade de deixar uma mensagem a todos os aficionados

H.D. – Aos aficionados peço-lhes para continuarem a ir às praças de touros para a nossa festa não terminar, pois sem eles não será possível haver a nossa festa. Considero todos os aficionados como parte integrante de um espectáculo que é de todos nós. Aos bandarilheiros digo-lhes que sejam mais honestos com eles próprios e façam a reforma que é preciso fazer já há alguns anos a esta parte para separar o trigo do joio.

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