A ideia surgiu há cerca de dez anos e meio, a associação foi fundada em Setembro de 2002.
E, como surgiu esta ideia/projecto?
Surgiu pela consciencialização da existência de um grave problema na sociedade portuguesa, o das crianças em risco, da necessidade de respostas de qualidade para esse problema, nomeadamente na área da grande Lisboa, e pela motivação pessoal, transversal às pessoas que estiveram na génese do projecto, e que é comum a todas as que ao mesmo se vieram posteriormente a juntar, no sentido de tentar contribuir, na medida do possível, para uma melhor sociedade e um melhor futuro para as nossas crianças e, portanto, para todos nós.
Porquê a Abrigo?
Porque entendemos que, se existir uma intervenção de qualidade, e atempada, querendo com isto dizer, precoce, nas crianças em risco, é possível delinear projectos de vida consistentes, de forma a evitar institucionalizações demasiado prolongadas, ou permanentes. Tal apenas é possível através de centros de acolhimento que tenham condições, nas mais diversas vertentes, não apenas de estrutura física, mas principalmente de corpo técnico e de modelo de intervenção, que permitam o mais célere possível delinear desses projectos de vida, com vista a um rápido reencaminhamento das crianças de regresso às sua famílias biológicas ou, quando isso não é possível, o encaminhamento para a adopção. A Abrigo segue o modelo Emergência Infantil, nascido do seio do Refúgio Aboim Ascensão, em Faro, pela mão do Dr. Luís Villas-Boas, modelo de sucesso e com resultados inquestionáveis, no sentido de acolher crianças do nascimento até aos seis anos de idade, com vista a essa intervenção precoce.
Exercendo profissionalmente a advocacia, porque abraçou esta causa?
Pela motivação de que falei antes. A tentativa de acrescentar algo de bom e positivo à sociedade em que vivemos. Se queremos um país desenvolvido, se pretendemos um futuro melhor para o nosso país, para o Mundo em que vivemos, com toda a certeza, é pelas crianças que teremos que começar.
Este ano o festival tem um cartel de peso, que critérios pautaram a sua escolha?
Penso que todos os anos, e já vamos no IV Festival, o cartel tem sido de enorme qualidade.
A escolha não é minha, nem de ninguém da associação. A escolha do cartel parte do grupo de pessoas que desde há quatro anos se disponibilizaram para montar, e oferecer à Abrigo, estes festivais, no sentido de, dessa forma, contribuírem para a causa da Abrigo e das crianças que nos propomos apoiar.
Posso, no entanto, dizer que o critério tem sido, acima de tudo, em primeiro lugar, o da qualidade, da seriedade e do rigor, valores pelos quais temos sempre pautado a nossa actuação e orientado os projectos da associação. Tem sempre existido a preocupação de, sendo uma acção de solidariedade, brindar quem se disponibiliza para ajudar a Abrigo, com bons espectáculos, acima de tudo bem organizados e sérios. Talvez seja por isso que o Festival da Abrigo já vai para sua quarta edição e é considerado por muitos como o mais importante festival da época taurina portuguesa, sendo já também um marco de início de temporada, com muitos artistas manifestando a sua disponibilidade para integrar o cartel.
O Festival vai realizar-se em Alcochete, há algum motivo especial para a escolha deste tauródromo?
Inicialmente pensámos na praça de touros do Montijo, pela única razão de que a Abrigo nasceu e é sedeada no Montijo. No entanto, a empresa da praça do Montijo, após as primeiras conversas, disponibilizou a praça, tendo depois voltado com a palavra atrás.
Falámos com a empresa de Alcochete, que de imediato abraçou o projecto e, pelo sucesso do primeiro festival, ficámos em Alcochete e só de lá sairemos se não nos quiserem mais, o que penso, não irá acontecer, uma vez que se criaram laços importantes, mutuamente, e tem sido sempre um sucesso, em que todas beneficiam, a Abrigo, a praça de Alcochete, que acolhe um evento já importante na temporada, e a vila de Alcochete que se vê associada não apenas ao Festival em si, mas também aos projectos Abrigo.
Em traços gerais quais são as expectativas da organização relativamente ao espectáculo deste ano?
As mais elevadas, como sempre. Esperamos que seja um óptimo espectáculo, com muito público, com os artistas a gosto, como já vem sendo hábito, em suma, uma excelente tarde de toiros, com muita alegria, para mais pela causa que se está a apoiar.
Quem são os organizadores deste espectáculo?
O António Manuel (Tó Manel) da Casa das Enguias, o empresário taurino António Manuel Cardoso (Nené) e o matador de toiros Victor Mendes. São eles a alma deste projecto, desde o inicio, sendo que aproveito para, uma vez mais, por esta via, voltar a agradecer toda a disponibilidade e empenho sempre colocados na organização do festival, que permite que venha a ser um sucesso enorme desde o primeiro.
Da experiência de anos anteriores resulta uma expectativa positiva também quanto à afluência de público?
Temos sempre essa expectativa, que tem vindo a cumprir-se, de uma excelente moldura humana, a que sempre apelamos, não apenas pelos fundos que daí possam derivar para a associação, mas também porque entendemos que é a melhor forma de retribuirmos os artistas, e todos os demais intervenientes, pela generosidade do seu contributo para a causa.
Têm sido significativos os anteriores contributos à Abrigo, resultantes da realização deste festival?
Todos os contributos que são dados à ABRIGO são para nós muito importantes, não apenas pelo seu significado financeiro, mas porque funcionam para nós sempre como uma motivação extra, um incentivo, a continuarmos nesta senda tão importante da luta pelos direitos das crianças, e mais, pelo direito de cada criança a uma família e um melhor futuro.
Que quantias reverterão este ano para a instituição Abraço?
È sempre difícil responder a essa pergunta, uma vez que não beneficiamos, nesta altura, de qualquer subsídio público, ou verba certa, dependemos de contributos de mecenato e de eventos desta ou de outra natureza, que nos permita angariar verbas para os nossos projectos, mas posso dizer-lhe que, por exemplo, acabámos o ano de 2010 com uma surpresa que nos rendeu um donativo de € 20.000, fomos escolhidos pelos funcionários da BRISA para beneficiarmos de um donativo, constituído por contributos dos funcionários e da própria empresa, que todos os anos é atribuído a uma instituição. Felizmente o último calhou-nos a nós.
Para além da inegável relevância e benefício social deste tipo de festivais, como vê a sua pertinência para a tauromaquia em si?
Penso que são importantes no sentido em que contribuem para melhorar a imagem da tauromaquia e de todas as pessoas que a rodeiam que, como quem se movimenta na tauromaquia, nem que seja apenas como espectador, sabe, são pessoas com um enorme coração e que se orientam por valores importantes e nobres sentimentos, sempre disponíveis para ajudar quem mais precisa. Quem não entende a tauromaquia tende a criticar e rotular quem está envolvido com qualificações perfeitamente despropositadas e descabidas, mas tal, na minha opinião, deriva apenas de puro desconhecimento. Estes festivais são uma forma de demonstrar, apesar de sabermos que tal não necessita de demonstrações, que quem está na tauromaquia é muito mais solidário que aqueles que apregoam contra e que, muitas vezes, não olham sequer para o lado para ver se alguém precisa de uma mão amiga.
Enquanto advogado, qual a sua opinião sobre a vigente legislação taurina nacional?
Não estou habilitado de conhecimento suficiente sobre esta legislação específica, pelo que me abstenho de pronunciar em termos técnicos.
Também na sua qualidade de advogado/aficionado que iniciativas legislativas ou jurídicas seriam importantes adoptar na actualidade?
Penso que seria importante, à semelhança do movimento extraordinário que se tem gerado à volta da petição pública liderada pelo Dr. Francisco Moita Flores, tentar algo semelhante no sentido de se impulsionar uma reforma legal que levasse a que passassem e ser as Câmaras Municipais, à luz da interpretação do sentir das gentes de cada município, a decidir sobre a autorização, ou não, da realização da corrida integral. Seria positivo para a Festa, para os artistas e todos os envolvidos no sector, que movimenta muitas pessoas, logo postos de trabalho, e gera riqueza para o país. Acima de tudo, tenho a certeza, seria importante para todos os aficionados que se deslocam regularmente a Espanha, por não ser possível no nosso país assistir à corrida integral. Mas esta questão é mais política, antes de ser jurídica.
Da sua experiência neste projecto nota uma boa vontade e espírito altruísta por parte dos artistas e intervenientes?
Como já atrás referi, nota imenso esse espírito altruísta e uma enorme boa vontade em colaborar, por parte de todos os intervenientes.
Que expectativas desenha para a temporada taurina 2011?
As melhores. Penso que, na sequência da última temporada, vai ser extremamente competitiva e com elevados padrões de exigência e qualidade.
Com algumas excepções, de uma forma geral, os espectáculos têm sido agradáveis e a contento do público. O incremento do número de corridas não tem implicado a diminuição da qualidade, sendo disso prova o aumento substancial de espectadores nos últimos anos, o que é extremamente positivo para a Festa.
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