segunda-feira, 16 de maio de 2011

Crónica Salvaterra - Corrida do Melão


António Ribeiro Telles montou cátedra em Salvaterra

Aos 48 anos e um dia, Mestre António de Jesus Palha Ribeiro Telles mostrou e demonstrou o que é tourear a cavalo.

Sem enganos, floreados, espalhafatos, piruetas e voltinhas, mordidelas e coisas mais que agora se tornaram moda nisto do toureio a cavalo. Parabéns por mais um aniversário e pela tarde de toiros que proporcionou a todos que presenciaram a lide ao 4º da ordem!

Em tarde de quente de Primavera, este Domingo 15 de Maio a praça de toiros de Salvaterra de Magos registou meia casa de público para assistir a uma corrida de toiros em que o cartel era composto por: António Ribeiro Telles, Ana Batista e Brito Paes, que lidavam seis toiros de D. José Luis Pereda, e Forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, Amadores do Redondo e Amadores de Salvaterra de Magos.

O curro de toiros foi muito desigual em tudo: idade, apresentação, tipo, peso e comportamento. Cá em Portugal temos de certeza melhores exemplares de raça brava para apresentar a quem paga o seu bilhete. As limpezas de currais vindas de Espanha começam a fartar. O primeiro toiro da corrida, um velho exemplar de 6 anos de idade que tinha sido sobrero já este ano em Alter do Chão e em mais algumas praças de Portugal e Espanha, foi exemplo de uma limpeza de currais quase vergonhosa que se tem vindo a verificar nos últimos anos nas nossas praças de toiros! Um caso a rever pelos empresários das nossas praças. O público começa a ficar farto de pagar lebre e ter que comer gato.

António Ribeiro Telles teve que se ver com esse animal velho, feio, escorrido de carnes, com poucas forças e com muito sentido, que acusou na balança 540kg muito duvidosos. Cravou três compridos aceitáveis, procurando tapar os defeitos do oponente, e quatro curtos ao som da música, com destaque para o terceiro. Lide sem grande história.

O quarto foi um cinquenho com cara e bom tipo, que pesou 565kg, nobre com bom som, investiu sempre ao cite, foi bravo. Mestre António mostrou o que é tourear a cavalo, recebeu o toiro na porta dos curros para o trazer embebido na montada e o deixar em sorte para cravar o primeiro comprido de praça a praça. O segundo comprido foi de livros, aguentando a vibrante investida do toiro e fazer levantar alguns dos lugares, o terceiro também foi de boa nota. O primeiro curto já foi cravado ao som do pasodoble e o que se viu a seguir foi tourear a cavalo com classicismo requintado, um temple só ao alcance de alguns predestinados. As sortes foram preparadas com toureria magistral, umas vezes com a mão direita detrás das costas, outras com tricórnio na mão, para depois cravar ao estribo de alto abaixo. As ovações brotaram dos tendidos espontaneamente. No último dos curtos a praça aplaudiu de pé uma lição de toureio rara nos dias que correm. Lide redonda de Mestre António. OLÉ!

Volta com chamada ao centro da praça para uma ovação de luxo dos aficionados de Salvaterra de pé.

Ai se fosse outro que eu cá sei, teria havido com certeza várias voltinhas à praça. E calhando alguma saidinha a ombros por uma portinha que se tornou muito pequenina para os grandes toureiros.

Ana Batista lidou em segundo lugar um toiro com 5 anos, de bom tipo e 540kg, escorrido de carnes e com falta de força dos quartos traseiros. Cortava terreno no momento de cravar o ferro mas cumpriu. Ana andou irregular nos compridos, falhando duas vezes o ferro. Nos curtos cravou os ferros algumas vezes com o cavalo atravessado e passando por vezes em falso – no quarto curto levou um violento toque na montada. Lide pouco conseguida.

O quinto foi um toiro negro salpicado, bragado, meano, algo gargantilho e luzeiro de 570kg. Manso encastado e a pedir contas a quem teve por diante. Ana Batista andou novamente irregular nos compridos e nos curtos sentiu algumas dificuldades para dar a volta ao toiro. Havendo alguns toque e passagens em falso. Houve toiro a mais e lide a menos!

O terceiro foi um quatrenho de 555kg, negro listão, feio de tipo e com pouca cara, manso e fugido para tábuas. Brito Paes andou irregular nos compridos, falhando duas vezes a colocação dos ferros, para nos curtos demonstrar bons pormenores de brega, cravando algumas vezes a cilhas passadas com alguns toques à mistura. A destacar o segundo curto, um bom ferro.

O sexto foi, segundo a balança da praça, o maior da corrida com 580kg, mas devia ter a taxa de IVA incluída. Este cinquenho, negro bragado e bisco de córnea foi um manso encastado que humilhou muito pouco durante toda a lide, mas acudiu sempre que solicitado com raça aos cites, cumpriu. Brito Paes cravou dois compridos de boa nota para nos curtos desenvolver uma lide agradável, mostrando novamente bons pormenores de brega. No momento de cravar algumas vezes andou aliviado. Rematou a lide com um palmito de boa nota.

No capítulo da forcadagem a tarde foi irregular e com os grupos a mostrarem poucas ajudas ao forcado da cara. Houve alguns toiros que tinham um primeiro derrote duro mas franco.

Pelo grupo do Aposento do Barrete Verde de Alcochete foram caras Diogo Timóteo, que resolveu sem problemas à primeira tentativa, e Marcelo, que só à terceira com ajudas muito carregadas conseguiu ficar na cara do toiro.

Pelos Amadores do Redondo foram caras Ricardo Silva, à primeira, e Ricardo Prior, que só à quarta se conseguiu fechar – nas duas primeiras tentativas nunca se fechou de pernas nem de braços, na terceira o grupo não ajudou e na quarta com ajudas carregadas conseguiu resolver a papeleta que tinha por diante. É verdade que o toiro tinha uma investida vibrante e forte, mas também é bem verdade que alguns ajudas deviam estar a pensar em outra coisa que não em ajudar a pegar o toiro. O forcado da cara mereceu o reconhecimento do público presente pela vontade que demonstrou nas quatro tentativas realizadas. Mas não se pega um toiro só com a vontade do forcado da cara. Todo o grupo é necessário.

Pelo grupo da terra foram caras João Pedro Damásio, à segunda numa boa pega (na primeira tentativa voltaram a faltar ajudas) e Joaquim Consulado também à segunda tentativa.

Havia um troféu em disputa para a melhor pega, que foi entregue ao forcado João Pedro Damásio do Grupo de Forcados de Salvaterra.

Ficará nas memória dos presentes uma lide que devia fazer escola entre alguns dos nossos cavaleiros. Ficou demonstrado que ainda há publico e aficionados que vibram e sabem ver uma lide a cavalo como mandam as regras de bom calção.

Dirigiu a corrida o Sr. Lourenço Luzio.

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