quinta-feira, 1 de abril de 2010

Entrevista a António Manuel Cardoso (Néne)


A Tauromania esteve à conversa com o empresário António Manuel Cardoso (Néne), empresário taurino, que este ano acrescentou às praças de Alcochete, Salvaterra, Almeirim e Reguengos de Monsaraz a a aficionada e concorrida praça da Moita do Ribatejo.

Numa entrevista de fundo, o empresário, e ex-forcado, fala sem rodeios da concorrência que o seu negócio está a ser alvo, dos toiros espanhois, anunciando um curro de Conde de la Corte para a Moita, em Maio, e de muitos outros assuntos.


Tauromania (T) - Com a gestão de 5 importantes Praças o António Manuel Cardoso continua a ser um empresário de grande destaque. Aliás, dentro dos empresários mais destacados é aquele que há mais anos anda nisto. Como é que o Néné se vê a si próprio quanto à responsabilidade que tem na Festa? Continua motivado?

António Manuel Cardo (AMC) - Motivado estou, senão não concorria a mais uma praça para juntar às 4 que já tinha o ano passado. Embora esteja um bocadinho séptico em relação, digamos, a pessoas que possam ir ou não aos espectáculos. Há aqui uma discrepância entre um cartel que uma praça apresenta e outro mesmo cartel apresentado noutra mesma praça. Isto pela disparidade de bilhetes que existem entre o poder de realizar uns bilhetes de baixo custo e noutra não conseguir realizar os mesmos preços baixos. Não sei até que ponto é que o publico vai compreender essa situação. O que é facto é que não se pode só contar com 3/ 4 praças que possam pôr cartéis com preços baratos, à imagem de praças pequenas com os mesmos carteis mas com bilhetes mais caros. E está-se a tornar, no meio disto tudo, um espectáculo banal, que não o é, nem deve ser, inclusivamente está-se a tirar categoria ao espectáculo em si. Qualquer compra que um consumidor faz por preço barato é porque não tem assim tanto valor como isso. E a concorrência pode ser um bocadinho desleal, é esse o termo, estamos sempre sujeitos a isso, em qualquer negócio, e também o poder de compra não é nenhum.


T - Durante muitos anos a sua empresa conseguiu associar às Corridas que organizava Marcas e Patrocinadores. Continua a consegui-lo?
De quem acha que é a responsabilidade quando se vê o fenómeno do afastamento das Marcas?

AMC - Ainda vou conseguindo alguma coisa, mas cada vez está muito, muito, mais difícil.
Eu penso que as marcas continuam a ter retorno desses investimentos, mesmo falando em crise mundial, ainda vou conseguindo associar-me a certas e determinadas marcas, mas isso tem que ser um trabalho conjunto e não só dos empresários, de toda a Festa activa que tem que mostrar às empresas que realmente a Festa dos Toiros é uma festa única em Portugal, um bocado da raiz portuguesa, ou se preferirem, “latino-portuguesa”, falando de Portugal, que inclusivamente temos de lutar contra aquelas “pseudo-pessoas”, meia dúzia de “gatos”, que andam pelo Mundo, pagos para tal, para defender aquilo que por nós da Festa não é defensável, como todos nós sabemos. Estamos a falar de um animal bravo, bravo de uma raça completamente diferente, com características próprias, criado para isto. Se calhar não se preocupam com os cãezinhos e gatinhos que andam por ai à solta, e entenderam que deviam atacar esta parte que é a parte dos toiros e que, como eu costumo dizer, estão a dar ainda mais publicidade à Festa dos Toiros.


T - Como é que analisa os jovens portugueses que neste momento se perfilam para poder ser figuras. Acha que lá chegarão? Existem alguns que possa vir a ser realmente “taquillero” ou o segredo para meter gente terá de continuar a ser colocar o toiro-toiro e contar com os Forcados?

AMC -
O meu “segredo” para meter gente tem sido sempre apostar no toiro-toiro, mas, como em todas as épocas, existem os bons e os maus, os que ficam pelo caminho e os que conseguem vencer. Mas estou a ver esta situação uma bocadinho morna a nível de novas figuras. O grande mal que existe em Portugal, e até inclusivamente em Espanha, é o facto de existirem uma ou duas figuras. E em Portugal quase que as temos que ir buscar a Espanha, e estamos a falar do toureio a cavalo. O toureio a pé em Portugal está como nós sabemos… E em Espanha a mesma coisa. Quer dizer, existe o José Tomás e a cavalo o Pablo e o Diego Ventura e as feiras vão andando um bocado à volta destas figuras. Também por isso é que no ano passado se deixaram de fazer muitas corridas em Espanha, e por isso existem muitos toiros de sobra que está a ser uma boa compra, e falo por mim claro, de imediato, porque inclusivamente o inverno este ano foi mau e não existem toiros em Portugal em condições de serem lidáveis nas minhas praças, na base do toiro-toiro.
A nível de miudagem nova não estou a ver que, assim de repente, nasça o tal toureiro “taquillero” como houve noutros tempos, desde o Mestre Batista que era anunciado para esta a feira no Campo Pequeno e assim que a corrida acabava era anunciado na outra 5ª feira seguinte. Eu acho que ele foi óptimo, até fui o ultimo apoderado dele, mas não sei se era bom ou se era mau, o que é facto é que metia gente nas praças. A seguir vem o Moura e etc. E a partir daí é que caímos num abismo um bocadinho grande e, não sei, talvez os toureiros actuais andem comodamente a divertirem-se e não a arranjarem, digamos, “sitio” e triunfos para serem contratados para outras praças e corridas.


T - O António Manuel Cardoso também vai trazer toiros espanhóis às suas Corridas. Pode assegurar que o critério preço, que com certeza pesou na sua decisão, não vale mais que o critério de trazer às suas corridas o toiro-toiro, como foi sempre apanágio da Toiros & Tauromaquia? Desculpe a pergunta mas é que em muitas das ultimas corridas em que vieram toiros de Espanha, mesmo em Praças importantes (Miuras em Vila Franca e em Moura, Conde de la Corte em Lisboa, Guardiolas em Santarém, etc. esses curros vinham mal apresentados e nada acrescentavam quando comparados com as ganadarias portuguesas).

AMC - Isso não vai acontecer de certeza, eu vou assistir ao embargo dos toiros e se achar que algum não está nas condições que eu julgue necessária será substituído por outro. Para esta corrida já lá fui duas vezes, até porque esta corrida era para ser só de uma Ganadaria, e por não terem qualidade, devido às cheias, ao Inverno rigoroso, teve que ser transformada numa corrida mista/ repartida entre duas Ganadarias. Bravura penso que cada uma tem no seu encaste, agora de apresentação estão dignos de qualquer cartel da empresa Toiros & Tauromaquia.

(n.d.r. esta entrevista foi feita na véspera da corrida do passado sábado em Alcochete)


T - Na última Revista Novo Burladero é dito pelo Director João Queiroz que um dos motivos de não haver mais corridas mistas e apeadas em Portugal é porque a maioria dos empresários foi forcado. O António Manuel Cardoso que até organiza muitas corridas mistas revê-se nesta opinião? Quando organiza corridas mistas ou apeadas é-lhe compensador financeiramente?

AMC -
Não, quer dizer, isso é do ciclo dos toureiros “taquilleros”. Eu cheguei a dar corridas mistas em Portugal quando existia como grande figura do toureio em Espanha o Vitor Mendes, e tinha ali uma dupla, em que jogava com o Vitor Mendes e com o Rui Bento Vasquez e que realmente foram corridas agradáveis de realizar, na parte económica, também e não só na parte do espectáculo. Depois apareceu outra dupla, ainda como novilheiros, que eram o Procuna e o Velasquez, que ainda se conseguiu rentabilizar uma corrida mista em termos económicos. A partir daí nunca mais se conseguiu rentabilizar uma corrida mista em Portugal. E levei grandes desgostos económicos, inclusivamente em Vila Franca, com corridas não só mistas mas também só de matadores, e eu como forcado também andei a pé… alguém que me critique e eu convido a montar uma dessas corridas comigo para verem que não há qualidade/ preço para a quantidade de aficionados portugueses que existem. Mas se nós formos a Olivença no principio da temporada, vimos lá uma data de portugueses, não sei se vão lá só para falar o “portucalês” ou o “espanholês”, que deve ser um gosto enorme, eles irem para lá, e nós aqui damos, e eu lembro-me de um cartel de Outubro em Vila Franca que resultou numa corrida espectacular, com toiros de Ernesto Castro, para César Jimenez (o líder do escalafón na altura), o Miguel Ángel Perera e o José Luis Gonçalves e foi uma corrida da qual eu ouvi dizer em Vila Franca que foi “a” corrida do ano, “a” corrida do século, e na reabertura da temporada seguinte, em Abril, eu repetir o cartel (apenas tirei o Jimenez e coloquei o Eduardo Gallo) e ainda tive menos gente que na corrida de Outubro… e foram, por sinal, duas belas corridas, do ponto de vista do toureio.
Por tal, e por não estar para perder imensos Euros, não estou para isso.


T - António Manuel Cardoso foi um grande Forcado tendo pegado em Grupos de Prestigio e tendo sido Cabo do Grupo de Alcochete durante muitos anos. Hoje, sendo empresário, como é que gere o compromisso entre pôr nas suas corridas os melhores Grupos e a tentação de pôr Grupos inferiores mas que levam N autocarros de gente às corridas onde pegam?

AMC -
Eu nunca funcionei assim! Já em mil novecentos e não sei quanto, há muitos anos atrás, a Toiro & Tauromaquia tinha também como sócio o Sr. Rogério Amado, em Vila Franca, convidaram-me para por lá a pegar numa novilhada um determinado Grupo e que nos pagavam 600 e tal contos (ainda em contos…), algo que foi recusado, obviamente. Assim como nunca foi apanágio como Cabo, onde senti o difícil que é arranjar corridas. Portanto, eu tento respeitar os forcados da terra, desde que tenham a mínima dignidade, e a partir dai existem tabelas, leis, uma Associação de Forcados, e tenta-se trazer os melhores Grupos, até porque custa-me o mesmo trazer Grupos do primeiro plano, como do segundo ou do terceiro. Portanto tento manter, digamos, o nível dos toiros adquiridos pela empresa com os melhores Grupos que existem, como provas dadas, evidentemente, na arena.
Mas, e repetindo, respeitando sempre os Forcados da terra, para não criar “politiquices” com as pessoas da terra.


T - O António Manuel Cardoso faz parte da APET. Como é que vê esta Associação empresarial e como vê o papel das Associações na Defesa e Promoção da Festa?

AMC -
Tanto a APET como as outras todas, deviam ter um interesse na Festa e única e simplesmente pela Festa. E não em casos individuais, cada um a lutar por si, ou cada membro individual de cada associação a lutar pelos seus interesses pessoais. Quando tiverem reunidas todas as condições ideais para que todos em conjunto lutemos, sem interesses pessoais, pela Festa em Portugal, eu penso que a Festa vai ter um plano muito elevado e será mais respeitada, tendo mais actividade, mais interesse, por exemplo, das televisões, dos sponcers, etc., vai ser um mercado intensivo e que pode ser lucrativo para todos.


T _ Organizar uma Corrida é uma responsabilidade grande a todos os níveis, incluindo o financeiro. Não acha que as empresas que organizam espectáculos taurinos deviam ser obrigadas a ter um alvará e talvez até uma garantia bancária? Esta solução não acabava com esta situação em que qualquer um pode organizar uma corrida de toiros?

AMC -
Isso é subjectivo. Nós estamos presentemente num mercado livre, dentro da Comunidade Europeia. O caminho que eu penso ser o certo será o da situação de “tens que ter provas dadas” para organizar o quer que seja. Passa por, e em Espanha é assim, para se concorrer a uma praça de primeira ou de segunda, tens que “dar provas” nas desmontáveis, nas de terceiro plano, e aqui em Portugal não se “dá provas”. Qualquer Alvará serve para se organizar corridas, e essa pessoa consegue vir para cá, divertir-se e ao mesmo tempo estragar o negócio de quem cá andou, anda e quer andar, torna-se complicado...


T - Que importância dá ao papel da internet na divulgação actual da Festa?

AMC -
Novas tecnologias! Eu penso que a “malta nova”, e os velhos também, embora eu seja pouco consultor dessa matéria, consultam muito a Internet. Julgo ser positivo, mais uma maneira de divulgação do espectáculo, e a “malta nova” agarra-se muito a isso, o que julgo ser proveitoso.

T - Algumas novidades para esta Temporada?

AMC - Além dos toiros La Plata para Salvaterra, um curro de Vinhas para Salvaterra em Maio e um curro de toiros Conde de la Corte para o 23 de Maio, na Moita.

1 comentário:

  1. Só falta, a Praça de Touros da Póvoa de Varzim vem dar vida à cidade da Póvoa de Varzim, o povo do Norte vai te agradecer.

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