quinta-feira, 26 de março de 2009

Ó Gente da minha terra


Há dias, ao ouvir a fadista Mariza com o esplendor da sua voz, retive na memória o refrão do fado “Ó Gente da minha terra”:
“Ó gente da minha terra,Agora que eu percebi,Esta tristeza que trago,Foi de vós que a recebi.”
A nostalgia que estas estrofes carregam, com sentimento, fez-me pensar novamente no trágico acontecimento que se verificou com um Forcado e, infelizmente, sinto-me novamente obrigado a falar do Forcado Francisco Matias, que há tão pouco tempo partiu, mas que jamais o esquecerei.
No dia do seu funeral, dos mais comoventes que algum dia presenciei, pois em cada dez pessoas que saíam da igreja onde estava a ser velado o seu corpo, nove vinham com as lágrimas a correr pelo rosto, situação essa que explica bem o carinho que os presentes tinham pelo Francisco.
Naquele dia 19 de Março, compareceram para acompanhar o corpo do malogrado forcado muitos familiares, amigos, aficionados, elementos de diversos Grupos de forcados, antigos cabos, alguns (poucos) empresários tauromáquicos e por aqui se ficaram os representantes da tauromaquia.
Não vi ninguém em representação da IGAC, do Sindicato Nacional dos Toureiros Portugueses, da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, Cavaleiros, Bandarilheiros, Matadores de toiros e Ganaderos, enfim ninguém em representação da tauromaquia nacional além dos Forcados. É triste….mas é mesmo assim.
Realizaram-se neste último fim-de-semana duas corridas de toiros, concretamente uma em Estremoz e outra em Santarém.
Em Estremoz sei que os Grupos de Forcados presentes brindaram ao céu, cada um, uma das suas pegas. Assim também aconteceu em Santarém, tendo o cabo do GFA de Santarém efectuado a primeira pega e realizado no brinde o simbólico gesto de erguer o barrete ao céu, da mesma forma como o fez o GFA de Alcochete na pega do último toiro da tarde.
Em ambos os casos, no início das cortesias efectuou-se um minuto de silêncio em memória de Martinho da Pina e do Francisco Matias.
Verifiquei em Santarém, e sei também que o mesmo se verificou em Estremoz, nenhum cavaleiro actuante brindou ao céu qualquer lide.
Os Forcados, intitulados como os últimos românticos da festa, sempre que se verificam acontecimentos trágicos como os recentes, não se esquecem de, numa das suas pegas erguer o seu barrete ao céu em sentido de homenagem aos que partiram.
Os Forcados estão sempre dispostos a, quando assim são convidados, actuar graciosamente por causas nobres, como as corridas de beneficência, em despedidas ou corridas de homenagem de profissionais do toureio, e por ai em diante.
Sinto tristeza por ver que os Profissionais da tauromaquia, aqueles que devem defender a festa, não tiveram qualquer tipo de atitude que se impunha, pois lembrar os que já partiram é obrigação dos que cá ficam e nada se viu por parte destes.
O Francisco Matias era Forcado e veio a falecer em consequência da sua maneira de ser aficionado, de pegar toiros. Não foi um Forcado que morreu na estrada, ou por doença, morreu quando se preparava, num tentadero, para a temporada que agora começa.
Fico triste ao verificar que se tomam estas atitudes, quando os Forcados, quer queiram quer não queiram, são a grande força da tauromaquia nacional e são os únicos amadores da nossa festa. Não há espectáculo que se realize em terras lusas, que sentados nas bancadas não se encontrem antigos ou actuais Forcados, muitos acompanhas das suas famílias e amigos.
Sei que não é politicamente correcto estar a ter este tipo de afirmações, mas pergunto estou a dizer alguma mentira ?Não ficaria bem aos profissionais da festa ter outro tipo de respeito por aqueles que se colocam de frente com os toiros a troco de nada ?
Para bem da nossa festa de toiros, é bom que os que tem responsabilidade possam perceber que a figura do Forcado deve ser respeitada, pois é isso que os Forcados fazem para com os profissionais da tauromaquia.
*José Fernando Potier é licenciado em Economia e trabalha no ramo dos seguros como Director-geral da Disegur, uma mediadora de seguros. Foi forcado do Grupo de Coruche e do Grupo de Montemor e é o actual Presidente da Direcção da Associação Nacional de Grupos de Forcados.jpotier@tauromania.pt

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